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Jovens contam por que desejam deixar o Brasil

Folha reuniu cinco jovens insatisfeitos com o país para ouvir suas reclamações

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Rio de Janeiro e Salvador

O Brasil está à deriva, é desanimador e não oferece perspectiva. Assim descreve o país um grupo de jovens que anseia em encontrar no exterior as oportunidades de estudo e trabalho que faltam aqui —desejo de metade dos brasileiros de 15 a 29 anos. Os dados constam do recém-lançado Atlas das Juventudes e de novos estudos da FGV Social.

Na semana passada, a Folha mostrou que o mercado deprimido e recorde de nem-nem frustram 50 milhões de pessoas nessa faixa etária.

Na publicação da reportagem no Instagram do jornal, dezenas de jovens compartilharam suas histórias e a vontade de sair do Brasil.

A Folha convidou cinco deles para uma conversa com o repórter especial Fernando Canzian, ocorrida nesta terça-feira (29).

Dentre os problemas citados, estão o baixo investimento em pesquisa, a falta de emprego e a desigualdade de renda no país que, para eles, parecem não ter solução em um futuro próximo.

"Estou estudando inglês, melhorando minha comunicação, escrevendo projetos e fazendo planos. Estou me armando", diz Bruno Soares, 26, que deseja emigrar para a Inglaterra. "Lá fora, eles veem o seu potencial e agarram. Aqui, tanto faz", diz.

O jovem precisa se dividir entre a faculdade de medicina veterinária e o trabalho em seu próprio restaurante, no qual cozinha, atende e faz entregas. Formado em tecnologia naval, não conseguiu emprego na área e precisou apostar no empreendedorismo como forma de garantir renda.

"Vejo o Brasil como um conjunto de fatores que dificulta a vida dos estudantes e por isso queremos ir embora", afirma Marlisson Malveira, 20, graduando em ciência da computação que sonha em ir à China para desenvolver pesquisas.

Para estudar medicina, Karen Lavínia, 19, decidiu se mudar para Buenos Aires, na Argentina, que oferece, segundo ela, preços menores, flexibilidade de horários e oportunidades internacionais no curso. "Sinto saudade do Brasil, mas o medo de me prejudicar ficando era maior que o sentimento de amor ao país."

Confira a história de cada um dos cinco jovens descrentes no futuro em solo brasileiro.

Bruno Soares, 26, de Mogi Guaçu, participa de conversa com a Folha
Bruno Soares, 26, de Mogi Guaçu, participa de conversa com a Folha - Reprodução
  • Nome: Bruno Soares
  • Idade: 26 anos
  • Cidade: Mogi Guaçu (SP)
  • Profissão/o que estuda: Formado em tecnologia naval, estudante de medicina veterinária e dono de restaurante
  • Por que deseja deixar o Brasil: Para buscar boa oportunidade profissional
  • Para onde deseja ir e por quê: Inglaterra, para se capacitar depois de formado ou se instalar como profissional, ou Canadá, por causa da oferta de emprego e remuneração

A gente exportava estudantes para fora do país. Hoje, alunos que moram fora estão descrentes com o que acontece aqui, veem profissionais excelentes e não acreditam em como estamos à deriva

Bruno Soares

Mogi Guaçu (SP)

O Brasil é fantástico, um absurdo, estamos em um celeiro de talentos. Se eu tivesse condições, eu ficaria por aqui, mas não vislumbro estabilidade

Bruno Soares

Mogi Guaçu (SP)

A gestão da saúde e da crise [pandemia] são desanimadoras. Ficamos desacreditados em uma possível melhora, temos um rendimento menor e oferecemos menos do que queríamos

Bruno Soares

Mogi Guaçu (SP)

Cinthia Saraiva, 23, de São Paulo, participa de conversa com a Folha
Cinthia Saraiva, 23, de São Paulo, participa de conversa com a Folha - Reprodução
  • Nome: Cinthia Saraiva
  • Idade: 23 anos
  • Cidade: São Paulo (SP)
  • Profissão/o que estuda: Estudante de matemática e analista de suporte de TI
  • Por que deseja deixar o Brasil: Desde a infância sonha em sair do país para ser pesquisadora
  • Para onde deseja ir e por quê: Canadá, para seguir carreira acadêmica na área de matemática

Tenho vontade de sair do Brasil desde bem pequena para estudar ciência e pesquisar. Mas a idade chegou, as dificuldades também e vi que não era tão fácil quanto pensava

Cinthia Saraiva

São Paulo (SP)

Não consegui oportunidades de intercâmbio porque é preciso ter notas altas e manter o currículo elevado. Tenho outros objetivos a curto prazo, então, ainda não me vejo saindo do Brasil. Essa é minha dor no momento

Cinthia Saraiva

São Paulo (SP)

A desigualdade me assustou ainda mais depois da pandemia. Via colegas que não precisavam dar aulas particulares ou estagiar, como eu, e conseguiam fazer monitoria e iniciação científica. Percebi que fazer pesquisa fora do Brasil não era para mim

Cinthia Saraiva

São Paulo (SP)

Marlisson Malveira, 20, de Fortaleza, participa de conversa com a Folha
Marlisson Malveira, 20, de Fortaleza, participa de conversa com a Folha - Reprodução
  • Nome: Marlisson Malveira
  • Idade: 20 anos
  • Cidade: Fortaleza (CE)
  • Profissão/o que estuda: Estudante de ciência da computação
  • Por que deseja deixar o Brasil: Acha o investimento em educação do país ineficiente
  • Para onde deseja ir e por quê: China, porque acredita no avanço do país nas pesquisas em ciência e tecnologia

Deixar o país e buscar formação profissional lá fora é muito complicado se você vem de escola pública e de periferia. As oportunidades são mínimas e, quando vêm, são muitas pessoas para poucas vagas

Marlisson Malveira

Fortaleza (CE)

“A precarização da moeda me faz querer ir para outro país, tanto para ter uma formação melhor numa universidade estrangeira, quanto para receber em dólar ou euro.”

Marlisson Malveira

Fortaleza (CE)

O brasileiro tem potencial [para enfrentar a xenofobia] porque é sofrido de nascença. A própria vida aqui já prepara para todo tipo de barbárie que o mundo tenha

Marlisson Malveira

Fortaleza (CE)

Karen Lavínia, 19, mora na Argentina, e participou de conversa com a Folha
Karen Lavínia, 19, mora na Argentina, e participou de conversa com a Folha - Reprodução
  • Nome: Karen Lavínia
  • Idade: 19 anos
  • Cidade: Nascida em Lajedo (PE), morando em Buenos Aires, Argentina
  • Profissão/o que estuda: Estudante de medicina
  • Por que deixou o Brasil: Em busca de melhores condições no ensino superior

Você se vê sem opção: se ficar, como vai ser? E se sair? Acho que o jovem tem esse medo

Karen Lavínia

Argentina

[Na faculdade em Buenos Aires,] podemos escolher quando e quantas horas vamos estagiar, o tempo para concluir o curso e isso dá oportunidade de realizar nossos sonhos. Para mim, pesa muito mais que ficar no Brasil. A gente aprende a lidar com a saudade

Karen Lavínia

Argentina

Acontecem muitos casos de xenofobia. Dentro da faculdade eles se acham melhores que nós, que precisamos sair do nosso país em busca de uma vida melhor. Mas tem a boa acolhida também e você vê que está no caminho certo

Karen Lavínia

Argentina

Kauan Côrte, 23, de Goiás, participa de conversa com a Folha
Kauan Côrte, 23, de Goiás, participa de conversa com a Folha - Reprodução
  • Nome: Kauan Côrte
  • Idade: 23 anos
  • Cidade: Goiânia (GO)
  • Profissão/o que estuda: Estudante de Relações Internacionais
  • Por que deseja deixar o Brasil: Não enxerga oportunidade de crescimento no país
  • Para onde deseja ir e por quê: Hungria, porque acredita que seja uma boa porta de entrada para outros países da Europa

Aqui não temos muita oportunidade de crescimento. Os setores públicos da saúde, transporte e educação estão sendo sucateados pelo governo. O Brasil tem um potencial muito grande de crescer, mas que não é aproveitado

Kauan Côrte

Goiânia (GO)

Vou aplicar para uma bolsa internacional. Estou juntando dinheiro todo mês para financiar minha ida e ficar por alguns meses. Se der certo, ok, se não, vou como Deus quiser para procurar um emprego no exterior

Kauan Côrte

Goiânia (GO)

A gente vive no país que 1% da população detém mais renda que o resto e a gente sabe que quem detém renda, detém a política

Kauan Côrte

Goiânia (GO)

Desigualdade global

Em nenhum outro período da história tantas pessoas saíram da pobreza extrema e ganharam acesso a bens e alimentos como nos últimos 40 anos

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