Descrição de chapéu Eleições 2018

À espera de governo Márcio França, aliados fazem listas de obras e querem recursos

Posse de novo governador, após renúncia de Alckmin, é vista com expectativa em São Vicente (SP)

José Marques
São Vicente (SP)

O vice-governador Márcio França (PSB) só deve assumir o governo de São Paulo no próximo dia 7, mas desde o início de 2016 seu grupo político tem alimentado essa possibilidade para atrair verbas, eleger candidatos e ocupar cargos em São Vicente (Baixada Santista), seu reduto eleitoral.

À época, a prefeitura era comandada por Luis Cláudio Bili, um ex-aliado que virou opositor e se gabava por ter derrotado "o homem que se acha o dono da cidade". Ele venceu Caio França (PSB), filho do vice-governador.

Com ajuda de um grupo que divulgava obras que seriam financiadas com recursos estaduais, o cunhado de Márcio França, Pedro Gouvêa (MDB), foi eleito no pleito municipal de 2016 em uma coligação de 15 partidos.

Desde a candidatura, seus apoiadores esperam que o município, cuja política sofre interferência direta do vice-governador, seja o destino das atenções e recursos da nova gestão estadual.

"São Vicente pode quebrar um jejum de 484 anos de prestígio junto aos grandes mandatários do país", dizia texto de revista distribuída em 2016 por uma associação ligada ao PSB do município que se intitulava "São Vicente Novo Começo". 

Nela, listava obras de aproximadamente R$ 350 milhões a serem tocadas com dinheiro estadual, mais implantação de termelétrica privada de R$ 9 bilhões cujas tratativas foram discutidas, segundo o texto, "em audiência com o vice-governador Márcio França, no Palácio dos Bandeirantes".

A publicação anunciava na capa: "Conheça os projetos que vão trazer empregos e qualidade de vida para SV (São Vicente)". Nas páginas internas, no futuro do presente, vinha o título: "Rodoanel do Mar permitirá volta à ilha de SV e vai valorizar imóveis —Prazo: começo de 2018— Custo: R$ 30 milhões." O dinheiro viria do governo.

A maioria dos projetos não saiu do papel, mas Gouvêa diz ter expectativas de mais recursos nos nove meses de mandato de França. O vice-governador assumirá a gestão de São Paulo porque Geraldo Alckmin (PSDB) deixará o governo para disputar a Presidência. França pretende ser candidato à reeleição.

Expectativas

O presidente da associação Novo Começo, o escrevente de cartório Douglas Laranja, diz que o grupo foi criado com o objetivo de elaborar propostas que pudessem melhorar a cidade —mas não que necessariamente tivessem que ser, de fato, levadas à frente.

Mas, como outros aliados, espera que esses projetos sejam financiados pelo novo governador e já planeja remontar o grupo para oferecer propostas para a reeleição de França e de deputados. "Com o carinho que o Márcio tem pela cidade, com certeza ele vai ajudar bastante."

Laranja e outros membros da associação passaram a ocupar postos na prefeitura após a eleição de Gouvêa.

"Eram ações paralelas, a minha candidatura e a ONG Novo Começo. Mas a gente tinha um discurso bastante próximo a esse momento que a gente está vivendo hoje, de o Márcio assumir o Governo do Estado", disse Gouvêa à reportagem, na sede da prefeitura.

Ele afirma que, por essa proximidade de ideias, trouxe os membros da Novo Começo para a gestão. E afirma que tem tentado organizar as finanças e trazer recursos para implantar os projetos.

Irmão da esposa do vice-governador, Lúcia França, Gouvêa trabalha com o cunhado desde 1997, quando Márcio França iniciou sua primeira gestão na prefeitura de São Vicente. Foi reeleito em 2000 e elegeu o sucessor, Tercio Garcia, que governou por dois mandatos.

Em articulação que envolveu o grupo de Márcio França, Gouvêa foi alçado este ano à presidência da Condesb (Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista), que era comandada pelo PSDB.

Segundo Gouvêa, os prefeitos da Baixada esperam hoje que, com França governador, haja uma melhor relação com a região. "Para que a gente possa receber mais recurso e nesse pequeno intervalo de nove meses consiga trazer benefícios para a região."

Ele diz que o comando de Márcio França sobre a política local "não é um império, mas um legado".

Na Câmara Municipal, não há oposição e a influência do vice-governador sobre os partidos que compõem o Legislativo é comentada abertamente. O atual presidente, Wilson Cardoso, era filiado ao PT antes de se candidatar a vereador em 2016 pelo PSB, a convite de França.

Uma das anedotas contadas na cidade é de que, ao se candidatar à reeleição como prefeito, faltou espaço na ficha da Justiça Eleitoral para preencher todos os partidos da coligação que o apoiava.

O que é considerado virtude para seus aliados é visto como um problema para seus poucos opositores.

Candidato à prefeitura derrotado por Gouvêa em 2016, Kayo Amado (Rede) diz que o vice-governador loteia administrações. "França não tem um projeto de Estado. O que ele faz é computar partidos", critica.

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