PF cumpre mandados contra senador e deputado do PP suspeitos de tentar comprar silêncio de testemunha

Alvos são o deputado Eduardo da Fonte e o senador Ciro Nogueira; há buscas no Congresso

Agentes da PF deixam o gabinete do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) após apreenderem malotes e mochilas
Agentes da PF deixam o gabinete do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) após apreenderem malotes e mochilas - Pedro Ladeira/Folhapress
Brasília

​A Polícia Federal realiza na manhã desta terça-feira (24) operação no Congresso Nacional, que tem como alvos o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI). Também há um mandado de prisão contra o ex-deputado Márcio Junqueira, de Roraima.

Na nova fase da Lava Jato, o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), aponta a necessidade de obter provas referentes aos crimes de embaraço à investigação de organização criminosa.

O deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) durante sessão na Câmara
O deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) durante sessão na Câmara dos Deputados - Gustavo Lima - 12.jun.2013/Divulgação/Câmara dos Deputados

Em nota, a Procuradoria-Geral da República afirmou que estão sendo cumpridos nove mandados, sendo oito de busca e apreensão e um de prisão preventiva. 

Embora não cite o nome dos parlamentares (devido ao sigilo da operação), a PGR diz que as ordens determinadas por Fachin, a pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, têm como objetivo "reunir mais provas provas de que os dois políticos tentavam comprar o silêncio de um ex-assessor que tem colaborado com as investigações."

O ex-parlamentar é apontado, segundo a PGR, como "o intermediário do esquema, que inclui o pagamento de despesas pessoais, ameaças e até proposta para a mudança do teor de depoimento que incriminaria os alvos da operação de hoje".

A procuradoria afirma que as buscas ocorrem, além de Brasília, em em Teresina, Recife e Boa Vista. 

Em sua decisão, Fachin autorizou a Polícia Federal a recolher documentos, artigos eletrônicos e dinheiro em espécie acima de R$ 50 mil, entre outros itens.

Fachin determinou que os mandados sejam cumpridos "com a máxima discrição e com a menor ostensividade".

Nas ordens de buscas nos gabinetes dos parlamentares, Fachin destacou que os mandados devem ser cumpridos com o acompanhamento de um funcionário do Congresso e que as justificativas para os itens recolhidos devem estar fundamentadas nos autos da operação.

Um dos partidos mais implicados na Lava Jato, o PP também foi uma das siglas que mais atraíram congressistas na última janela que permitiu a livre migração de deputados entre os partidos. A legenda chegou a 51 parlamentares e se tornou, ao lado do MDB, a segunda maior bancada da Câmara.

Os policiais federais chegaram à Câmara e ao Senado nas primeiras horas da manhã. Na Câmara, o sexto andar do prédio de gabinetes, onde fica o de Eduardo da Fonte, foi isolado pela Polícia Legislativa. No Senado, a PF chegou em um carro descaracterizado. O terceiro andar, onde fica o gabinete de Ciro Nogueira, também foi isolado para o trabalho dos policiais.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) no plenário do Senado Federal
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) no plenário do Senado Federal - Pedro Ladeira - 15.jul.15/Folhapress
 

OUTRO LADO

Em nota, a defesa do senador Ciro Nogueira informou que está acompanhando as buscas que estão sendo realizadas na residência e no gabinete. 

Seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, diz que Ciro está fora do país, que não foi possível falar com ele e que desconhece as razões da determinação judicial do ministro Fachin. 

"É certo que o senador sempre se colocou à disposição do Poder Judiciário, prestando depoimentos sempre que necessário e, inclusive, já foi alvo de busca e apreensão. Continuará a agir o senador como o principal interessado no esclarecimento dos fatos. No momento, a defesa aguarda contato com o senador para poder ter o necessário instrumento de poderes que dará direito ao acesso aos fundamentos da medida de busca e apreensão", diz o texto.

De acordo com pessoas que acompanham a operação, policiais federais fizeram cópias dos HDs dos computadores do gabinete de Eduardo da Fonte.

O parlamentar está no Recife e deve chegar a Brasília no início da tarde desta terça-feira.

O deputado se manifestou apenas com uma breve declaração encaminhada por sua assessoria.

"Estou à disposição da Justiça sempre. Confiamos nela e em Deus", disse Fonte. ​

Pela tarde, em novo comunicado, a defesa de Ciro Nogueira afirmou que a operação apreendeu dinheiro em espécie na casa do parlamentar e que o montante é justificado facilmente, "pois  o senador tem em seu IR valores em moeda regularmente declarados". 

De acordo com seu advogado, "dentro dos cofres localizados na residência, cujas senhas foram voluntariamente fornecidas pelo casal, também tinham pertences e valores particulares de sua esposa, que é deputada federal". Ciro Nogueira é casado com Iracema Portella (PP-PI).

Os agentes não levaram documentos da residência do político.

Já no gabinete, a PF apreendeu dois HD de assessores do parlamentar, além de examinar o computador do senador, que não foi levado, apurou a reportagem. "Os poucos documentos apreendidos no gabinete do senador não causam nenhuma preocupação", diz a nota da defesa.

"A afirmação de que o senador, de alguma maneira, pudesse ter feito qualquer movimento a ser equivocadamente entendido como tentativa de obstrução é , nas palavras do senador, completamente fora da realidade", escreveu Kakay.

O advogado destacou que os mandados de busca e apreensão, embora desnecessários, foram cumpridos dentro da legalidade e que o senador "continua à disposição do Poder Judiciário para todo e qualquer esclarecimento, como sempre esteve".

A reportagem não obteve resposta da defesa dos outros alvos.

Camila Mattoso, Fábio Fabrini , Letícia Casado e Daniel Carvalho
Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.