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Eleições 2018

Eleitorado torna Bolsonaro noiva com charme ambíguo para Doria e Skaf

Tanto Lula quanto presidenciável do PSL foram alvos de ataques e flertes dos candidatos

Candidatos ao governo de SP durante debate - Eduardo Anizelli/ Folhapress
Igor Gielow
São Paulo

A prevalência dos dois personagens centrais da eleição presidenciais deste ano, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PSL), poderia ser esperada com naturalidade em um debate eleitoral sobre o governo de São Paulo. A novidade é o sentido de cada presença.

Surpresa deste pleito de 2018, o presidenciável ora hospitalizado no Albert Einstein virou uma noiva com charmes ambíguos para seus dois pretendentes, João Doria (PSDB) e Paulo Skaf (MDB).

Nenhum dos dois vai querer andar de mãos dadas com o polêmico capitão reformado, seja por recato, seja porque seus partidos estão contra ele na disputa presidencial —notadamente o PSDB de Doria, agonizando com o empacamento de Geraldo Alckmin nas pesquisas.

Mas ambos querem os votos bolsonaristas. Liderando sondagens de opinião em São Paulo, o deputado fluminense roubou uma fatia expressiva do voto de Alckmin, outrora senhor de larga fatia do eleitorado local —basta lembrar suas eleições os 65% que o estado deu a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno de 2014.

Ideologicamente, o eleitorado de Bolsonaro tem grande intersecção com o de Doria e Skaf. Não é casual que ambos liderem a corrida estadual. O voto “bolsodoria” e “paulonaro” é uma constatação lógica antes de um projeto político.

Doria usou o frágil bolsonarista Rodrigo Tavares (PRTB) como escada para tratar de um tema importante desse grupo, segurança pública. Usa o bordão malufista “Rota na rua” em versão atualizada, ciente de que isso mina uma das bandeiras do ex-padrinho Alckmin, a melhora nos índices de homicídio no estado.

A via contrária também se mostrou clara, com os representantes da esquerda batendo nas características que mantêm a rejeição de Bolsonaro em alta, particularmente no eleitorado feminino.

Luiz Marinho (PT) e Professora Lisete (PSOL) fizeram dobradinhas sobre o tema, e a candidata nanica chegou a usar a alcunha “Coiso” para referir-se ao deputado.

Lula, por sua vez, se fez mais presente do que o seu preposto na corrida eleitoral, Fernando Haddad. Estava até na camiseta usada por Marinho, “a figura de um presidiário, marketing do mal” na observação de Doria, sempre confortável no figurino antipetista.

O petista buscou associar-se ao “time Lula 13” no momento em que o apoio do ex-presidente impulsionou Haddad, mas mal falou nele.

Citou mais Lula do que o candidato de fato. Nada novo aqui, já que esta é a estratégia de todo a campanha petista deste ano.

A questão é que o antipetismo que humilhou Haddad na tentativa de reeleição em 2016 não deu sinais de arrefecimento, vide os índices anêmicos de Marinho. Já Doria lembrou que derrotou o hoje presidenciável, “um mau prefeito” naquele primeiro turno. Mostrou-se bastante incisivo sobre seu apoio a Alckmin.

Foi o único momento de alívio para o presidenciável tucano, figura dominante da política paulista há 20 anos. Nem seu vice e hoje governador candidato à reeleição, Márcio França, o defendeu pelo nome. Preferiu culpar o PT de Marinho e o MDB de Skaf pelo “desastre no Brasil”.

A atuação do Ministério Público na investigação de obras tucanas em São Paulo foi contraposta por Marinho ao que chamou de injustiça contra Lula, preso condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro.

Até o impopular presidente Michel Temer (MDB) teve seu espaço pela associação com Skaf. O candidato disse que “cada um tem sua história” ao ser perguntado sobre políticas para mulheres, já que Temer iniciou o governo sem nenhuma em seu gabinete.

Coube ao emedebista lembrar que sua vice é mulher, mas não pareceu muito convincente acerca de sua relação com o presidente.

Temas estaduais, como seria previsível, foram tratados de forma quase protocolar e tons monocórdicos. O eleitor que buscava no evento argumentos para decidir seu voto calcado em propostas saiu de mãos abanando.

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