Perícia da Odebrecht foi objeto de disputa

PF ganhou direito de analisar 54 terabytes de sistemas de contabilidade da empresa por decisão de Moro

Ana Luiza Albuquerque FLÁVIO FERREIRA
De Curitiba

No fim do ano passado, órgãos envolvidos na Lava Jato entraram em disputa pela menina dos olhos dos peritos ---a análise de 54 terabytes dos sistemas Drousys e MyWebDay, da contabilidade paralela da Odebrecht.

Em setembro, o juiz Sergio Moro determinou a realização da perícia. Durante um mês, o Setec (Setor Técnico-Científico) da PF (Polícia Federal) do Paraná, a PGR (Procuradoria-Geral da República), o MPF-PR (Ministério Público Federal do Paraná) e o Ginq (Grupo de Inquéritos do Supremo Tribunal Federal) da PF de Brasília debateram sobre quem ficaria responsável pelo extenso trabalho.

Ao final, Moro decidiu que a perícia ficaria a cargo da PF do Paraná. 

Fachada da empresa Odebrecht, cujo sistema foi periciado - Eduardo Anizelli/Folhapress

Assim, a equipe precisou se deslocar até Brasília para copiar os discos, que estavam sob posse da PGR desde o início de 2017. A entrega do material pela Odebrecht, originalmente arquivado em servidores na Suécia e na Suíça, foi exigência dos acordos de colaboração e leniência firmados com o órgão.

Desde o início de novembro, quando começou a análise, foram cerca de quatro meses, oito peritos e muitas horas extras para entregar as 321 páginas do laudo. 

O chefe do Setec, Fábio Salvador, disse à Folha que a decisão de Moro foi consciente de que a PF-PR apresentava melhores condições de construir um modelo de trabalho que garantisse a integridade da prova.

Ele conta que os delegados de Brasília acreditavam que poderiam atuar com mais celeridade, por ter o apoio do Instituto Nacional de Criminalística, com um grande quadro de peritos de informática e de contabilidade. 

O diferencial do Setec, segundo ele, é o conhecimento adquirido ao longo de três anos e meio de trabalho em torno da Lava Jato. Isso tornaria mais fácil que a equipe rapidamente identificasse nomes, procedimentos e empresas.

“Não somos insubstituíveis, mas tenho certeza de que a expertise adquirida aqui, na marra, nesses três anos, é um potencial muito grande que não pode ser trocado.”

Ainda assim, Salvador diz entender o interesse de outros órgãos em realizar o trabalho. “É ótimo, até, porque põe um pouco de fogo nos nossos colegas aqui. Já imaginou se saísse um laudinho de 10 páginas? Mas saiu esse laudo superconsistente.”

Para receber o material, foi necessário adequar uma sala cofre que já existia na PF, com porta de metal de alta segurança, isolamento por concretagem e sem rede física de acesso de computadores. 

A novidade foi uma porta com controle biométrico e a instalação de câmeras. “Ficou muito mais rigoroso. Eu não entro, a não ser por algum motivo relevante”, diz Salvador.

Desde a divulgação do laudo inicial, já chegaram mais de dez pedidos para a realização de novas perícias em cima dos sistemas. O material pode ajudar a responder questões relativas a diversas ações penais da Lava Jato.

O chefe do Setec defende, entretanto, que o setor precisa de ajuda. Ele diz que a perícia foi muito trabalhosa e que a equipe está sobrecarregada. O recrutamento de novos peritos, por sua vez, esbarra em burocracias.

“Não adianta ter um foguete e não ter gente para operar”, declara.

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