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Em livro, Soninha narra 'amizade inesperada' com Serra e vaivéns com Doria

Anna Virginia Balloussier
São Paulo

No mesmo 2005, a vereadora Soninha Francine (PPS-SP), 50, conheceu dois tucanos que, para o bem ou para o mal, ganhariam um capítulo à parte em sua vida.

Pois José Serra e João Doria mereceram capítulos literais em "Dizendo a que Veio - Uma Vida Contra o Preconceito" (Tordesilhas, 176 págs., R$ 29,90), livro recém-lançado pela jornalista e ex-VJ da MTV. Com o primeiro, a melhor das relações; com o segundo, nem tanto. 

"Esse Tipo de Amigo" é o título das páginas dedicadas à sua relação com Serra.

Soninha Francine em jantar na casa do casal Marcos e Bete Arbaitman
Soninha Francine em jantar na casa do casal Marcos e Bete Arbaitman - Marcus Leoni - 19.jan.17/Folhapress

O primeiro contato foi no Carnaval de 13 anos atrás. Ele, à época à frente do Executivo paulistano, recebeu-a no camarote da prefeitura e se apresentou como um admirador de seu trabalho.

Disse-lhe que queria que fosse candidata a vereadora pelo PSDB, mas ficou decepcionado ao saber que ela disputaria o cargo... pelo PT, seu partido antes de migrar para o PPS. 

"Achei o cúmulo", lembra Soninha no livro. Afinal, ela se julgava de esquerda, e, na sua cabeça, os tucanos seriam o outro polo. Mas Serra jurou que, como ela, pertencia ao lado canhoto da régua ideológica.

A vereadora narra a evolução "daquela amizade inesperada e improvável". "O Serra me levava em consideração, me consultava, me ouvia. Cheguei a dizer para amigos: 'Estou apaixonada por ele!' Burra..."

Já o tucano gostava de sua "espontaneidade", seus "modos heterodoxos", sua "sinceridade", conta Soninha. "O que não quer dizer que não queria me consertar."

Soninha conta que dele já ouviu: "Mas você é tão bonita, precisa andar com esse tênis horroroso? Penteia o cabelo, passa um batonzinho".

Tamanha proximidade deu margem para fofocas sobre que tipo de amigos os dois eram. Na obra, ela fala sobre o boato de que eles tinham um caso. "Começaram a falar que eu era amante dele."

O disse-me-disse foi longe demais, narra Soninha. "Havia um grupo de vereadores que me encarava com aquele olhar malandro, de boteco." Um deles, Antonio Carlos Rodrigues (PR), chegou a usar a tribuna para fazer uma piada sobre o assunto. "Vocês querem saber onde está o Serra? Perguntem pra Soninha." 

Ela definiu 2010 como "o pior ano de sua vida". Foi quando editou o site oficial do amigo, que entrava em sua segunda corrida pelo Palácio do Planalto —a primeira, em 2002, perdeu para Lula; nesta, seria derrotado por Dilma.

O eleitorado mais à direita tratava sua posição contra a legalização do aborto "como se fosse a coisa mais importante do mundo", a esquerda revidou e tascou-lhe a pecha de "reacionário". Soninha já afirmou, em entrevistas à imprensa, ter feito um aborto. 

No meio disso tudo, a "história horrenda da bolinha de papel", como ela descreve o dia em que Serra foi golpeado por um objeto durante um comício. Soninha reforça a versão serrista para o episódio, de que o dia foi de uma violência incomum. "Formaram um verdadeiro corredor polonês." 

Naquela campanha tão estressante, diz, ela voltou para os 49 kg, o peso de seus 14 anos. "Ouvi muitas vezes: para, Soninha, você defende mais o Serra do que ele mesmo. Sim, sou esse tipo de amigo." 

​João Doria 

Soninha conheceu João Doria por intermédio de Luana  Piovani. Não foi amor à primeira vista.

A atriz a convidara para um jogo de futebol beneficente na mansão do empresário, no Jardim Europa, um dos mais nobres bairros paulistanos. "Entrei e fiquei embasbacada. Mano, o que alguém produzia para ter tanto dinheiro?"

"A entrada do carro já era gigante", relata Soninha. "Depois dela vinham uma baita casa, campo de futebol, quadra de tênis, piscina e vestiários maiores do que os que eu tinha visto em qualquer academia."

Era 2005, dois anos antes de Doria, então apresentador do programa "Show Business", flertar com a política ao criar o Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros –vulgo Cansei.   

O evento seria apartidário, mas antes da partida o anfitrião fez um discurso no qual saudou Geraldo Alckmin como "futuro presidente do Brasil". Soninha não ficou nada contente.

"Eu, serrista que só, achei mais um motivo para não ir com a cara dele", conta. Na época, Alckmin e Serra eram dois nomes tucanos ventilados para a disputa presidencial de 2006. O primeiro acabou ganhando o direito de ser candidato —e perdendo aquele pleito para Lula (PT).

Foram mais de dez anos até seus caminhos cruzarem de novo. Doria, agora sim, já entrara definitivamente na política: tinha acabado de vencer as prévias para ser o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo. "Lembro de uma tucana que ficou revoltada: por que o PSDB escolheu justo o candidato que é o mais coxinha?"  

O tucano acabou conquistando sua simpatia. Fez campanha para ele e, certo dia, ouviu do novo aliado: "Eu vou ser prefeito, e você vai trabalhar comigo". Que seja feita a tua vontade. 

Soninha topou o convite para ser sua secretária de Assistência Social. Não demorou muito, contudo, para a relação entre os dois degringolar. "A capacidade de ouvir era uma das qualidades que mais me fizeram gostar de Doria, e que ele vinha perdendo velozmente." 

Também não havia química entre ela e Filipe Sabará, seu adjunto na pasta. Doria o tratava como queridinho, Soninha concluíra.  "Eu dizia que não era possível resolver problemas complexos tão rápido, ele garantia que era."

No livro, ela desvicula o desgaste no relacionamento com Doria ao dia em que o chefe criou a "Lei Soninha" para quem chegasse atrasado nas reuniões do secretariado.

Era um evento de limpeza urbana, quando o então prefeito e seus secretários se vestiram de garis antes do nascer do sol. "Nervosa", ela queria levantar às 4h30, mas apagou. Quando despertou, já eram 6h.

Um dia, Doria a chamou para voltar à mansão que conhecera uma década antes, levada por Luana Piovani. Desta vez, para ser dispensada pelo ex-apresentador da versão brasileira de "O Aprendiz", o programa do bordão "você está demitido!", consagrado por Donald Trump.

Para demiti-la, Doria propôs gravar um vídeo. Soninha estava ao lado do prefeito na gravação e na hora não falou nada. "Eu não desfaço a cara de tristeza, o meu desapontamento", diz no livro.

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