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O que a Folha pensa PIB

Surpresa com PIB não autoriza acomodação

Desempenho tem superado projeções, por razões ainda em debate; cumpre remover obstáculos ao crescimento duradouro

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Linha de produção de indústria que fornece material para moda íntima, em Maracanaú (CE) - Marília Camelo/Folhapress

A economia brasileira tem desafiado os prognósticos mais negativos. Em 2023, pelo terceiro ano consecutivo, houve boas surpresas com o crescimento do Produto Interno Bruto, que rondou 3%, o triplo do que era estimado de início.

As projeções mais consensuais para este 2024 novamente são de desaceleração —cuja intensidade, porém, já está sendo colocada em dúvida. Na mediana das estimativas do mercado coletadas pelo Banco Central, a atividade deve ter alta de 1,6%. O governo espera um pouco mais, 2,2%.

Com base em indicadores iniciais, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse acreditar que este primeiro semestre tende a "surpreender para cima".

A esperada perda de ritmo em relação ao ano passado viria da combinação dos efeitos ainda contracionistas dos juros altos para domar a inflação, de menor expansão de programas sociais e do consumo das famílias e, por fim, de uma piora do resultado da agropecuária, que não repetirá a safra recorde.

Ainda assim, há sinais de vigor que não deixam de ser notáveis. Mesmo diante do arrocho monetário e da escassez de crédito que se prolongam, o mercado de trabalho permanece aquecido, com desemprego não muito distante das menores taxas históricas e expressivo crescimento real da renda.

Parte desse ganho decorreu da queda de preços de alimentos, que beneficia especialmente os estratos mais carentes. Ocupação e salários em alta dão esteio à continuidade do aumento do consumo.

Um risco é que isso também amplie pressões inflacionárias, especialmente sobre serviços, limitando o espaço para cortes de juros.

Até agora, porém, o baixo desemprego tem se mostrado compatível com inflação sob controle, talvez uma evidência de melhor funcionamento do mercado de trabalho depois da reforma de 2017.

O conjunto de reformas econômicas dos últimos anos, aliás, pode ajudar a explicar parte do bom desempenho atual. Ampliação da carteira de concessões e projetos em infraestrutura, governança mais austera em bancos e empresas estatais, certa redução de amarras burocráticas e melhoria no ambiente de negócios são alguns dos elementos positivos.

É cedo para contar com dinamismo duradouro. Surpresas favoráveis também são observadas em outros países, o que sugere elementos comuns e temporários que restaram do choque da pandemia.

Em qualquer hipótese, cabe à política econômica remover, sem voluntarismos, os obstáculos à expansão do PIB, trabalhando por contas fiscais equilibradas, inflação sob controle e juros civilizados.

editoriais@grupofolha.com.br

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