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O que a Folha pensa

Desvarios de Lula

Banalização do Holocausto não deveria estar no repertório de um chefe de Estado

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa na cúpula da União Africana, em Adis Abeba (Etiópia) - Ricardo Stuckert - 17.fev.24/Divulgação Presidência da República via AFP

Não há como saber ao certo se Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mediu previamente as consequências de suas declarações desvairadas sobre a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza ou se, como é frequente, sucumbiu ao improviso presunçoso. As duas hipóteses são péssimas.

"O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus", pontificou o cacique petista no domingo (18), em entrevista durante visita à Etiópia. "Na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio."

Para além da demonstração de plena ignorância sobre a história dos conflitos da humanidade, a banalização de temas como genocídio e o Holocausto, que prolifera na gritaria das redes sociais, não deveria fazer parte do repertório de um chefe de Estado.

Foi flagrante, aliás, o contraste entre a leviandade das assertivas sobre Israel e a cautela reverente com que Lula, na mesma viagem internacional, tratou da morte de Alexei Navalni, opositor que estava encarcerado pelo regime russo.

Ali não se viu vestígio de questionamento à degradação da democracia sob Vladimir Putin, seu colega de Brics, como se todo o caso se resumisse a uma investigação de legistas sobre o que se passou nos momentos finais do morto.

O governo de Israel —que, sim, tem muito a ser criticado, e não só pela mortandade promovida após o ataque terrorista do Hamas— não deixaria de responder ao destampatório. O mandatário brasileiro passou a ser considerado "persona non grata"; o embaixador do Brasil, alvo de uma reprimenda, foi chamado de volta ao país.

No plano doméstico, os arroubos retóricos de Lula têm o efeito de inflamar tanto seguidores quanto opositores mais extremados, fomentando uma polarização que lhe convém. Se esse é o benefício esperado, o preço a pagar é a credibilidade da política do Itamaraty.

O Brasil, afinal, cria uma turbulência diplomática e coloca em xeque sua tradicional equidistância sem uma estratégia que pareça clara —ou mesmo uma argumentação calcada nos fatos.

editoriais@grupofolha.com.br

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