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Ricardo Viveiros

Ultradireita: perigosa, inútil e deselegante

Guerra não é avanço, falta de humanidade é atraso civilizatório

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Ricardo Viveiros

Jornalista, professor e escritor, é doutor em educação, arte e história da cultura; autor, entre outros, de “A Vila que Descobriu o Brasil” (Geração), “Justiça Seja Feita” (Sesi-SP) e “Memórias de um Tempo Obscuro” (Contexto)

A história é útil à evolução da sociedade. Assimilar técnicas atende ao capitalismo, por isso é valorizada.

Entretanto, a emancipação humana requer mais do que acúmulo de riqueza. Boa saúde, educação, cultura, ética, respeito são bens que superam muitas coisas. Qualquer pensamento político que não privilegie as pessoas e a vida delas está no caminho errado. Tem sido assim com regimes autoritários, como nazismo, fascismo, franquismo (nazi-fascista), salazarismo e outros.

Apoiadores de Donald Trump antes de invadirem o Capitólio - Olivier Douliery - 6.jan.21/AFP

Comum aos governos opressores está a sustentação política de partidos da direita. Observa-se, além das ditaduras do Oriente Médio —de fundamentação religiosa—, na Europa, na África, nos Estados Unidos e, também, na América do Sul que a direita tem cooptado a população.

A desigualdade crescente impulsiona uma revolta que aproxima o povo, com ênfase nos menos politizados, de promessas populistas. Persiste um vácuo deixado pela esquerda mundial, que não consegue se comunicar como a direita, que se vale de fake news.

No Brasil, em 2018 e nos quatro anos seguintes, assim como na Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, a democracia esteve fragilizada pela miséria e pela corrupção. Desalentados agarraram-se a bizarros discursos eivados de ódio e mentiras e elegeram um radical prepotente que (des)governou o país.

A triste receita da aceitação tem sido próspera aos políticos de direita. Um exemplo é Donald Trump, que aumenta sua popularidade na mesma proporção de seu ódio aos estrangeiros e de suas condenações nos tribunais. Se as eleições fossem hoje, seria eleito e aumentaria a cultura etnocentrista.

A invasão ao Capitólio, em 6/1/2021, foi a mais esdrúxula manifestação de tentativa de golpe na denominada maior democracia do planeta. Um incentivo para que, no Brasil, em 8/1/2023, houvesse a reedição tropical de tentativa de golpe de Estado. As duas ações marcadas pela dissonância cognitiva dos envolvidos e pela força das instituições que contiveram, investigaram e puniram os vândalos. E hoje combatem injustificadas tentativas de anistia.

Depois da desonra mundial que o nazismo trouxe à Alemanha, a Europa transitou entre a hegemonia dos grupos de centro e flertes com a esquerda. A atual aproximação da ultradireita é fato.

Os resultados nas eleições europeias consolidam a liderança do centro. Mas a ultradireita terá destaque em países que, historicamente, ditam a política do continente, como França e Alemanha. Brasileiros que moram no exterior, atenção: a xenofobia é ameaça crescente aos imigrantes, sobretudo a pretos, pardos e indígenas. Até no berço do Iluminismo o respeito se tornou artigo de luxo.

Como disse o filósofo Norberto Bobbio, o domínio da violência é a principal característica da existência dos Estados e, por consequência, o mais efetivo poder. A direita utiliza esse poder sem limite. Perigoso.

Intolerantes que administram as nações têm uma fórmula de governo que sempre deixa a fúria como opção viável. A guerra não é avanço, falta de humanidade é atraso civilizatório. A ignorância e a má-fé da ultradireita no trato com pautas sociais são apenas uma das faces da política reacionária. A preservação do planeta, a tolerância com as pessoas, o combate aos preconceitos e a visão emancipatória do humano inexistem.

A ultradireita, além de perigosa e inútil, é deselegante.

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