Descrição de chapéu Eleições 2018

Militantes usam apelidos para evitar encontros de 'bolhas' na internet

Bolsonaro é quem tem mais variações de nomes nas redes sociais

Débora Sögur Hous
São Paulo

Mito, capitão, Bozo ou Bonoro. Ao ver uma dessas expressões nas redes sociais certamente o assunto é o candidato do PSL, Jair Bolsonaro. Líder nas pesquisas de intenções de voto, o deputado federal é quem tem mais apelidos —de exaltação ou crítica— em postagens na web.  

Pesquisas da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-DAPP) detectaram o uso de até 30 expressões para citar Bolsonaro, candidato à Presidência da República mais popular no Twitter. 

Pesquisador de estudos da linguagem da FGV, Lucas Calil diz que apelidos a candidatos são usados por dois motivos. Para evitar linchamentos virtuais de seguidores mais engajados e tentar impedir que o nome de um político rival entre nos trending topics, os assuntos mais comentados do momento no Twitter.

De acordo com Calil, nas redes sociais, apenas o sobrenome Bolsonaro tende a aparecer em publicações negativas sobre o político em 80% das ocorrências.

Apoiadores do deputado federal gostam de chamá-lo de Bolsomito, ou apenas Mito, Mitonaro e, mais recentemente como capitão.

O ex-presidente Lula é o segundo político com mais apelidos e menções nas redes sociais, em formato de hashtag. Condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, o petista teve a candidatura barrada pelo TSE. Ele está preso em Curitiba. 

A reportagem identificou “Lula Livre” em publicações de viés positivo para o ex-presidente e Molusco em publicações negativas.

O pesquisador da FGV afirma que as conotações positivas ou negativas são dadas pelos usuários das redes sociais. O viés positivo ou negativo é maleável. “No período do julgamento de Lula pelo TRF-4 surgiu a hashtag #LulaLadrão que, a princípio, era usada para mencioná-lo de forma negativa. No entanto, militantes petistas cooptaram a hashtag com a expressão ‘Lula ladrão roubou meu coração’, tornando a expressão popular entre apoiadores do ex-presidente.”

Com uma lista com mais de 18 apelidos para Bolsonaro, um tuíte de Lucas Costa, 18, foi curtido por mais de 76 mil usuários do Twitter. Nem todos o acharam engraçado e Lucas recebeu respostas hostis. “Ficam me chamando de bicha, viado, maldito etc, mas eu não ligo”, afirma.

Tuíte com mais de 76 mil curtidas e 37 mil compartilhamentos lista 18 apelidos para Jair Bolsonaro (PSL)
Tuíte com mais de 76 mil curtidas e 37 mil compartilhamentos lista 18 apelidos para Jair Bolsonaro (PSL) - Reprodução

Segundo ele, a lista foi feita com apelidos já publicados nas redes sociais. 

“O povo diz para não mencionar Bolsonaro e usar outras palavras. Fora que não se pode fazer qualquer crítica a ele que seus eleitores correm para atacar quem tenha feito. Eles são muito intolerantes”, afirma.

Entre os fãs de Bolsonaro, uma recomendação feita pelo tuiteiro David Albuquerque foi curtida por mais de 2.000 pessoas: “Galera, não pode, em hipótese alguma, tuitar o nome dos adversários… Tem que ser sempre o nome do #Bolsonaro. Estratégia, pessoal!”.

Militantes de Bolsonaro também recorrem a apelidos como estratégia para invisibilizar oponentes
Militantes de Bolsonaro também recorrem a apelidos como estratégia para invisibilizar oponentes - Reprodução

Segundo Albuquerque, evitar citar outros candidatos à Presidência e suas hashtags e usar apenas menções ao candidato do PSL é uma forma de levá-lo aos assuntos mais comentados do Twitter. “Não importa se a forma é positiva ou negativa. Quando um assunto chega aos trending topics, a repercussão é enorme. A mídia [tradicional] repercute o nome do candidato e o promove.”

A professora da Universidade Federal de Pelotas Raquel Recuero, doutora em comunicação e linguística, com ênfase em redes sociais, diz que a intolerância nas redes sociais leva ao uso de práticas para evitar o contato com o contraditório. A tendência ao isolamento de ideias passou a ser chamada de “bolhas”.

São ambientes nas redes sociais onde uma pessoa se cerca apenas por aqueles com quem compartilha as mesmas opiniões. Um dos efeitos disso, segundo Recuero, é ter a impressão de que sua opinião sobre qualquer assunto estar sempre certa.

Segundo a pesquisadora, o melhor caminho para a retomada do diálogo é que a política deixe de ser vista como um jogo, com torcedores radicais. 

“As pessoas estão agindo como torcedores de times e não conseguem ser empáticas com quem tem opinião diferente”, afirma.

Recuero lembra que num ambiente onde a agressão está presente na natureza da conversação, as pessoas tendem a insultar mais, mesmo que isso não ​seja uma característica de sua personalidade.

Apelidos nas redes sociais para candidatos à Presidência identificados pela reportagem

Jair Bolsonaro
Mito
Capitão
Bozo 
Bonoro
Bozonaro

Marina Silva
Miss Plebiscito
Tartaruga 

Fernando Haddad 
Fernando Andrade
Prefeitão

Ciro Gomes
Coroné
Sugar Painho 

Geraldo Alckmin
Merendeiro 
Santo
Chuchu

Guilherme Boulos 
Invasor

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