Descrição de chapéu Eleições 2018

Com poucas opções, PSDB terá de fazer aposta de risco

Partido vai ter de decidir se continua ofensiva contra Bolsonaro com novo tom ou se já ataca o PT

Igor Gielow
São Paulo

O atentado contra Jair Bolsonaro (PSL) desarranjou a estratégia de campanha presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB). Agora, o partido terá de fazer aposta de risco para o mês final da campanha do primeiro turno.

A questão central é: a presença de Bolsonaro no segundo turno é uma certeza, como vários caciques do partido já diziam na noite de quinta (6)?

Se sim, o caminho tucano passa em identificar seu principal rival para a segunda vaga. Hoje, esse adversário é o PT, que trocará a natimorta candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva pela de Fernando Haddad na semana que vem.

Nesse caso, o foco será contra as fragilidades petistas e em tentar angariar apoio do voto anti-PT. Até uma associação ao extremismo impingida aos petistas com o clima do atentado pode entrar no pacote.

O risco é evidente: Bolsonaro já galvaniza parte desse eleitorado e a equação deixa de fora Marina Silva (Rede) e, principalmente, Ciro Gomes (PDT), cuja correlação eleitoral com os efeitos do atentado ainda é incerta. De resto, é difícil pescar votos “vermelhos” para o cesto “azul” do PSDB.

Ao longo da sexta (7), estrategistas tucanos identificaram por meio de pesquisas qualitativas um diagnóstico contraintuitivo: a comoção pelo atentado é mais polarizante do que agregadora para a vítima.

Ou seja, não há o chamado “momento Eduardo Campos” capitalizado por Marina ao assumir a vaga do presidenciável do PSB morto em acidente na disputa de 2014. A figura polêmica de Bolsonaro atrai, segundo esse raciocínio, tanto empatia quanto curiosidade mórbida ou até desprezo neste momento.

Isso coloca em dúvida a ideia de que ele não pode continuar sendo desconstruído. A pergunta a ser respondida é como fazê-lo sem parecer um ataque pessoal a um convalescente numa UTI.

Uma das soluções discutidas, de alto risco, é tratar o atentado como um resultado de radicalização do processo político nacional, ainda que a esta altura ninguém saiba se não se trata apenas do ato de um perturbado.

Nessa roupagem, Alckmin seria vendido como medida de ponderação do debate. Bolsonaro não teria seus talvez 15% fixos de eleitores afetados, mas a esperança tucana é colher frutos entre os 5% ou 7% que estão hoje com o capitão reformado de forma não muito firme.

Até aqui, o PSDB fustigava diuturnamente Bolsonaro em inserções duras contra o deputado. Pesquisas internas indicavam que a tática funcionava para desgastá-lo, ainda que não agregasse votos imediatamente a Alckmin.

O raciocínio, obviamente, foi abortado com o ataque. O PSDB já pediu para retirar suas inserções, mas o programa de TV da noite deste sábado (8) será decisivo para iniciar a correção de rumo da campanha, até sob a luz dessa leitura de que Bolsonaro talvez não tenha se tornado inoxidável pela facada.

Como lembra um interlocutor do ex-governador, o quadro de fato só estará claro em talvez dois dias, com a publicação de novas pesquisas eleitorais já sob o impacto do caso.

Mas a equipe da campanha crê, ainda assim, que alguma sinalização já terá de ocorrer neste sábado. Os tucanos têm até as 14h para entregar o programa para o TSE, e sabem ser inevitável tratar do atentado nele.

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