"Kia Orana!" ("Vida longa!"). Escrevo direto do atol de Aitutaki, nas Ilhas Cook, no Pacífico Sul. Antigamente, alguém me diria: "Uau, que delícia". Nesses tempos de fogo, enchente e seca, me desejaram boa sorte. Afinal, esse paraíso "há de durar pouco" em função da mudança do clima.
Delícia ou dor, não importa; o encanto destas águas azuis e a liderança dos povos desta parte do mundo na diplomacia climática são inegáveis. Eles já estão se preparando para a COP31, e é por isso que estou aqui. Sim, a ideia é que a história das COPs não morra em Baku nem em Belém. E não falo apenas figurativamente: depois do Azerbaijão e do Brasil, há a expectativa de que se aprove a Austrália como sede seguinte, ainda que exista concorrência. Mas é preciso que o regime internacional de mudança do clima sobreviva até lá.
O risco é real: sem um acordo firme sobre a nova meta global de financiamento climático na COP29, em novembro, a confiança no processo da ONU pode evaporar. Uma recuperação seria incerta e demoraria anos, tal qual o fracasso da COP15, em Copenhague (2009), só superado com o Acordo de Paris, seis anos depois.
Questões difíceis e interligadas precisarão ser resolvidas pelos negociadores, como qual deve ser o tamanho da conta, quem será cobrado a colocar recursos na mesa e até quando, além de como envolver atores privados. Impossível? Não, mas possivelmente algumas etapas podem ser vencidas agora e outras, quem sabe, bem depois.
Ilude-se quem pensa que a conferência deste ano seria apenas uma "levantada de bola" para o Brasil "cortar" no ano que vem. Se assim for, não esperem jogo.
Chamou-me a atenção coluna recente de Rodrigo Tavares nesta Folha, que deu a entender que o Brasil teria direito de escolha sobre aceitar a decisão "final". Definitivamente, não. O prazo para definir a nova meta nesse processo multilateral (e não brasileiro) é antes de 2025. Ou seja, se a decisão como um todo ficar para depois, será considerado um fracasso retumbante. Inclusive para nós.
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