Morre aos 82 anos Joaquim Roriz, ex-governador do DF

Ele estava internado e um infarto piorou o quadro clínico nas últimas horas

Joaquim Roriz durante entrevista em sua residência ao lado da esposa, Weslian Roriz, que disputou as eleições em seu lugar
Joaquim Roriz durante entrevista em sua residência ao lado da esposa, Weslian Roriz, que disputou as eleições em seu lugar - Sergio Lima - 24.set.2010/Folhapress
Brasília

Afastado há cerca de oito anos dos holofotes políticos, o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, 82, morreu nesta quinta-feira (27), em decorrência de problemas de saúde que vinha enfrentando há alguns anos.

Era diabético e estava internado com um quadro de pneumonia. Um infarto piorou seu estado nas últimas horas.

Tendo iniciado a vida política nos anos 1960, Roriz comandou o executivo da capital federal por quatro vezes, em uma longeva carreira política marcada pelo populismo, escândalos e um antagonismo ferrenho com o PT.

Curiosamente, Roriz foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores em Luziânia, cidade goiana do entorno de Brasília, mas logo rompeu com a legenda. 

Ele se firmou na política no MDB e passou por outros partidos. Sua última filiação foi ao PRTB. 
Antes de assumir o primeiro de seus quatro mandatos no comando da capital federal, Roriz foi vereador em Luziânia (sua cidade natal), deputado estadual, deputado federal, prefeito interventor em Goiânia e vice-governador de Goiás.

A sua primeira passagem como governador do Distrito Federal começou em 1988, ao ser indicado pelo então presidente José Sarney (MDB). Na época, não havia eleição para o cargo.

Sua gestão foi marcada pelo assistencialismo, com destaque para a distribuição de lotes a famílias de baixa renda nas cidades-satélites.

No início dos anos 90, o político teve uma passagem relâmpago como ministro da Agricultura de Fernando Collor de Melo, de quem foi um dos mais fiéis aliados.

Roriz foi eleito em 1990 para seu segundo mandato no comando da capital federal.

Nessa gestão, enfrentou a primeira grande acusação de corrupção, tendo sido um dos focos do escândalo dos Anões do Orçamento. Apesar das fortes suspeitas de superfaturamento e outras irregularidades em sua gestão, ele conseguiu completar o mandato, mas não fez o sucessor, perdendo a disputa para o petista Cristovam Buarque, hoje senador pelo PPS.

Durante os trabalhos da comissão, veio à tona informação de que Roriz teria recebido dinheiro por licitação fraudulenta, além de corrupção na ampliação do presídio da Papuda. Auditoria da CPI identificou superfaturamento entre 60% e 100%, além de haver indícios de acordo prévio entre as empreiteiras que realizaram a obra.

O governador também foi alvo de investigação por sua relação com o deputado federal da Bahia João Alves, que se tornou símbolo do escândalo ao tentar justificar a elevação de seu patrimônio por meio de mais de 200 premiações de loteria. : "Deus me ajudou."

Apesar das fortes suspeitas de superfaturamento e outras irregularidades em sua gestão, Roriz conseguiu completar o mandato, mas não fez o sucessor, perdendo a disputa para o petista Cristovam Buarque, hoje senador pelo PPS.

Roriz enfrentou Cristovam quatro anos depois e conseguiu se eleger para o terceiro mandato, novamente com um leque de propostas assistencialistas, numa apertada disputa. Nos oito anos em que permaneceu no poder (ele se reelegeu em 1998), fez obras de vulto, como a ponte JK, uma das que atravessam o Lago Paranoá, continuou o processo de doação de lotes e implantou programas como a distribuição de pão e leite em áreas pobres da capital federal.

Os escândalos de corrupção se repetiram e Roriz chegou a responder por crime de racismo por ter chamado um opositor de “crioulo petista” quando disputava a reeleição.

Em 2003, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) chegou a quebrar seus sigilos bancário, fiscal e telefônico sob a acusação de grilagem de terras públicas. A ação tinha como base o loteamento irregular de uma área chamada Mansão Chácaras do Lago, com suspeitas que remontavam ao seu primeiro mandato.
Roriz sempre negou ter cometido irregularidades.

Ao encerrar seu quarto mandato como governador —que viria a ser o último—, se elegeu senador em 2006.
Assim com no comando do Palácio do Buriti, sua passagem pelos tapetes azuis do Senado foi conturbada.

E breve. Doze dias depois de ser apontado como o beneficiário de um cheque de R$ 2,23 milhões, ele renunciou para escapar do processo de cassação, em julho de 2007, tendo cumprido apenas 5% do período de mandato. 

Na época, afirmou que o dinheiro havia sido repassado por Nenê Constantino, da companhia aérea Gol, a título de empréstimo, para ser usado na compra de um embrião bovino.

O político tentou voltar em 2010, mas sua pretensão de emplacar um quinto mandato no Palácio do Buriti foi barrada pela Lei da Ficha Limpa, sancionada naquele ano.

No seu lugar, indicou a mulher, Weslian Roriz, com quem estava casado havia 50 anos.

Com pouquíssimo traquejo na política e zero experiência na administração pública, Weslian acabou perdendo a eleição para Agnelo Queiroz, que realizou a segunda gestão do PT na capital do país.

Apesar do Revés, a família Roriz mantém até hoje forte influência na política da capital, com três candidatos nas eleições deste ano e apoio à líder nas pesquisas para o governo, Eliana Pedrosa (Pros).

O velório do ex-governador deve ser realizado na tarde desta quinta, no Memorial JK, na região central da capital federal. O enterro deve ocorrer nesta sexta-feira (28).

O presidente Michel Temer publicou uma mensagem no Twitter lamentando a morte do ex-governador e cumprimentando a família. No texto, ele diz que Roriz “marcou a vida política da Capital com muitas obras e realizações”.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PDB-CE), divulgou nota de pesar na qual afirma que o Distrito Federal perdeu uma importante liderança.

"Roriz formou uma geração de figuras públicas, entre os quais alguns governadores do Distrito Federal. Deixa como legado político sua atuação dedicada à conquista da dignidade para os mais pobres", afirmou.

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