Descrição de chapéu Eleições 2018

Haddad acusa Mourão de ser torturador com base em frase desmentida

Presidenciável se referiu ao relato feito pelo cantor Geraldo Azevedo, que reconheceu que pode ter se confundido

Rio de Janeiro

 O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, usou nesta terça (23) a declaração de um cantor que depois foi desmentida para acusar o general Hamilton Mourão, vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), de ter sido um torturador durante a ditadura militar (1964-1985).

Mourão afirma que processará Haddad pela declaração.

"Eu fiz minha parte para defender o que considero um projeto democrático de país, contra aquilo que considero que será um grande atraso, um retrocesso retumbante no país, que é a vitória de um rebotalho [refugo] da ditadura, que é o que sobrou dos porões [da repressão]. O [Hamilton] Mourão foi ele próprio torturador", disse Haddad em sabatina do jornal O Globo, Valor Econômico e revista Época transmitida online.

Fernando Haddad, presidenciável do PT - Daniel Ramalho/AFP

"Deveria causar temor em todos os brasileiros minimamente comprometidos com o a democracia no Brasil", afirmou o petista.

A afirmação de Haddad, contudo, se amparou em um relato equivocado do cantor Geraldo Azevedo.

Em show na Bahia na noite de sábado, Azevedo contou ter sido preso e torturado durante o regime militar --o que é verdade. Em seguida, o cantor pernambucano afirmou que Mourão era um dos torturadores do local onde ele ficou encarcerado por 41 dias.

A prisão e tortura de Azevedo, porém, ocorreu em 1969, três anos antes de Mourão, que hoje é general da reserva, ingressar no Exército.

Haddad mencionou o relato do cantor durante sabatina. Segundo ele, Bolsonaro, que é capitão da reserva do Exército, não teve atuação destacada quando esteve na ativa da força, diferentemente de Mourão, classificado como torturador pelo petista. Questionado sobre o caso, Haddad disse que seria preciso ouvir o cantor sobre suas denúncias: "Entrevista o Geraldo Azevedo".

Azevedo desmentiu sua declaração pouco depois, por meio de nota de esclarecimento. "O vice-presidente do candidato Jair Bolsonaro não estava entre os militares torturadores [da época em que fui preso]. Peço desculpas pelo transtorno causado pelo meu equívoco e reafirmo minha opinião de que não há espaço, no Brasil de hoje, para a volta de um regime que tem a tortura como política de Estado e que cerceia as liberdades individuais e de imprensa."

Na nota, o cantor cita a declaração feita por Bolsonaro de que "o grande erro [da ditadura] foi torturar e não matar" para justificar sua oposição à candidatura.

Após o esclarecimento, Haddad afirmou que havia dado ao público uma informação que recebera "de fonte fidedigna", aludindo a Azevedo.

"Eu me solidarizo com ele porque toda pessoa que foi torturada está sujeita a este tipo de confusão. Isso não tira o fato de que tanto Mourão quanto Bolsonaro tem Ustra [Carlos Alberto Brilhante, torturador] como referência", disse Haddad a jornalistas durante encontro com evangélicos no Rio de Janeiro.

Mais tarde, o candidato voltou a dizer que não errou. "Quem deu informação equivocada não fui eu, foi o compositor que foi torturado, você deveria respeitá-lo", disse após reunião com o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta.

Mourão disse que vai processar o petista e o cantor.

"Vou enfiar processo nesses caras todos. Eu tenho filho e tenho neto. Os caras têm que pensar duas vezes antes de falarem bobagem", disse à Folha por telefone. "O cara solta uma mentira num lugar e o Haddad compra. Como é que pode ser presidente do Brasil uma pessoa que não distingue o verdadeiro do falso?"

Em nota à imprensa assinada por Levy Fidelix, presidente do PRTB, a legenda afirma que irá processar Haddad e Azevedo pelas declarações.

O PT tem acusado de forma recorrente a chapa adversária de usar notícias falsas para detratar o partido e Haddad na campanha eleitoral.

No sábado, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar esquemas de disseminação massiva de fake news na campanha. A presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Rosa Weber, também tem defendido o combate às fake news, embora não tenha citado caminho para fazê-lo.  

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto afirmava que a ditadura militar terminou em 1989. Ela terminou em 1985. O texto foi corrigido.

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