Descrição de chapéu Eleições 2018

Criadores da campanha do posto Ipiranga comemoram apelido de guru de Bolsonaro

Presidenciável usou metáfora para descrever papel de Paulo Guedes, seu conselheiro

Joelmir Tavares
São Paulo

Começou em julho, quando Jair Bolsonaro (PSL) estreou o termo nesta eleição para definir o papel de seu guru econômico, Paulo Guedes. E aí posto Ipiranga virou expressão pop na corrida presidencial, impulsionada pela liderança do deputado federal nas pesquisas e a consequente ascensão 
do nome de Guedes.

Na metáfora inicial do candidato, ele quis definir o auxiliar como dono de todas as respostas para a economia em um eventual governo seu, aludindo à campanha publicitária lançada pela marca em 2011.

Nos vídeos, um tipo caipira, meio sonso, meio bonachão, responde a qualquer dúvida com “pergunta lá no posto Ipiranga”, frase pronta que foi convertida em bordão.

Paulo Guedes e Bolsonaro fazem o sinal de positivo lado a lado
Bolsonaro recebe visita de Paulo Guedes no hospital e reproduz 'textão' antissistema no Facebook - Repdoução

“O posto Ipiranga já pegou fogo”, disse Geraldo Alckmin (PSDB) na sexta-feira (21), diante do aparente estremecimento de relações entre Bolsonaro e seu assessor, após a revelação de que a dupla cogitava criar um imposto nos moldes da extinta CPMF.

Ciro Gomes (PDT) já recorreu ao termo para atacar o que chamou de “apologia da ignorância”: “Virou um atributo. ‘Sei de nada não, vou chamar o posto Ipiranga’.”

As ironias, críticas e elogios que alçaram o nome da rede de postos são considerados pela empresa positivos do ponto de vista publicitário, mas tratados com cautela sob o viés político.

Antonio Duarte, o Batata, ator que interpreta o personagem da propaganda, não dá entrevistas. Disse à Folha que tem “contrato muito rígido”, que o impede de se manifestar em temas polêmicos.

Para evitar jogar combustível no já inflamado clima eleitoral, a rede se pronunciou por meio de nota genérica ao ser procurada pela reportagem. No texto, se declara apartidária e diz “respeitar a pluralidade democrática”.

A Ipiranga não impõe regras por não ter “como impedir ou restringir o seu uso verbal em qualquer meio de comunicação”. Diz acreditar que o conceito de “um lugar completo esperando por você” entrou “no dia a dia”.

A marca, porém, monitora os usos e entra em ação se considerar que houve plágio da propaganda como um todo. Não autoriza que um postulante tente reproduzir o anúncio, já que a obra envolve direitos autorais.

Foi o que aconteceu no pleito de 2016, quando João Doria (PSDB), então candidato a prefeito de São Paulo, se valeu do expediente contra Fernando Haddad (PT). Nas peças, uma atriz perguntava onde achar “UBS sem fila, hospital limpinho e médico especialista” e um ator dizia: “Lá na propaganda do PT”.

O TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) aceitou pedido da empresa e mandou suspender os vídeos, sob o argumento de que não se poder utilizar criação intelectual sem autorização do respectivo autor ou titular.

O publicitário João Livi, que dirigiu a criação da campanha dos postos Ipiranga na agência Talent, comemora que o conceito do anúncio tenha se incorporado à linguagem popular, a exemplo de slogans de marcas como Bombril, Brastemp e Doril.

“Isso é muito positivo. E o bacana é que as pessoas se referem no sentido exato que a gente quis dar”, afirma ele.

Exemplos não faltam. Para ficar no campo político, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto já falou que “a Constituição lembra um certo posto de combustível que tem resposta para todas as perguntas”. Usou a comparação para enaltecer a Carta Magna e criticar o excesso de emendas.

Nesta campanha presidencial, Marina Silva (Rede) também já lançou mão da expressão para relativizar a intervenção do governo federal na segurança pública do Rio: “As Forças Armadas têm sido usadas como posto Ipiranga para as incompetências dos políticos”, afirmou.

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