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Pandemia desacelera perda de alunos na EJA, mas orçamento segue em queda

Podcast Folha na Sala trata dos desafios da Educação de Jovens e Adultos

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São Paulo

Segundo dados do IBGE, mais da metade da população brasileira de 16 a 85 anos não concluiu o ensino médio, e 31,2% não terminaram nem o fundamental. São mais de 72 milhões de adultos que poderiam continuar seus estudos pela Educação de Jovens e Adultos. Esse número pode crescer com a expectativa de alta na evasão escolar com a pandemia.

No entanto, só 3 milhões estão matriculados nessa modalidade, que há mais de dez anos só vê os investimentos diminuírem. É sobre essa conta, difícil de fechar, o episódio dessa semana do Folha na Sala.

Desde 2012, o orçamento federal dedicado a essa modalidade despencou de R$ 1,8 bilhão para R$ 8 milhões. Só durante a pandemia, segundo a Comissão Externa de Acompanhamento dos Trabalhos do MEC, os recursos destinados à alfabetização de jovens e adultos caíram 70% em 2020 e 67% em 2021.

Segundo o professor Fernando Frochtengarten, diretor da EJA do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, que oferece a modalidade gratuitamente desde a década de 1970, ela é considerada marginal pela sociedade, e os investimentos são reflexo dessa falta de prioridade.

"Existem discursos de cunho ideológico, agora mais explícitos, ora mais velados, de que o fracasso escolar é culpa dos homens e das mulheres que não acessaram ou não puderam permanecer na escola, como se isto fosse um fracasso individual. Nós precisamos lutar por uma compreensão de que o fracasso escolar é um fenômeno de natureza social. Não foi por falta de vontade, mas de condições."

Para a professora da Faculdade de Educação da USP Maria Clara di Pierro, que pesquisa o tema desde 1985, a EJA é oferecida pelas redes hoje de forma improvisada, sem uma política própria para seu desenvolvimento.

"As redes improvisam, usam as mesmas instalações, os mesmos professores, complementando a jornada. Não se garante formação específica. Então você tem um desinvestimento na modalidade e problemas sérios de qualidade".

Ela explica que a visão vigente em relação à EJA ainda é a que se tinha no regime militar, de uma educação que vem para suplementar, para reconectar o aluno à educação que ele recebeu antes de abandonar a escola.

"Em vez de perguntar o que esse jovem ou adulto precisa e quer aprender para hoje, em direção ao futuro, se pergunta o que ele não aprendeu quando ele ia à escola, quando era criança. Então você tem um currículo infantilizado, com metodologias inadequadas".

Durante a pandemia, a EJA (Educação de Jovens e Adultos) foi uma das que mais perdeu alunos por conta da crise financeira - Karime Xavier/Folhapress

O número de matrículas na EJA no país vem caindo ao longo da década. Na pandemia, quando se esperava que elas fossem cair abruptamente, os números surpreenderam. De 2019 a 2020, a EJA já havia registrado uma diminuição de 8,3% nas matrículas. Ou seja, quando a pandemia começou, já havia 270 mil estudantes a menos nas salas de aula.

Em 2021, depois de um ano de ensino remoto, as matrículas caíram apenas 1,3%, o que representa cerca de 40 mil alunos a menos. A explicação para a queda abaixo do esperado foi a facilidade do acesso aos conteúdos das aulas online.

A estudante Dsiara Pereira, 28, está no terceiro ano do ensino médio na educação de jovens e adultos da escola estadual Pedro Moreira Matos, em São Miguel Paulista, zona leste da cidade. Mãe de duas crianças pequenas, ela conta que teria dificuldade de retomar os estudos presencialmente.

"Até então não tinha essa oportunidade, não tinha pandemia, nem essa história de aula online. Não tinha nem como eu pensar em estudar com duas crianças, não tinha quem cuidasse delas para mim. Quando veio a pandemia, essa oportunidade veio de bandeja".

O Folha na Sala ainda ouviu a professora Maria Hermínia Lage Fernandes, da UFSC, e o professor Adenilson Cunha Jr, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

Na sua quinta temporada, o Folha na Sala debate, em nove episódios semanais, quais são os desafios da educação e da escola pública em 2022, na retomada das aulas presenciais após dois anos de abre e fecha devido à pandemia de coronavírus.

O podcast é uma parceria da Folha com o Itaú Social. O programa é apresentado pelos jornalistas Ricardo Ampudia e Juliana Deodoro. A coordenação foi de Angela Pinho e Magê Flores. A edição de som é de Luan Alencar.

Você pode acrescentar o nosso programa no seu agregador de podcasts usando o RSS do programa.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado pelo texto, Fernando Frochtengarten, é diretor da EJA do Colégio Santa Cruz e não coordenador. A informação foi corrigida.

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