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Hitler repudiava associação entre marxismo e seu Partido Nacional Socialista

Para extrema-direita brasileira, nome da legenda nazista escancararia viés esquerdista

Anna Virginia Balloussier
São Paulo

Em 1923, o jornal inglês The  Guardian entrevistou um jovem político em ascensão.

Ele prometia acabar com o "bolchevismo em casa". O movimento que, seis anos antes, derrubou 300 anos de monarquia russa e abriu portas para a União Soviética "é a nossa maior ameaça", continuou. "Mate o bolchevismo na Alemanha e restaure 70 milhões de pessoas ao poder."

Seu nome? Adolf Hitler.

Militante caracterizado como Hitler celebra 31º aniversário de morte do ditador, em ato berlinense
Militante caracterizado como Hitler celebra 31º aniversário de morte do ditador, em ato berlinense - Christoph Soeder/AP

Dias atrás, a Embaixada da Alemanha no Brasil virou a nova vítima da polarização política após divulgar um vídeo em que o nazismo aparece como uma ideologia de extrema-direita. A peça cita o ministro das Relações Exteriores do país, Heiko Mass, dizendo: "Devemos nos opor aos extremistas de direita, não devemos ignorar, temos que mostrar nossa cara contra neonazistas e antissemitas”.

A declaração deixou parte da militância direitista brasileira às polvorosas: o nazismo, defendem esses ativistas, seria um movimento de esquerda porque, afinal, Hitler liderava o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Socialista. Coisa de esquerdista. Fim de papo.

Só que o próprio Führer, na entrevista publicada 95 anos atrás, descarta qualquer simpatia com o que o senso comum entende por socialismo, uma ideologia de tintas esquerdistas. Em sua conta no Twitter, o escritor Samir Machado resgatou a reportagem, republicada pelo periódico em 2007.

"Por que vocês se chamam Nacional Socialista, já que seu programa partidário é a antítese do que comumente conhecemos como socialismo?", questiona o repórter.

Eis que Hitler "abaixa sua xícara de chá combativamente", como descreve a reportagem, e rebate: "Socialismo é a ciência de lidar com o bem comum. Comunismo não é socialismo. Marxismo não é socialismo. Os marxistas roubaram o termo e confundiram seu significado. Eu irei tomar o socialismo dos socialistas".

Ele prossegue sua sanha contra a capa de esquerda que a expressão ganhou. "O marxismo não tem o direito de se disfarçar de socialismo. Socialismo, ao contrário de marxismo, não repudia a propriedade privada. Ao contrário do marxismo, não envolve a negação da personalidade e, ao contrário do marxismo, é patriótico."

Hitler arremata seu repúdio à esquerdização do termo dizendo que sua legenda poderia muito bem "ter se chamado Partido Liberal".

Em "Minha Luta", misto de autobiografia e panfleto antissemita que lançou em 1925, o futuro ditador alemão advogou pela "destruição do marxismo em todas as suas formas". 

Ele, contudo, já reconheceu que a ideologia fundada por Karl Marx lhe foi de grande serventia para moldar suas próprias convicções políticas, ainda que pela negação do que o conterrâneo pregava. "Aprendi um bocado com o marxismo e não hesito em admitir", declarou certa vez. 

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