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Arapongagem bolsonarista

Investigação da PF revela como ex-presidente usou o Estado para seus fins

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Jair Bolsonaro (PL), Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao fundo, e Alexandre Ramagem (PL-RJ) - Claudia Martini - 18. jul.24/Xinhua

São escandalosos os indícios colhidos pela Polícia Federal durante a Operação Última Milha, cujo objetivo consiste em investigar a existência de uma "Abin paralela" criada por Jair Bolsonaro (PL).

De acordo com as apurações, parte da Agência Brasileira de Inteligência se transformou em espécie de guarda pretoriana, voltada não às demandas do Estado nacional, e sim aos interesses particulares do ex-presidente e de sua família.

Pelo que se sabe, a estrutura espúria manteve operações de 2019 a 2022, período em que a agência ficou sob comando de Alexandre Ramagem, hoje pré-candidato do PL à Prefeitura do Rio de Janeiro.

Tal qual os serviços secretos das ditaduras, o núcleo clandestino de Bolsonaro teria espionado políticos em cargos relevantes, integrantes do Supremo Tribunal Federal, representantes da sociedade civil e membros da imprensa.

Os esforços do ex-presidente, no entanto, foram além da simples arapongagem —o que já não seria pouca coisa. Um áudio obtido pela PF mostra que Bolsonaro mobilizou setores do Estado para tentar blindar seu filho Flávio no chamado caso das rachadinhas.

Feita por Ramagem, a gravação capta uma reunião realizada em agosto de 2020 e da qual participaram ele, o ex-presidente, o general Augusto Heleno (então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional) e duas advogadas de Flávio, senador pelo PL-RJ.

Na conversa, Bolsonaro se prontificou a conversar com os chefes da Receita e do Serpro (empresa estatal que detém os dados do Fisco), com a finalidade de encontrar meios de anular as investigações sobre suposto desvio de salário de funcionários da Assembleia Legislativa do Rio à época em que Flávio era deputado estadual.

Dito e feito. Como reportagens desta Folha revelaram, servidores da Receita atuaram em prol desse fim nada republicano e o próprio secretário do órgão foi à casa de Flávio cuidar do assunto.

Para além das eventuais consequências penais que a Justiça possa determinar, o episódio evidencia, mais uma vez, que Bolsonaro jamais compreendeu a importância do palácio em que morou.

editoriais@grupofolha.com.br

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