Passou da hora de dar ao cerrado a mesma atenção que mata atlântica e Amazônia conheceram a partir da década de 1980. A savana com maior biodiversidade no planeta, segundo a ONG WWF, é hoje o bioma mais ameaçado do Brasil.
Tal situação fica evidente na série de reportagens Cerrado Loteado, publicada pela Folha. Destaca-se o fato de menos de um décimo do bioma estar protegido por unidades de conservação (UCs).
É brutal o contraste com a floresta amazônica, que abarca 4,2 milhões de km² do território nacional. Com 29% de área protegida, ainda ostenta 80% da mata em pé. Na média, cada uma de suas 381 UCs abrange 3.200 km² .
O cerrado, segundo maior bioma do país, cobria originalmente cerca de 2 milhões de km², mas metade dele já foi destruído. Conta 560 UCs de porte bem menor, de 327 km² cada uma, em média.
Em 2023, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mediu por satélite 11 mil km² de desmate no cerrado, alta de 3% sobre 2022. Na Amazônia, que tem o dobro do tamanho, foram 9 mil km², com uma queda de 22%.
A floresta no Norte também enfrenta pressão da fronteira agrícola, que é mais antiga e muito mais devastadora no cerrado —como se constata na região conhecida como Matopiba. No primeiro bioma, fazendeiros são obrigados a preservar 80% da propriedade como reserva legal; no segundo, só 20%.
Para tentar conter a destruição, o Ministério do Meio Ambiente, chefiado por Marina Silva, lançou a quarta fase do PPCerrado, um plano de prevenção e controle do desmate inspirado nas políticas que, em sua primeira passagem pela pasta, derrubaram as taxas de devastação na Amazônia.
A criação de UCs ajudaria a proteger espécies e recursos hídricos. O ministério estima haver 71 mil km² de terras públicas no cerrado que poderiam dar origem a UCs.
É fundamental que poder público e sociedade percebam que não há contradição entre preservação do meio ambiente e desenvolvimento. A economia verde já é uma realidade global e, com o potencial agroecológico brasileiro, o país não pode ficar para trás.
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