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Samy Pinto

Há equivalência moral entre Israel e Hamas?

Equiparar a defesa ao ataque terrorista é exercício fruto de cegueira ideológica

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Samy Pinto

Rabino (Rabinato de Israel), é doutor em letras orientais (USP) e especialista em educação (Bar-Ilan University - Israel) e economia (UFRJ)

Em resposta ao artigo de Salem Nasser ("Guerra, terror e ultraje seletivo", 10/10), publicado nesta Folha, trago aqui, com outro título, uma diferente reflexão sobre o tema central: existe equivalência moral entre o que fez o Hamas e as respostas do Estado de Israel?

No último 7 de outubro, terroristas invadiram Israel e mataram deliberadamente crianças, mulheres e idosos das formas mais variadas possíveis. Decapitaram bebês, queimaram pessoas dormindo em suas camas e atiraram contra civis de forma indiscriminada, além de sequestrarem vários deles, incluindo crianças, retirando-as dos colos dos pais. Tudo de forma cruel e brutal.

Ao lado de corpos, soldado israelense se protege atrás de carro perto da fronteira com Gaza após ataques do dia 7 de outubro - Oren Ziv - 7.out.23/AFP - AFP - AFP

Foram cenas amplamente divulgadas pelos canais de internet, principalmente dos países árabes.

Qualquer centro acadêmico razoável de filosofia, direito, teologia, psicologia e bom senso faz a distinção entre o Hamas e Israel.

O povo judeu foi vítima do Holocausto e de outros genocídios em sua história, e nem por isso usou essas trágicas experiências para se vingar e matar civis pertencentes a países que perpetraram tais atrocidades.

Nenhum judeu torturou, sequestrou ou decapitou algum civil alemão após a Segunda Guerra Mundial. O que o professor propõe em seu artigo é justificar as ações do Hamas, atribuindo-as ao sufoco social e econômico no qual vivem os palestinos na Faixa de Gaza, causado pelo próprio grupo, o que carece de qualquer fundamento razoável.

Somos capazes de distinguir entre uma morte acidental resultante de um desastre de carro e um assassinato intencional. Da mesma forma, devemos diferenciar a reação das forças de segurança de Israel —que se defende buscando alvos terroristas, ainda que sejam atingidos civis de forma não intencional— do brutal massacre cometido pelo Hamas no último dia 7 de outubro. Essa falta de entendimento reflete uma moral obtusa.

Posicionamentos como esse ajudam a aumentar ainda mais a intolerância e as fileiras dos terroristas que buscam "igualdade moral" de suas condutas. Já é do conhecimento de todos que a maioria dos países da União Europeia e dos regimes democráticos do continente americano deram total legitimidade à autodefesa de Israel, evitando-se assim o desmoronamento da justiça.

Mesmo o argumento de que Israel reage de forma desproporcional é inválido; não há equivalência moral entre a ação do seu exército e o ataque realizado pelo Hamas. O que se proporia então para este caso, já que Israel jamais iria sequestrar, assassinar, estuprar, queimar ou decapitar bebês palestinos para haver a tal equivalência?

Como é possível deixar de reconhecer o Hamas como organização terrorista, que planeja de forma intencional a eliminação de Israel e de judeus, sejam eles bebês, crianças, mulheres ou idosos? Mais do que isso! Assassinando de forma humilhante e ainda festejando a matança e divulgando nas redes sociais das vítimas. É a pura maldade sem justificativa.

Hitler procurou justificativas para o Holocausto; Stálin, para o genocídio. O Hamas procura para o terrorismo.

Equiparar a defesa de Israel ao ataque do Hamas é um exercício fruto de cegueira ideológica. Cabe ao leitor perguntar: por que ainda temos pessoas ou órgãos com receio de chamar o mal pelo seu nome?

Aproveito e parabenizo a Folha por definir o Hamas como organização terrorista.

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