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Eleições 2018 Pesquisas eleitorais

Eleição histórica mantém incertezas no 2º turno, com alta voltagem passional

A pesquisa é apenas mais uma das informações que o eleitor levará em consideração no momento de compor seu voto

O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, e Fernando Haddad (PT), que devem ir ao segundo turno
O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, e Fernando Haddad (PT), que podem ir ao segundo turno - Paulo Whitaker/Nacho Doce/Reuters
Mauro Paulino Alessandro Janoni
São Paulo

Os dados divulgados neste sábado (6) pelo Datafolha não constituem previsão dos resultados da eleição.

Revelam a intenção de voto dos brasileiros na véspera do pleito e não pretendem antecipar os números das urnas. Se algo ficou claro em disputa tão atípica como a deste ano foi o dinamismo do processo.

Qualquer fato pode gerar impacto sobre a opinião pública e provocar mudanças no posicionamento do eleitor. Principalmente quando as atuais armas das campanhas, as redes sociais de mensagens instantâneas, produzem, por sua capilaridade e alcance, repercussão em tempo real.

A divulgação da pesquisa é apenas mais uma das informações que o eleitor levará em consideração no momento de compor o seu voto. Ela será ponderada junto ao repertório adquirido ao longo da disputa, como a avaliação das propostas dos candidatos, o debate sobre valores e a consciência de classe. O saldo dessa equação será consolidado na urna eletrônica.

A evolução das candidaturas ao longo do tempo revela uma eleição histórica, que começou marcada pelas crises de representação e de prestígio das instituições democráticas, como a Presidência da República e o Congresso Nacional. A impopularidade recorde do governo Temer e o desequilíbrio econômico lançaram insegurança sobre o eleitor que demonstrava desalento e letargia no início da campanha, elevando as taxas do voto de protesto (brancos e nulos) a patamares recordes.

O imbróglio jurídico sobre a prisão do ex-presidente Lula despertou a atenção de parte do eleitorado que mantinha expressiva intenção de voto no petista mesmo com a perspectiva de sua inelegibilidade. Depois, com a decisão do TSE em barrar sua candidatura, houve o atentado contra Jair Bolsonaro (PSL), que deu novos contornos à disputa.

Bolsonaro teve mídia espontânea, sem ser atacado pelos adversários, o que gerou conquista gradual de apoio em nichos onde já apresentava alguma força política, como entre os homens mais ricos e escolarizados. Essa tendência se intensificou na última semana, com pulverização para o segmento feminino e os mais pobres, na forma de uma reação conservadora, evangélica e antipetista, provocada tanto pelas manifestações contra e a favor do capitão reformado quanto pela ascensão rápida de Fernando Haddad.

O ex-prefeito de São Paulo vinha sendo citado nas pesquisas, especialmente entre os mais pobres e menos escolarizados, à medida que a população o identificava como substituto de Lula. Mas não conseguiu atingir o potencial máximo gerado pelo apoio de seu cabo eleitoral, de aproximadamente um terço do eleitorado, em função do bom desempenho de Ciro Gomes (PDT) no Nordeste e da resiliência de Bolsonaro em estratos intermediários da classe média que ascenderam com o lulismo.

Esse retrato mantém-se na véspera da eleição. O segundo turno acontece em parte pela resistência das mulheres de menor renda em votar em Jair Bolsonaro. Entre os mais ricos, tanto entre os homens quanto entre as mulheres, Bolsonaro chega aos 50% dos votos válidos. Entre os homens mais pobres, tem 34% e fica empatado tecnicamente com Haddad. Mas no segmento feminino que ganha até 2 salários mínimos, mais numeroso, Bolsonaro tem apenas 25% dos votos válidos, contra 32% do petista.

Como cerca de 20% dos eleitores cogita a possibilidade de mudar, o Datafolha aplicou análise multivariada, com base na rejeição, na convicção da escolha e conhecimento dos candidatos para projetar potencial de variabilidade dos dados no dia da eleição. As projeções não são números absolutos e sobre elas também agem fundamentos estatísticos como a margem de erro de dois pontos percentuais.

Com o método, Bolsonaro pode variar entre 38% e 43% dos votos válidos, o que sugere a ocorrência de segundo turno. A maior probabilidade é de que seja contra Haddad, que teria entre 22% e 32% dos válidos.

Para Ciro Gomes —que cresceu depois do último debate— conseguir esquentar a disputa pela vaga, ele precisaria ter taxa total de conversão imediata de seu potencial, que alcança índice equivalente às intenções de voto no petista (22%). Não é impossível, mas pouco provável.

Sobre o segundo turno, as simulações apontam para o equilíbrio. Tanto Haddad quanto Ciro ficam dentro da margem de erro contra Bolsonaro. Mas qualquer tipo de projeção nesse sentindo, neste momento, seria muito arriscada —em cenário de alta voltagem passional.

Diante da concretização do resultado das urnas no primeiro turno, eleitores que optaram pelos que não venceram irão repensar suas intenções de voto, dando início a uma nova eleição, mas com as mesmas desconfianças, medos e indignação.

Paulino é diretor-geral do Datafolha e Janoni, diretor de pesquisas do instituto

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