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O que a Folha pensa violência

Rio em chamas

Caos é prova da falência da política de segurança das autoridades fluminenses

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Ônibus em chamas na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ) - Reproduçao Globo News

Ao menos 35 ônibus, um trem e veículos de passeio foram incendiados na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro na segunda (23), resultando em um dos dias mais caóticos na história do estado.

Seja pela ampla extensão geográfica dos ataques ou pelo prejuízo causado às empresas, na casa dos R$ 38 milhões, além do dano inestimável à população mais pobre, os atos de terror marcam, a fogo, o fracasso da política de combate ao crime organizado fluminense.

O caos na capital ocorreu em resposta à morte de um dos líderes da maior milícia do estado, Matheus da Silva Rezende, o Faustão, atingido por tiros durante confronto entre criminosos e agentes policiais na comunidade Três Pontes. Considerado o número dois da organização criminosa, Faustão era sobrinho do atual líder, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho.

Apesar do episódio sem precedentes, milícias já dominam parcela do estado a partir de forte crescimento na última década.

Em 16 anos, estes grupos armados, e com profunda relação com o Estado, cresceram 387% em áreas sob seu domínio, totalizando 256,3 km², segundo dados do Instituto Fogo Cruzado com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense. São 64 Copacabanas nas mãos dos milicianos.

O investimento em combate primordialmente ostensivo a esses grupos ignora sua complexidade e penetração estatal, como ficou demonstrado nesta semana.

Diante de conflitos territoriais violentos do tráfico, em especial entre 2016 e 2018, milícias aproveitaram a oportunidade para angariar espaço no Rio de Janeiro, com expansão territorial, inserção nas forças políticas e armadas do estado e penetração no mercado ilegal de drogas, hoje operado muitas vezes em parceria com traficantes.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), parece resumir a questão a uma política de caça a bandidos, como se o gelo do crescimento das milícias pudesse ser facilmente enxugado sem o desmantelamento, com monitoramento preventivo, do controle territorial destas facções.

Igualmente é ingênuo supor que apenas o plano federal de envio de homens, viaturas e blindados da Força Nacional —sem metas claras— vá gerar resultados diferentes em relação ao passado.

Hoje, o estado fluminense é marcado, de um lado, pelo investimento em enfrentamento armado seletivo, em vez de inteligência. De outro, pela tolerância com o crescimento das milícias. Oferecer soluções fáceis para a questão não é somente ineficiente, mas leviano.

Para que funcione a política de segurança pública no Rio de Janeiro, ela primeiro precisa existir.

editoriais@grupofolha.com.br

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