Descrição de chapéu Eleições 2018

Clareza e transparência são antídotos para boatos sobre a saúde de políticos

Na ditadura militar, tentou-se abafar o real estado de Figueiredo e de Costa e Silva

Câmeras apontadas para entrada do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde o presidenciável Jair Bolsonaro está internado 

Câmeras apontadas para entrada do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde o presidenciável Jair Bolsonaro está internado  Ronaldo Silva/Futura Press/Folhapress

São Paulo

“A sopa está queimando!”, gritou meu pai no último dia 6. Naquele fim de tarde, eu tentava conciliar as funções de cuidadora com a de repórter em busca de informações sobre a saúde do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), vítima de uma facada em Juiz de Fora (MG).

Essas situações são sempre tensas e delicadas, ainda mais num momento em que a saúde do candidato dita rumos do mercado financeiro.

Tem sido preciso filtrar boatos, pesquisar a fundo sobre o problema de saúde em questão e encontrar fontes médicas confiáveis dispostas a falar, o que nem sempre é fácil.

Muitos profissionais têm a preocupação de quebra do sigilo médico e de infringir regras rígidas de hospitais sobre a privacidade dos pacientes. Para superar isso, só mesmo relações antigas de confiança mútua. E um pouco de sorte.

Mas a história mostra que, diante de notas oficiais sucintas e técnicas, são fundamentais apurações de bastidores sobre a saúde de presidentes e de candidatos em potencial.

Na ditadura militar, tentou-se abafar o real estado de saúde do marechal Arthur da Costa e Silva (1967-1969), que sofreu uma isquemia cerebral, e do general João Baptista Figueiredo (1979-1985), que tinha problemas cardíacos.

O caso de Tancredo Neves foi ainda mais traumático. A família, médicos e os governistas atestaram um falso laudo de diverticulite, quando na verdade era tumor benigno no intestino. Também foram omitidos dados sobre o agravamento da sua saúde que culminaram na morte.

Desde então, a clareza e a transparência de informações sobre a saúde dos governantes têm funcionado como antídotos para boatos.

A sopa do meu pai queimou. Mas seria muito pior publicar uma notícia errada sobre a saúde de um presidenciável.

 
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