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Estrago feito

Sinal de Lula de que não cortará gastos libera demanda de aliados e do Congresso

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Fernando Haddad, ministro da Fazenda - Gabriela Biló/Folhapress

Depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarar seu descompromisso com a meta de zerar o déficit primário federal em 2024, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não se saiu melhor.

Em entrevista, abusou de condescendência com os profissionais da imprensa, o que é sempre um mau sinal. Irritado, não respondeu perguntas óbvias de jornalistas a respeito de qual é, afinal, o plano do governo, restando claro que não conta com o apoio do presidente na tarefa de equilibrar as contas.

A sinalização é ruim não porque já houvesse ceticismo no setor privado —expectativas de analistas apontavam para um resultado negativo até maior, de R$ 89 bilhões, equivalente a cerca de 0,8% do PIB.

Mas, com o sinal verde de Lula, que voltou à carga nesta terça (31) para dizer que não cortará gastos, todas as demandas políticas, do Planalto e do Congresso, poderão agora ser incluídas no Orçamento.

Sem a liderança do Executivo, não será possível conter a sanha por emendas parlamentares, agora impositivas, que deixarão de ser contingenciadas, entre outros itens. O governo discute o tamanho da revisão da meta, que pode apontar déficit de pelo menos 0,5% do PIB no ano que vem. Com isso, as projeções para 2024 devem piorar.

O mandatário age para aplacar pressões de seu núcleo político, que deseja manter obras e, com isso, evitar o já esperado desaquecimento da economia. A popularidade presidencial também dá sinais de queda, o que tende a aumentar bastante a impaciência.

Desde sempre já estava claro que todo o edifício do novo arcabouço fiscal dependia de mais receitas, mas ao menos Haddad prometia algum controle de gastos. Se a agenda já era difícil no Congresso, que insiste em aprovar despesas, fica quase impossível antever qualquer disposição mais cautelosa.

Será um erro grave manter esse rumo. As consequências para a economia serão danosas, na forma de juros mais altos, como já se observa, além de desvalorização do real e aumento da inflação. Com gastos frouxos, a política monetária terá que ser mais apertada.

A cantilena de que há interesses escusos por trás da demanda de austeridade não se sustenta. Longe de ganância do mercado, é a mecânica inescapável da indisciplina fiscal que impõe custos para a sociedade. Eis o círculo vicioso que aprisiona o país na armadilha do baixo crescimento.

Não ajuda, além disso, que os juros internacionais estejam em alta, o que recomenda cuidado redobrado. Corre-se o risco, agora cada vez mais palpável, de que se colha o oposto do que se busca —degradação econômica e mazelas sociais. O filme poderá se repetir, sempre com final infeliz.

editoriais@grupofolha.com.br

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