Para entidades, decisão do TSE sobre pesquisas prejudica informação

ANJ e Abraji dizem que restrição em pesquisas eleitorais representa ameaça

Joelmir Tavares
São Paulo

A resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que restringiu o alcance de pesquisas de opinião, vetando a formulação de perguntas não relacionadas à eleição, prejudica o direito à informação e representa uma nova ameaça de censura, segundo entidades que defendem liberdade de expressão.

"As pesquisas fornecem elementos, produzem informação para que as pessoas possam tomar suas decisões", diz o diretor-executivo da ANJ (Associação Nacional de Jornais), Ricardo Pedreira.

Iniciativas unilaterais como a do TSE, afirma a secretária-executiva da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Cristina Zahar, geram desconfiança porque não foram precedidas de debates públicos.

"Vemos com receio e com muita apreensão", diz Cristina. "Repudiamos toda iniciativa que possa violar nosso direito de jornalista de informar e o direito das pessoas de serem informadas", completa ela, citando como outros exemplos iniciativas no Legislativo que tentam obrigar a retirada de conteúdo sem determinação judicial.

As novas regras do TSE para pesquisas eleitorais, publicadas na segunda-feira (5), deixaram dúvidas. 

A definição para "indagações a respeito de temas não relacionados à eleição", que agora estão proibidas, não ficou clara, dizem representantes de institutos de pesquisa.

O entendimento deles é que a alteração pode prejudicar o levantamento de temas correlatos às eleições, que ajudam a compreender cenários.

Em última instância, afirma o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, as novas cláusulas podem censurar o trabalho dos institutos.

"Projetos que tramitam no Congresso vão além e tentam impedir a divulgação de resultados de pesquisas, o que pode interditar o debate público e o acesso à informação do público amplo", diz.

BOLSONARO

Em janeiro, o TSE recebeu uma representação do presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ) contra uma pesquisa do Datafolha que trazia uma questão sobre seu patrimônio.

Para os advogados de Bolsonaro, a pergunta atribuía a ele "a pecha de denunciado por enriquecimento ilícito, de forma manifestamente difamatória".

Semanas antes, uma reportagem da Folha havia mostrado que o patrimônio de Bolsonaro se multiplicou desde 1988, início de sua carreira política.

A ação da defesa do parlamentar foi arquivada.

Segundo a assessoria do presidente do TSE, ministro Luiz Fux, as novas normas foram aprovadas por unanimidade pelo plenário da corte na quinta-feira (1º). A assessoria não respondeu se as mudanças nas regras de pesquisas têm relação com o caso de Bolsonaro.

LIBERDADE VIGIADA

Pesquisas

set.17 - Reforma política no Congresso proíbe divulgação de pesquisas eleitorais na semana anterior à eleição

Proposta

Vedar a divulgação de pesquisas eleitorais a partir do domingo anterior à data das eleições

Como ficou

Ideia foi cancelada e autorização para divulgação até no dia do pleito acabou mantida, mas foram incluídas regras sobre registro de pesquisas 

mar.18 - TSE (Tribunal Superior Eleitoral) proíbe perguntas não eleitorais em pesquisas

Proposta

Novas regras vedam em questionários de pesquisas de opinião pública “indagações a respeito de temas não relacionados à eleição”

Como ficou

Norma está válida e deve ser seguida nas eleições de outubro

Fake news

out.17 - Reforma política aprovada no Congresso permite censura nas eleições

Proposta

Emenda obrigaria sites a suspender, sem decisão judicial, conteúdo denunciado como notícia falsa, discurso de ódio ou ofensa

Como ficou

Enviado ao presidente Michel Temer para sanção, esse trecho foi vetado

mar.18 - Conselho do Senado discute propor bloqueio na internet sem ordem judicial

Proposta

Anteprojeto de lei do Conselho de Comunicação Social do Senado obriga provedores de internet a excluir, sem necessidade de autorização judicial, notícias consideradas falsas

Como ficou

Conselho recuou da proposta após repercussão negativa

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