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Priscilla Milena Simonato de Migueli

O Brasil deve fazer uma nova reforma da Previdência? NÃO

O desafio do equilíbrio; novas fontes de financiamento e combate à informalidade são cruciais

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Priscilla Milena Simonato de Migueli

Doutora em direito previdenciário (PUC-SP), é professora titular de direito previdenciário e seguridade social da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo

Nos últimos anos, a questão da reforma da Previdência tem sido amplamente debatida, suscitando opiniões diversas entre especialistas, políticos e a sociedade em geral. A reforma aprovada em 2019 trouxe mudanças significativas, incluindo a elevação da idade mínima para aposentadoria e a alteração na forma de cálculo dos benefícios, via de regra, com redução do valor dos benefícios.

No entanto, à medida que a situação econômica e demográfica do país evolui, a pergunta que surge é: o Brasil precisa de uma nova reforma previdenciária?

Sessão na Câmara dos Deputados, em Brasília; líderes partidários querem discutir nova reforma da Previdência em 2025 - Pedro Ladeira -28.mai.2024/Folhapress/Folhapress

O principal argumento para uma nova reforma é a evolução demográfica do país. O Brasil está envelhecendo rapidamente. Segundo projeções do IBGE, a proporção de idosos na população deve crescer consideravelmente nas próximas décadas, ao mesmo tempo em que a taxa de natalidade diminui. Esse envelhecimento populacional pressiona o sistema previdenciário, que depende da contribuição dos trabalhadores ativos para sustentar os benefícios dos aposentados. Com menos trabalhadores contribuindo e mais aposentados para sustentar, o sistema tende a se tornar insustentável e deficitário a longo prazo.

Além do fator demográfico, o déficit previdenciário é exacerbado pela alta informalidade no mercado de trabalho. Muitos trabalhadores informais não contribuem para a Previdência, o que reduz a arrecadação e aumenta a pressão sobre o sistema. A combinação desses fatores —o envelhecimento populacional e a informalidade no trabalho— sugere que o Brasil pode enfrentar desafios ainda maiores no futuro, o que levou ao surgimento —poucos anos depois de aprovada uma reforma— da discussão sobre uma nova mudança nas regras.

Adicionalmente, o avanço tecnológico e o surgimento de novas formas de trabalho, como o trabalho remoto e as plataformas digitais, estão transformando o mercado. Essas mudanças podem complicar ainda mais a arrecadação para a Previdência, pois muitas dessas novas formas de trabalho ainda não estão plenamente integradas ao sistema de contribuições. A economia de plataformas, por exemplo, pode criar lacunas na arrecadação previdenciária se esses trabalhadores não contribuírem adequadamente para o sistema.

Em vez de buscar novas reformas que cortem benefícios, o debate sobre a Previdência Social deve se concentrar em soluções que garantam a sustentabilidade do sistema sem comprometer os direitos dos trabalhadores. A exploração de novas fontes de financiamento e o combate à informalidade no trabalho são medidas cruciais para fortalecer o sistema previdenciário e assegurar a proteção social das futuras gerações. O verdadeiro desafio é encontrar um equilíbrio entre garantir a saúde financeira do sistema e proteger os direitos dos trabalhadores. Uma nova reforma, se houver, deve focar em como aumentar a arrecadação, não em economizar por meio de cortes de benefícios.

Sustentabilidade econômica está intrinsecamente ligada à garantia dos direitos sociais. A tentativa de equilibrar as contas públicas por meio do corte de benefícios pode comprometer a dignidade e o bem-estar dos cidadãos, o que, a longo prazo, pode afetar negativamente a própria economia.
Uma reformar previdenciária deve buscar soluções que promovam a arrecadação e a justiça social sem sacrificar os direitos fundamentais dos trabalhadores. Além disso, é essencial garantir que qualquer mudança respeite a capacidade do país de atender às suas necessidades sociais e econômicas.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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