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O que a Folha pensa Governo Lula

BC autônomo protege Lula de si mesmo

Decisão unânime mostra compromisso contra a inflação e evita piora das expectativas; Planalto, porém, alimenta incerteza

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Pedro Ladeira/Folhapress

A decisão tomada pelo Banco Central de interromper o ciclo de corte da taxa básica de juros não é, obviamente, motivo de celebração.

A Selic fica mantida no patamar muito elevado de 10,5% ao ano, o que dificultará o crédito para consumo e investimento, ao fim e ao cabo limitando as possibilidades imediatas de expansão da atividade econômica e da renda.

O mais importante na medida do BC, porém, foi o cuidado de preservar a credibilidade da política de controle da inflação —mais uma vez alvo de ataques levianos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que semeia turbulências nefastas em seu próprio governo.

Como faz desde o início de seu terceiro mandato, Lula usa o presidente do órgão autônomo, Roberto Campos Neto, como bode expiatório para os erros gerenciais e as imposições da realidade que impedem a consumação das promessas róseas de campanha eleitoral.

A estratégia se torna mais arriscada e sem sentido à medida que se aproxima o fim da gestão Campos Neto, dono de apenas 1 dos 9 votos do Comitê de Política Monetária. A partir do próximo ano, indicados pela administração petista serão maioria no colegiado.

A necessidade de interromper a queda de juros era indicada pelo BC havia semanas. Em parte, porque as taxas permanecerão mais altas nos EUA, principal centro financeiro do mundo; em parte, porque Lula decidiu afrouxar as metas para o reequilíbrio do Orçamento fixadas menos de um ano antes.

Foi fundamental, nesse contexto, a decisão unânime do Copom na quarta-feira (20) —sem repetir a constrangedora divisão da reunião de maio, quando os quatro diretores indicados por Lula votaram por uma redução maior da Selic.

Todos os dirigentes, desta vez, endossaram um diagnóstico fundado em técnica e experiência, não em bravatas e voluntarismo. Importa levar a inflação, em tempo hábil, ao nível civilizado de 3% ao ano.

Atitude diferente seria interpretada como capitulação às pressões da cúpula petista, ainda adepta da tese de que a leniência com a inflação pode favorecer o crescimento econômico —fantasia que, levada a cabo sob a correligionária Dilma Rousseff, terminou em recessão brutal e escalada de preços.

Por ora ao menos, o BC autônomo protege Lula de si mesmo, e o país do mandonismo do presidente da República. A depender dele, a política monetária estaria tão desacreditada quanto a fiscal. Em vez de objetivos críveis e critérios transparentes, haveria um vaivém de promessas e recuos ao sabor das conveniências de ocasião.

Os riscos estão longe de dissipados, e a troca de comando no BC continuará motivo de apreensão. Um governo que nem chegou à metade se arrisca inutilmente a perder as rédeas da economia.

editoriais@grupofolha.com.br

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