Descrição de chapéu Eleições 2018

Jornalista retrata em livro tormenta que derrubou Dilma e quase levou Temer

No livro "Mil Dias de Tormenta", Bernardo Mello Franco reuniu textos que publicou na Folha sobre a crise política

Marco Rodrigo Almeida
São Paulo

Foram, de fato, dias de tormenta. Em muitos deles o país pareceu estar na corda bamba, atingido por uma sequência inimaginável de escândalos e crises.

O jornalista Bernardo Mello Franco, colunista do jornal O Globo desde janeiro, foi testemunha dos principais momentos da tempestade política e econômica que varreu o país após a eleição de 2014, cujos efeitos ainda se sentem no pleito que se avizinha.

No livro “Mil Dias de Tormenta” (ed. Objetiva), Mello Franco reuniu alguns dos textos que publicou na coluna Brasília, da Folha, de 1º de janeiro de 2015, início do segundo mandato de Dilma Rousseff na Presidência, a 26 de outubro de 2017, um dia após a Câmara arquivar a segunda denúncia criminal contra Michel Temer (MDB).

Mello Franco nunca havia pensado em reunir o material em livro, mas a editora Objetiva avaliou que suas colunas agrupadas poderiam lançar alguma luz sobre um período tão turbulento. 

Aceito o convite, o jornalista reuniu os textos em ordem cronológica, sem alteração no conteúdo, acrescentando apenas notas explicativas para contextualizar algumas passagens. Também escreveu pequenas introduções para as  sete partes em que se divide o livro e um epílogo. 

A experiência de ler em poucos dias textos publicados ao longo de mais de dois anos realça o aspecto a um só tempo trágico e farsesco do quadro político brasileiro.

“Minha surpresa ao reler e selecionar as colunas foi perceber que passamos por todas essas reviravoltas em pouco tempo e ainda conseguimos sobreviver”, diz o jornalista.

Após vencer a mais acirrada eleição desde a redemocratização do país, com 51,6% dos votos válidos, Dilma iniciou um governo novo que já nasceu velho, escreveu Mello Franco no dia da segunda posse da petista.

Economia estagnada, petistas envolvidos no petrolão, insatisfação nas ruas. O quadro não era alentador, mas isso foi apenas o começo.

Em 15 de março de 2015, protestos contra o governo reuniram quase 1 milhão de pessoas nas ruas do país. Em dezembro daquele ano, Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, deu início ao processo de impeachment após fracassarem negociações entre ele e o governo Dilma para que seu processo de cassação fosse enterrado.

Sem apoio nas ruas e no Congresso, Dilma caiu. O vice, Temer —cujo partido já havia rompido com o PT—, tomou posse definitiva em 31 de agosto de 2016.

Ele também não teve muito tempo para celebrar. Tornou-se o presidente mais impopular da história, foi alvo de duas denúncias de corrupção e quase teve seu mandato cassado pelo TSE. “É interessante ver como os protagonistas do impeachment caíram em desgraça pouco depois”, destaca Mello Franco.
“Temer vive um fim de governo melancólico. Cunha está preso em Curitiba. Aécio, que chegou perto de ser presidente, perdeu seu prestígio com as delações da JBS.”

Do lado petista, Lula lidera as pesquisas para a Presidência, mas está virtualmente inelegível pela Lei da Ficha Limpa, o que leva o país a um novo impasse. Numa das voltas improváveis do destino, Dilma, a mais inábil politicamente dentre eles, pode ser a única com mandato em 2019, pois aparece na frente em pesquisas para o Senado por Minas.

“É uma crise contínua. O livro acaba, mas a história continua. Dependendo do resultado da eleição, podemos ter  uma tormenta ainda maior”, diz Mello Franco.

A respeito da controversa cassação de Dilma, se foi golpe ou não, o jornalista diz manter a mesma opinião que tinha à época dos acontecimentos.

“A matéria formal do impeachment, as pedaladas fiscais, foi um pretexto para derrubar um governo. Diria que houve um arranjo entre a classe política para tentar se proteger da Lava Jato e se manter no poder.”

O lançamento, que seria nesta terça-feira (21), foi cancelado em virtude da morte de Otávio Frias Filho e será remarcado em breve. 
 

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