Descrição de chapéu Eleições 2018

Empresas suspeitas de articularem pagamento a influenciadores são ligadas a petista

Startup envolvida é de assessor de deputado e candidato ao Senado do PT

Artur Rodrigues
São Paulo

As empresas envolvidas no caso de suspeita de pagamento para influenciadores digitais elogiarem candidatos petistas são ligadas ao deputado federal e candidato ao Senado pelo PT, Miguel Corrêa Júnior. 

A empresa que teria contratado a agência que lidou com os influenciadores é de um assessor parlamentar dele e fica no mesmo escritório onde funcionam duas empresas do deputado. Os tuiteiros também teriam sido convidados a usar aplicativo de empresa do parlamentar. 

O caso ganhou grande repercussão nas redes sociais, com outros relatos de influenciadores e muitas críticas ao PT. 

A jornalista Paula Holanda, militante de esquerda e influenciadora digital,  escreveu no Twitter que foi convidada, em troca de dinheiro, por uma agência de marketing digital mineira chamada Lajoy a promover em seu perfil conteúdo de esquerda. Depois de promover Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da sigla e candidata a deputada federal pelo Paraná, e Luiz Marinho, candidato a governador de São Paulo, ela se recusou a escrever sobre governador do Piauí, o petista Wellington Dias. 

Esse tipo de prática é proibida pela legislação, que estabelece que só é permitida propaganda eleitoral em redes sociais no modelo de impulsionamento, em que candidatos, partidos e coligações contratam diretamente a rede social.

A dona da Agência Lajoy, Joyce Moreira Falete Mota, afirmou ter sido contratada, para os meses de junho e julho, por uma empresa chamada Be Connected. A empresa tem como um dos sócios o assessor parlamentar de Corrêa Júnior, Rodrigo Queles Teixeira Cardoso. 

A data de abertura da empresa é do mês passado, pouco antes do período eleitoral. A Be Connected fica em uma sala da rua Fernandes Tourinho, na Savassi, bairro nobre de Belo Horizonte. Neste mesmo local, de acordo com dados da Receita Federal, funcionam as empresas Fórmula Tecnologia e Follow Análises Estratégicas, ambas do deputado Corrêa Júnior. 

Follow Now, da empresa de mesmo nome, é uma plataforma onde tuiteiros disseram que eram convidados a entrarem. Na plataforma, seriam incluídas notícias positivas sobre petistas para compartilhamentos. 
Outro aplicativo com função parecida, da Follow, seria o Brasil Feliz de Novo. A ideia do aplicativo também seria oferecer tarefas a militantes, que vão do compartilhamento de conteúdo até o comparecimento em eventos dos pré-candidatos.

Deputado Miguel Correa (PT/MG) durante votação do orçamento na Câmara, em 2014
Deputado Miguel Correa (PT/MG) durante votação do orçamento na Câmara, em 2014 - Sérgio Lima/Folhapress

Corrêa Júnior afirmou não ser dono da Be Connected, mas admitiu que "em alguns trabalhos Follow e Be Connected apresentaram para clientes análises de monitoramentos de redes de perfis reais de grandes influencers para apontar comportamento e análise deste novo ambiente de debate democrático, de onde nasceram movimentos de unificação de conteúdo".

Questionado sobre o fato de as empresas ficarem no mesmo lugar, ele afirmou ser um "tracionador" que apoia startups e pequenas empresas que funcionam ali. 

O parlamentar também afirmou que nunca existiu "o pagamento de qualquer tipo de valor a estes perfis de grande influência".

O assessor do deputado, Rodrigo Cardoso, afirmou à Folha que seu trabalho na Be Connected não tem ligação alguma com seu trabalho de assessor parlamentar de Corrêa Júnior.

Ele também negou haver pagamentos e disse que o ocorreu foi uma organização de militantes para ações que se tornaram orgânicas, como uma denominada #Lulazord. 

"Acho que é gente querendo ganhar espaço", disse, sobre os tuiteiros que denunciaram propostas de pagamento para elogiar petistas.

Vídeos publicados na internet mostram supostos funcionários do aplicativo explicando, em uma vídeoconferência, como fazer para ser remunerado pela divulgação do material.   ​

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