Descrição de chapéu Eleições 2018

Empresa de petista do caso de tuítes pagos atuou para 4 partidos em 2016

Companhia de deputado foi contratada por Crivella e Índio e tem dívida de R$ 304 mil com a União

Artur Rodrigues
São Paulo

A empresa de um petista envolvido no episódio de posts pagos para elogiar candidatos do partido em redes sociais acumula dívidas e já prestou serviços para outras legendas em eleições passadas. 

A Formula Tecnologia, do deputado federal Miguel Corrêa (PT), é a criadora de aplicativo citado como plataforma usada por ativistas no serviço de posts positivos para candidatos no partido. 

Criada em 2014, a empresa prestou serviços em redes sociais até para candidatos adversários do PT em pleitos, como Marcelo Crivella (PRB), nas últimas eleições para prefeito do Rio de Janeiro. A companhia também atuou para PSD, PT do B e PT. 

À Folha, Corrêa diz que a empresa é especialista em "sociologia web" e que faz tudo "tudo na legalidade". 

A Formula é a empresa mãe de um pool de outras menores da área de tecnologia, de propriedade de Corrêa, de assessores e ex-assessores dele, que funcionam no mesmo endereço em um bairro nobre de Belo Horizonte. A Follow, que surgiu da Formula, e a Be Connected, de um assessor parlamentar, foram apontadas como envolvidas na compra de apoio de influenciadores. 

O caso estourou porque uma militante de esquerda disse ter sido contratada para elogiar no Twitter candidatos petistas como Luiz Marinho e Gleisi Hoffmann. Após se recusar a elogiar o governador do Piauí Wellington Dias (PT), ela tornou o caso público na internet, gerando uma onda de críticas contra a prática. 

Logo depois, apareceram outros militantes reclamando de não terem sido pagos, conforme prometido. No quesito débitos, o nome da Formula consta ainda na dívida ativa da União com o valor de R$ 304 mil, o que, segundo o deputado, se deve a dificuldades financeiras. 

Há quatro anos, também houve relatos de cabos eleitorais que acusavam a empresa de falta de pagamento, após trabalharem na campanha de Agnelo Queiroz (PT), ao governo do Distrito Federal. Na ocasião, a Formula recebeu R$ 630 mil para atuar na campanha do então governador para realização de pesquisas. Após Queiroz não se reeleger, cabos eleitorais reclamaram em redes sociais. 

Nas últimas eleições municipais, aumentou o rol de clientes da empresa. Entre eles, estavam dois candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro: Índio da Costa (PSD) e Marcelo Crivella, que venceu as eleições. 

Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Crivella declarou ter gasto R$ 100 mil reais a título de "serviços com terceiros". A reportagem procurou a assessoria do prefeito do Rio para detalhar o gasto, mas não obteve resposta. 

Corrêa ao lado da mulher Letícia (esq.) e da presidente do PT-MG
Corrêa ao lado da mulher Letícia (esq.) e da presidente do PT-MG - Júnia Garrido/Futura Press/Folhapress

Já Índio declarou R$ 297 mil em gastos com a empresa de Miguel Corrêa. Segundo a nota fiscal disponível no site do TSE, a contratação se deu a título de "planejamento de campanhas ou sistemas de publicidade". Índio não foi localizado para comentar o assunto. 

Ambos os candidatos eram rivais da coligação da qual o partido de Corrêa fez parte, cuja cabeça de chapa era Jandira Feghali (PCdoB). 

Naquele mesmo ano, a empresa trabalhou também para o PT do B de Minas e para o diretório petista de Ribeirão das Neves, onde a prima de Corrêa concorria à reeleição. Ela acabou perdendo. Naquele ano, a irmã de Corrêa, Cristina (PT), também não conseguiu se eleger prefeita da cidade mineira de Santa Luzia. 

O deputado afirmou à Folha que sua vida política e empresarial são separadas. "Cabe a mim respeitar meus clientes e no tempo correto, se questionados, eles se apresentarão", afirmou. 

De acordo com ele, inicialmente, a Formula foi criada para prestar serviços de desenvolvimento de programas de computador. Depois, passou a realizar serviços de "internet, agência de publicidade, pesquisas de mercado e opinião pública". 

Sobre a dívida com a União, ele afirma que "no último ano, a empresa enfrentou dificuldades, mas tal dívida foi refinanciada e tem sido paga a medida do possível".

Corrêa nega que tenha havido qualquer pagamento para que militantes fizessem postagens elogiosas e afirmou que "inverdades, suposições e calúnias que surgiram nos últimos dias." 

No entanto, um vídeo publicado na internet mostra um ex-assessor de Corrêa prometendo pagamento. "Os R$ 500 é o início do nosso projeto. Os melhores ativistas vão muito além disso", disse o rapaz.

Colaborou Carolina Linhares

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