Descrição de chapéu Eleições 2018

Grupo de generais ajuda Bolsonaro a vencer resistência na elite do Exército

Alto Comando desconfiava do capitão reformado, mas três egressos do órgão azeitaram relações

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São Paulo

Munido de uma tropa de generais da reserva com forte influência sobre o Alto Comando do Exército participando de sua campanha a presidente, Jair Bolsonaro (PSL) venceu o grosso da resistência que sofria entre oficiais-generais da Força.

Segundo a Folha apurou junto a oficiais superiores da ativa e da reserva, além de políticos com interlocução na área, o capitão reformado é hoje o preferido da maioria dos 17 generais de quatro estrelas da corporação —o topo da hierarquia.

Nem sempre foi assim. 

Bolsonaro saiu em 1988 do Exército após vários problemas disciplinares e um rumoroso processo no qual foi absolvido de tentar explodir bombas em quartéis para reivindicar aumento salarial. Sua carreira de polemista parlamentar nunca atraiu simpatia do alto oficialato.

Isso começou a mudar em setembro de 2017, quando Bolsonaro começou a montar o núcleo de seu programa de governo: os generais quatro estrelas da reserva Augusto Heleno e Oswaldo Ferreira.

O primeiro era seu favorito a vice, mas ficou de fora por causa de uma trapalhada política (filiou-se ao nanico PRP, que roeu a corda do apoio).

Heleno é o decano do grupo —até pelo decantado respeito hierárquico, já que é de uma turma mais antiga, a de 1969. Ferreira, por sua vez, usou sua experiência como chefe da engenharia do Exército e organizou os grupos de trabalho que hoje sustentam o programa bolsonarista.

São os únicos egressos do Alto Comando na equipe do candidato. Há ainda outro general, um engenheiro militar, Aléssio Ribeiro Souto, que cuida da área de educação, ciência e tecnologia. Há poucos dias, disse em entrevista ao UOL que livros didáticos deveriam incluir a verdade” sobre o regime militar de 1964.

A Força Aérea tem dois representantes no grupo, entre eles o brigadeiro Ricardo Machado, de quatro estrelas. É uma tentativa de estabelecer pontes entre o ambiente excessivamente verde-oliva, para ficar na cor associada ao Exército, e outras Forças.

Aviadores e marinheiros no geral temem ser menos favorecidos do que integrantes do Exército em um eventual governo do deputado.

Um oficial-general da Marinha disse, sob reserva, considerar o Alto Comando da Força mais refratário ao estilo do capitão reformado.

Há também três oficiais do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, um deles da ativa.

Os estrelados da reserva têm ascendência variável sobre quem está na ativa, mas a chegada de Hamilton Mourão ao time neste ano mudou esse patamar. Ele era visto como o líder mais forte do grupo depois do comandante.

O quatro estrelas passou os três últimos anos colhendo polêmicas —de sancionar uma homenagem ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra e sugerir a incompetência da então presidente Dilma à ideia de intervenção militar.

Acabou afastado, numa cerimônia em que o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, o saudou efusivamente. Eles são amigos próximos, assim como Ferreira e Heleno.

Mourão acabou na vice de Bolsonaro, selando a aproximação com o Alto Comando. O apoio, contudo, não é institucional. E tem bastante a ver com a ojeriza que a Força tem ao PT —uma ironia, dado que o governo Lula privilegiou investimentos militares.

Villas Bôas é um moderado, sempre tentando acomodar crises. Com a saúde fragilizada por uma doença degenerativa, contudo, viu parte de sua interlocução ser dividida com um conterrâneo de Cruz Alta (RS), Sérgio Etchegoyen.

Membro do Alto Comando que passou à vida política como chefe do Gabinete de Segurança Institucional, recriado por Michel Temer (MDB), Etchegoyen é visto como um general dado a riscos. Fomentou ativamente a intervenção federal na segurança do Rio.

É muito próximo de Mourão, com quem conversa toda semana. Carrega no DNA desavenças com o poder civil: protestou contra a inclusão de seu pai, o general Leo, nos anais da Comissão da Verdade como integrante do aparelho repressor da ditadura.

Outro fator a considerar é o fato de que o próximo chefe da Força poderá sair do grupo de generais de quatro estrelas que foram seus colegas na Academia Militar das Agulhas Negras, turma de 1977.

Por critério de antiguidade, eles estão na frente da fila para assumir, mas a praxe já foi desrespeitada: Villas Bôas era o terceiro mais antigo quando foi indicado em 2015.

O mais antigo é Edson Leal Pujol, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia. Ele já disse publicamente considerar a persona política do ex-colega exagerada, mas nunca o criticou mais duramente.

Depois dele, vêm os generais Paulo Humberto César de Oliveira (Estado-Maior), Mauro Cid (Departamento de Cultura e Educação, responsável pelas escolas militares tão ao gosto de Bolsonaro, o que pode cacifá-lo) e Carlos Alberto Barcellos (Logística).

Segundo colegas, nenhum deles têm contato formal com a campanha, mas conversam com seus integrantes. O mesmo ocorre no entorno da chefia do Ministério da Defesa, ora ocupada por outro quatro estrelas da reserva, Joaquim Silva e Luna.

 

Ruralistas, aliados históricos do PSDB, dão apoio ao PSL

Historicamente próximos do PSDB, os ruralistas no Congresso declararam apoio a Jair Bolsonaro (PSL).

“Uniremos esforços para evitar que candidatos ligados a esquemas de corrupção e ao aprofundamento da crise econômica brasileira retornem ao comando do nosso país”, disse a deputada Tereza Cristina (DEM-MS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, que congrega 261 de 594 deputados e senadores.

Fortemente integrada por membros do chamado centrão, a frente vinha se aproximando de Bolsonaro à medida que a postulação de Geraldo Alckmin estagnava.

O tucano até indicou uma vice, Ana Amélia (PP-RS), com ligações no setor, mas não logrou resultados práticos.

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