Descrição de chapéu Eleições 2018

Bastião tucano em 2014 é trincheira de Bolsonaro no Sul

Em Santa Catarina, cidade mais tucana pende para deputado federal e Alvaro Dias

Igor Gielow
Benedito Novo (SC)

Na guerra eleitoral de 2014, o campo de batalha que acabou mais encharcado de azul foi Santa Catarina. Lá, o PSDB, associado à cor em contraposição ao vermelho do PT, amealhou sua melhor votação proporcional no país, 64,59% para Aécio Neves no segundo turno.

No estado, nenhuma cidade foi mais tucana do que Benedito Novo, no vale do Itajaí, onde Aécio teve 83,14% dos votos. “Derrotaram Dilma Rousseff. Mas nós, do centro, fomos incompetentes. O resultado está aí”, diz o jovem prefeito da cidadezinha, Jean Michel Grundmann (PP).

A resultante a que ele se refere é o apoio a Jair Bolsonaro (PSL) na região. “O Geraldo Alckmin tem pouca aceitação. A votação grande será de Bolsonaro e, talvez, um pouco para o senador Alvaro Dias (Podemos), que é do Sul”, afirma o presidente da Câmara, Almir Butzke (PSD), 35.

Tanto é assim que a campanha tucana tem como uma prioridade recuperar o Sul, onde o partido teve quase 60% dos votos em 2014.

Em pesquisa Datafolha de junho, Alckmin estava atrás dos principais rivais na região, com 5%. Bolsonaro tinha 22% e Dias, 14%. Marina Silva (Rede, 9%) e Ciro Gomes (PDT, 8%) estavam à frente, mas o PSDB crê que murcharão naturalmente por ali.

Para tanto, escalou como vice do tucano Ana Amélia, senadora pelo PP-RS com apelo junto ao agronegócio dominante na região.

Grundmann, eleito aos 28 anos após a cassação do prefeito em 2014 e reeleito em 2016, diz que “o centro se afastou das pessoas”.

“Aqui, Bolsonaro está em campanha na internet há dois anos”, afirmou, após atender cinco moradores em seu gabinete. “Eu tento fazer diferente, mas isso funciona no dia a dia.”

A cobertura de internet na região, na casa dos 70%, parece ter garantido a capilaridade que Bolsonaro não tem com estrutura partidária. Seu candidato a governador é um virtual desconhecido no estado.

Legendas são quase um detalhe na região, honrando a máxima norte-americana de que toda política é local.

Grundmann foi eleito e governa com apoio do PT, mas seu PP está com Alckmin.

Agora, o PP apoia a candidatura estadual de Gelson Merisio, do PSD que está com Alckmin, mas esteve com Dilma em 2014. Ele enfrenta o PT de Décio Lima, que saiu na frente em pesquisas, e o candidato da situação, Mauro Mariani (MDB), coligado ao PSDB.

Mariani e Merisio dão palanque a Alckmin, mas há dúvidas sobre a empolgação do PSD. A dúvida que fica é: chegará à ponta a mensagem pró-tucanos na propaganda regional?

Um fator a analisar é o quanto a campanha irá associar uma parceria estado-União a benfeitorias locais. Dos R$ 23 milhões de receita do orçamento de Benedito Novo, 80% são providos por repasses federais, 16% pelo estado e apenas 4%, da arrecadação.

O tucanato encontrará uma trincheira. “Eu vejo nas redes sociais que ele é diferente”, diz Kerle Engel, funcionária de uma loja de conveniência na casa dos 30 anos, ex-eleitora de Aécio hoje com Bolsonaro. Sua mudança também tem a ver com a decepção que sente pelo envolvimento de Aécio em denúncias de corrupção. Instada a desfiar propostas do deputado, ela só repete que “ele é diferente”.

Centrão

Com uma área grande, com 700 km de vias pavimentadas, o município só tem 11.425 habitantes, 8.155 dos quais votam. A indústria, principalmente têxtil e de celulose, empregava com carteira assinada 3.216 pessoas em 2016, e o caráter da região é rural.

“As pessoas estão desiludidas. Acham que todo mundo é igual, que o Alckmin se aliou aos de sempre, o pessoal do centrão”, afirma alguém com contato direto com a população mais carente, Serli Costa, 54.

Ela coordena o Centro de Assistência Social. “Há muito analfabetismo político. Eu mesma votaria no Lula, mas ele está preso. Então voto num porco, se ele indicar.”

A frase trai a salada política natural nesses rincões. Concursada, Serli é filiada ao PSD e se define, contudo, como uma “militante de esquerda”. Reserva palavras pouco publicáveis ao que chama de bolsonistas.

O senador Dias, ex-governador do Paraná, é bastante elogiado por políticos locais. Não é um acaso que Ana Amélia tenha dedicado os três primeiros dias da campanha eleitoral em visita ao estado.

“Ela não é confiável. Estava com os que apoiam o Bolsonaro, mudou de lado”, diz Cláudio Hartmann, 62, presidente da Associação dos Produtores de Soja de Santa Catarina.

No Rio Grande do Sul, terra de Ana Amélia, as impressões são mais matizadas.

“É uma incógnita o que vai acontecer. Hoje o Bolsonaro entende melhor as aspirações do agro e da região, mas a campanha não começou de fato”, diz Carolina Rossatto, 43.

Há 20 anos diretora da empresa gaúcha de máquinas agrícolas Semeato, empregando 500 pessoas, Carolina preside o sindicato do setor —que gera 25 mil empregos, com 65% do mercado no Brasil.

Ela não fala pelo sindicato e diz não ter definido voto, mas reclama que Brasília esqueceu o setor produtivo. É uma queixa que conversa com a de Grundmann, igualmente sem candidato ainda, embora rejeite Bolsonaro por “extremismo e militarismo”.

'Sul azul'

Para o coordenador de agro de Bolsonaro, Frederico D’Ávila, 40, “o Sul sempre foi azul”. Não há uma estratégia para rebater a investida do PSDB, diz ele, que foi consultor do então governador Alckmin e hoje é candidato a deputado estadual pelo PSL-SP. O campo, diz, já está semeado.

Por ora, os sinais da eleição são tênues na área de Benedito Novo —exceto que se considere uma placa pedindo intervenção militar, numa casa à beira da rodovia SC-477 em Timbó, como manifestação associada ao pleito.

Em três dias, apenas um carro com adesivo eleitoral foi avistado. Era a velha caminhonete de Alcides Muege, 55, dono de uma oficina em Indaial. “Eu acho que todo mundo aqui votaria no Lula se ele não estivesse preso. Agora é Bolsonaro. Claro, podem descobrir algo dele na campanha, aí tem de ver”, afirmou.

Diz que seus adesivos, que conseguiu numa visita do candidato a Blumenau ano passado, são invejados. “Todo mundo quer, mas não sei a quem pedir”, diz, exemplificando na prática as dificuldades estruturais da candidatura.

Em 2014, ele não votou, mas simpatizava com o PSDB. Muege tem um complemento de renda de R$ 1.300 oriundos da pensão de colono do pai, Otto.

“Meu pai também combateu na Segunda Guerra, e por isso voto no Bolsonaro. Ele é militar”, disse, mostrando o adesivo da Associação de Veteranos da Força Expedicionária Brasileira. “Vai ser uma batalha”, afirmou. O PSDB que o diga.

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