Descrição de chapéu Eleições 2018

Eleitorado brasileiro no exterior aumenta 41%

Para especialista, crescimento é motivado por preocupação com crises no país

Jair Bolsonaro acenando com chapéu oriental
O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) é recebido por apoiadores em Hamamatsu, no Japão - Osny Arashiro - 25.fev.2017/Folhapress
Géssica Brandino
São Paulo

Eliane Bacelo, 55, não vota há 28 anos, desde que emigrou com a família do Rio de Janeiro para os Estados Unidos, primeiro para Nova York e depois para Fort Lauderdale, cidade ao norte de Miami, na Flórida. Ela conta que não se achava no direito de opinar, por viver em outro país. Neste ano, preocupada com o que chama de caos no Brasil, mudou de ideia. Regularizou o título, assim como o marido. 

O casal faz parte dos 500.729 mil eleitores brasileiros no exterior que estão aptos para votar nas eleições presidenciais deste ano, de acordo com dados do cartório da zona eleitoral do exterior do TRE-DF, responsável pelo atendimento de todos os eleitores domiciliados fora do país. Isso representa 0,3% do total do eleitorado do Brasil nas eleições de 2016, que foi de 144 milhões de pessoas.

O número é semelhante ao eleitorado de São José dos Campos, no interior paulista, que tem cerca de 509 mil eleitores.

Comparado a 2014, quando eram 354.184 mil eleitores fora do país, o crescimento foi de 41%.

Juliana Bandeira, chefe do cartório, informa que apenas em 2018 foram processadas mais de 77 mil solicitações de alistamento ou transferência eleitoral por meio do sistema Título Net Exterior.

Para o professor de relações exteriores da UERJ Maurício Santoro um crescimento expressivo do eleitorado fora do país pode ser reflexo do aumento de brasileiros no exterior e da preocupação com o cenário do país.

“Talvez motivados pela situação de crise do Brasil, esses brasileiros que estavam fora resolvam votar”, diz.

No caso de Elaine, ela diz que a motivação foi o medo de ver Jair Bolsonaro (PSL) eleito presidente. “Ele é um radical, não tem plano e não podemos correr esse risco”, afirma. Guia de turismo e motorista de Uber, ela diz que pretende votar em algum candidato da esquerda. 

Também nos Estados Unidos, a farmacêutica Márcia Tanaka, 38, e a universitária Samantha Moura, 24, transferiram o título em fevereiro. Elas dizem acompanhar as notícias do país com preocupação e consideram importante exercer o papel político. 

Em julho, Márcia completa um ano vivendo em New Jersey, para onde se mudou por conta do trabalho do marido. Sem conseguir emprego em sua área de formação, diz que pretende voltar para o país daqui dois anos e espera ver a economia recuperada, com uma reforma previdenciária aprovada. Se a eleição fosse hoje, votaria no empresário Flávio Rocha (PRB).

Eleitora de Dilma Rousseff, Samantha deixou o país no dia em que o impeachment da petista foi aprovado pela Câmara dos Deputados, em abril de 2016, para trabalhar de babá por meio de um programa de Au Pair em New Jersey, depois seguiu para Flórida e de lá para Nova York, onde começou a cursar ciências ambientais e namorar um americano. Pretende continuar fora do país, mas acompanha a situação do Brasil, que resume como horrível. 

“É tudo muito retrógrado, mas não sei se tenho mais medo do Alckmin do que do Bolsonaro”, diz. Ex-moradora da zona leste de São Paulo, ela diz ter gostado das propostas de Ciro Gomes (PDT). 

Ambas mantêm contato com a família no Brasil, enviam dinheiro e influenciam nas escolhas políticas dos parentes. “As pessoas que ficaram no Brasil estão mais desanimadas”, afirma Márcia. “Sou a do meio de cinco irmãos e costumo influenciar bastante. De certa forma decido em quem eles vão votar”, diz Samantha.

Segundo Santoro, essa parcela do eleitorado ainda passa despercebida pelos candidatos. “De maneira geral, os políticos brasileiros ainda não acordaram para a importância desse eleitor que vive fora do país, mas isso está começando a mudar. Tem o caso do Bolsonaro, que tem feito uma série de comícios no exterior voltados exatamente para esse público”, diz.

Em fevereiro, o deputado federal e presidenciável esteve na cidade japonesa de Hamamatsu e depois seguiu para a Coreia do Sul e Taiwan. Apesar do tour asiático, nem todos por ali conhecem o pré-candidato, caso da brasileira Michelle Mukae, 30 anos, que vive na ilha japonesa de Okinawa. 

No país há 14 anos, ela votou nas duas últimas eleições “contra Lula e contra o PT”, mas ainda não acompanha as notícias sobre as eleições deste ano. Trabalhando num restaurante, conta que conhece vários conterrâneos na ilha, porém a política fica de fora das conversas. “Todos querem falar, mas ninguém respeita”, afirma.

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