Com Lula preso, Bolsonaro mede palavras e mira Ciro

Aliado diz que deputado e ex-capitão 'está se segurando'

Thais Bilenky
São Paulo

À prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) respondeu com pompa e circunstância. 

Publicou em redes sociais uma bandeira do Brasil no momento em que ele se entregava no sábado (7). "A resposta da Justiça foi positiva para um futuro candidato que quer levar o Brasil a sério a partir do ano que vem", disse na sexta-feira (6). 

Líder em pesquisas de intenção de voto para presidente quando o petista é excluído, o ex-capitão do Exército se esforça para soar mais palatável ao eleitor moderado. 

"Ele só precisa se policiar um pouco mais, e já está se segurando. Não tem dado declarações polêmicas", disse o aliado Alberto Fraga (DEM-DF), deputado federal que pode perder o mandato por não fazer o mesmo. 

Enquanto o presidenciável silenciou sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), Fraga propagou que ela tinha relações com o tráfico, o que é mentira, e agora responde a um processo na Câmara

Calculando que Lula estará fora da eleição, o grupo de Bolsonaro mira agora uma polarização com Ciro Gomes (PDT), em estratégia para atrair o eleitorado que não quer a esquerda no poder. 

 

Considerado preparado, bem informado e bom de oratória, o ex-governador do Ceará é visto hoje como o principal adversário de Bolsonaro, se não cometer deslize que o derrube até outubro. 

A verborragia de Ciro, aliás, é motivo de identificação para Bolsonaro. À rádio cearense Assunção, em outubro passado, o deputado disse ter "muitas coisas em comum" com Ciro. "Nossa defesa é pelo Brasil, mas pecamos às vezes pelas palavras que dizemos", afirmou.

Em março, Bolsonaro entrou na Justiça contra Ciro, que o acusou de lavagem de dinheiro por ter devolvido ao partido R$ 200 mil doados pela JBS e recebido do partido a mesma quantia. O juiz negou, mas o assunto não sai da cabeça do ex-capitão, que volta e meia se defende publicamente da acusação.

A avaliação do grupo de Bolsonaro coincide com a da consultoria Eurasia, cujo diretor Christopher Garman disse que, sem Lula, aumentam chances de um segundo turno entre o deputado e Ciro.

Para o entorno de Bolsonaro, Geraldo Alckmin (PSDB) não tem demonstrado capacidade de empolgar, em razão da fragmentação de seu campo político. Para reforçar a tese, o ex-capitão está na frente de Alckmin em SP nas pesquisas.

 
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