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Respiro argentino

Segundo turno oferece chance para pesar projetos contra severa crise econômica

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Javier Milei e Sergio Massa, candidatos à presidência da Argentina - Luis Robayo e Juan Mabromata/AFP

O segundo turno da eleição presidencial na Argentina oferece um respiro ao país, até 19 de novembro, para reavaliação das possíveis consequências de propostas dos dois candidatos remanescentes na disputa, que ocorre em meio a grave crise econômica de difícil solução.

Passaram para a nova fase o peronista e ministro da Economia, Sergio Massa, 51, com 36,7% dos votos, e o ultraliberal Javier Milei, 53, que teve frustrada a expectativa de vitória no primeiro turno. Ele acabou em segundo lugar, com 30%.

Além de contradizer a maioria das pesquisas, a liderança de Massa no domingo (22) surpreendeu pelo fato de a economia argentina ter se deteriorado rapidamente desde que ele se tornou ministro, em agosto de 2022. De lá para cá, a inflação dobrou, atingindo 138,3% no acumulado em 12 meses.

Massa opera como virtual mandatário argentino desde abril, quando o presidente Alberto Fernández, com a popularidade em ruínas, desistiu da reeleição.

Além de desfrutar de boa relação com empresários, sindicatos e o Fundo Monetário Internacional, que vem proporcionando US$ 44 bilhões em socorro à Argentina, o ministro é tido como liberal entre os peronistas mais radicais.

Para atacar Milei na reta final, no entanto, Massa o acusou de planejar o desmonte de uma miríade de subsídios criados pelos peronistas.

Na raiz da atual crise, as subvenções para a energia representaram 82% do déficit fiscal argentino no ano passado, levando o Estado a arcar com 79% do custo da luz e 71% do gás de todos aqueles conectados às redes de fornecimento.

Sem mexer nisso, um eventual governo Massa perpetuaria o populismo e tenderia ao fracasso. O mais provável é que enfrente a questão com gradualismo, o que traz riscos, tanto econômicos como em termos de popularidade.

Sua arrancada no primeiro turno, contudo, parece ter sido impulsionada pelo temor de muitos eleitores, sobretudo os mais velhos e no establishment, em relação às propostas exóticas de Milei.

Entre outros extremismos, ele promete dolarizar uma economia que não tem dólares e fechar um Banco Central que é hoje a única fonte de financiamento estatal —imprimindo pesos e alimentando a inflação, de fato, mas sem provocar ainda uma disrupção total.

Neste cenário, os 28,8% de votos da terceira colocada, Patricia Bullrich, 67, rival dos peronistas, devem definir o pleito. Resta saber se seus eleitores apoiarão o radicalismo de Milei ou se arriscarão a eleger algo que pode ser mais do mesmo.

Para o Brasil, que tem na Argentina seu principal destino de produtos industrializados e o terceiro maior parceiro comercial, não é pouco o que está em jogo.

editoriais@grupofolha.com.br

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