Descrição de chapéu Eleições 2018

Em campanha, Doria conta com PM que o auxiliava na prefeitura

Capitão João Mandese trabalha de férias como voluntário, diz equipe do tucano

Anna Virginia Balloussier
São Paulo

Às 8h46 do último dia 19, uma quinta-feira, o capitão da Polícia Militar João Paulo Mandese postou uma foto em suas redes sociais: uma xícara de café com o logo da Band e a localização em que se encontrava, a Rádio Bandeirantes.

O então prefeito João Doria no evento SP Animal; o capitão da PM Mandese está de camisa azul
O então prefeito João Doria no evento SP Animal; o capitão da PM Mandese está de camisa azul - Renato S. Cerqueira - 27.ago.2017/Futura Press/Folhapress

Naquela manhã, João Doria (PSDB) concedia uma entrevista dentro de uma série que a estação vem fazendo com os pré-candidatos ao governo de São Paulo.

No dia seguinte, Mandese acompanhou Doria num encontro em que o tucano discutiu as eleições de outubro com o presidente Michel Temer —uma de suas funções foi gravar com celular entrevista de Doria a jornalistas. No sábado (21), o ex-prefeito paulistano foi a Campinas e levou junto, mais uma vez, o PM.

A rotina compartilhada vem desde os tempos de Doria prefeito. Quando Doria assumiu o cargo, em janeiro de 2017, Mandese foi designado como seu ajudante-de-ordens —é de praxe que capitães da PM exerçam essa função, que consiste em acompanhar o governante em saídas e zelar por sua assistência pessoal.

Ao sair da prefeitura para disputar a sucessão de Geraldo Alckmin, no dia 6 de abril, Doria continuou contando com os serviços de Mandese.

O regimento da PM classifica como “transgressão disciplinar” o exercício de “função de segurança particular ou qualquer atividade estranha à instituição com prejuízo do serviço ou com emprego de meios do Estado”.

Em nota enviada pela Secretaria de Segurança Pública, a PM diz que seu capitão “se encontra em afastamento regulamentar [férias ou licenças, por exemplo] e desconhece qualquer atividade extra do oficial”. A pasta, que tem a PM sob sua guarda, afirma que “determinou ao Comando-Geral [da PM] que instaure apuração preliminar visando a inteira apuração dos fatos”. 

Um mês antes de deixar a prefeitura, Doria publicou decreto para estender a ex-prefeitos os serviços de segurança pessoal que a PM presta para o atual detentor do cargo. 

Ou seja, ele poderia usufruir de proteção policial por um ano a partir do momento em que deixasse o Executivo paulistano —o que incluiria sua temporada em campanha. Dias depois, o ex-prefeito revogou o decreto, após enfrentar ações na Justiça, atritos com PM e oposição de vereadores. 

No LinkedIn, rede social para contatos profissionais, Mandese ainda mantém o status de ajudante-de-ordens da prefeitura. De 2011 a 2016, cumpriu o mesmo papel para o governo de Alckmin (PSDB). 

Durante os 15 meses em que Doria foi prefeito, o capitão rodou o Brasil e o mundo. O Diário Oficial traz as diárias recebidas para tanto. Por uma semana em Nova York em maio de 2017, teve como ajuda de custo um total de US$ 1.500. Mais destinos: Miami (US$ 300), Itália (US$ 500) e Coreia do Sul (US$ 1.600).

ADMIRAÇÃO NAS REDES 

A afeição por Doria e o repúdio pelo PT transbordam em suas redes sociais. Em janeiro, reproduziu post em que o então prefeito celebrava “um ano de gestão com muito trabalho e amor pela nossa cidade”. No dia 13 de março, Mandese compartilhou uma foto de Doria com soldados do COE, grupo de elite da PM-SP.

Suas atualizações no Facebook revelam aversão à esquerda. No dia 31 de março de 2014, passados 50 anos do golpe militar, compartilhou a imagem da bandeira brasileira e os dizeres “31 de março de 1964 e nós não viramos Cuba”, com o nome da ilha grafado em vermelho. 

Dois meses depois, divulgou uma imagem da então presidente Dilma Rousseff (PT) com a apresentadora Xuxa. A legenda: “Falavam que a Xuxa tinha um pacto com o demônio. Eu nunca acreditei...” Também já se referiu à ex-presidente como “safada!!!!!!!”.

Também naquele maio, Mandese postou uma ilustração de Lula com uma mula, com a primeira letra do nome do petista (L) e do animal (M) em destaque. “Separados por uma letra”, dizia a legenda.

OUTRO LADO

Procurada pela Folha, a prefeitura diz que “João Paulo de Camargo Andrade Mandese, integrante da Assessoria Policial Militar da Prefeitura, encontra-se atualmente em férias”, sem especificar começo e fim do período ausente. 

Já a equipe do ex-prefeito afirma que o PM “acompanha voluntariamente algumas agendas do pré-candidato” e acrescenta: “Cabe ressaltar que ele não presta serviços de segurança e não recebe nenhum tipo de remuneração da pré-campanha”.

Ele ganha R$ 13 mil por mês, de acordo com o Portal da Transparência do estado. 

A reportagem procurou Mandese por telefone e deixou uma mensagem para ele, mas não obteve resposta.
Coronel reformado da PM e ex-secretário nacional de Segurança Pública do governo FHC, José Vicente da Silva diz que Mandese não pode ser remunerado por atividades fora do expediente. 

Mas haveria prerrogativas para trabalhar como voluntário, desde que não haja qualquer tipo de remuneração. “Na campanha de Franco Montoro em 1982, colaborei voluntariamente, usando três meses de licença prêmio.”

“Se continuar ao término das férias seria irregular”, diz.

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