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Fios desencapados

Guerra Israel-Hamas prolongada eleva risco de escalada de violência na região

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Militares do Iêmen patrulham o Mar Vermelho contra ação de rebeldes houthis - Khaled Ziad/AFP

De todas as motivações para o Hamas lançar seu ataque terrorista de 7 de outubro de 2023 contra Israel, disparando violenta reação de Tel Aviv contra a Faixa de Gaza, uma das mais evidentes era a expectativa do grupo palestino de incendiar o Oriente Médio.

Estrategicamente, era possível: a barbárie cometida contra civis e soldados ensejaria retaliação tão pesada que atores regionais contrários ao Estado judeu abririam novas frentes, ameaçando a própria existência de Israel.

Não deu certo de forma imediata, mas o prolongamento do conflito está expondo um cipoal de fios desencapados às intempéries inerentes à volatilidade regional.

O Hamas é um dos movimentos locais apoiados pelo Irã, país que tem na obliteração de Israel e no confronto permanente com os Estados Unidos o foco central de sua agenda. Ao longo dos anos, Teerã selecionou prepostos de diversas colorações para evitar ação direta.

O mais poderoso deles é o Hezbollah libanês. Desde o começo da atual guerra, o temor principal de Israel era um envolvimento total dessa agremiação. Isso ocorreu só na retórica: na prática, ela manteve um comedido atrito na já contestada fronteira entre os dois países.

O maior barulho veio de quem não se esperava, os houthis do Iêmen, apoiados desde 2014 pelo Irã numa guerra civil. A disrupção devido a ataques e sequestros no mar Vermelho, que concentra 15% do comércio por navios no mundo, tornou-se um problema real.

Grandes empresas desviaram embarcações, preços de fretes e do petróleo subiram, e os EUA tiveram de montar uma força-tarefa.

A essa situação temerária somou-se, nesta semana, a primeira grande ação de Israel fora de suas fronteiras na guerra, o assassinato de um líder do Hamas em Beirute. Logo depois, os EUA mataram em Bagdá um expoente de um grupo pró-Irã, responsável por ataques a bases americanas no Iraque.

Para adicionar tensão, o próprio Irã sofreu o maior atentado desde a implantação da teocracia em 1979. Ainda que assumido por um inimigo interno, o grupo terrorista Estado Islâmico, a ação exacerbou a percepção de risco.

Até aqui, o formidável posicionamento militar de Washington e os temores do impacto de uma guerra maior dissuadiram Teerã e seus clientes. Mas o risco de uma escalada regional de violência cresce a cada dia que Israel estende, sem um plano de saída, sua guerra.

editoriais@grupofolha.com.br

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