Líder sem-terra é assassinado no sul do Pará

Sindicalista havia gravado vídeo denunciando ameaças

Fabiano Maisonnave
Manaus

O líder sem-terra Aluisio Sampaio foi assassinado na sede do sindicato que presidia na tarde desta quinta-feira (11), em Castelo dos Sonhos (1.726 km a sudoeste de Belém), às margens da BR-163.

De acordo com o jornal Folha do Progresso, ele foi morto com vários tiros na cabeça. Um dos assassinos teria sido preso e outro conseguido fugir.

Procurada nesta sexta (12), Polícia Civil e Secretaria de Justiça do Pará afirmaram que não haviam recebido nenhuma informação sobre o caso. 

Sampaio era do Sintraf (Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar) e não tinha relação com o MST. Sua organização, formada por posseiros, mantém uma disputa há anos uma área com grileiros da região. 

O sindicalista estava ameaçado de morte. Em janeiro de 2017, ele publicou um vídeo no Youtube em que acusava três pessoas de conspirarem para matá-lo.

As pessoas citadas são o ex-prefeito de Novo Progresso Neri Prazeres, o presidente Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, Agamenon Menezes, e outro sindicalista da região, conhecido como Dico.

“Eles podem me matar a qualquer instante, mas eles vão se arrepender pro resto da vida dele porque, me matando, vêm outros”, diz o sindicalista no vídeo.

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) teve ampla votação ao longo da BR-163. Durante visita de campanha ao Pará, em julho, ele elogiou os policiais condenados pela morte de 19 trabalhadores rurais sem terra, em 1996, em Eldorado do Carajás (PA), no leste do estado. Ele também tem prometido classificar o MST de organização terrorista. 

Sob a condição do anonimato, um posseiro de Castelo dos Sonhos disse à reportagem que seus companheiros estão divididos na disputa presidencial.

Alguns acreditam que o PT bloqueará reivindicações para regularizar invasões na Floresta Nacional do Jamanxim. Outros temem que uma vitória do Bolsonaro gere uma onda de violência contra posseiros e sem-terra. 

A BR-163 foi aberta durante a ditadura militar, que promoveu grandes projetos na Amazônia sob o lema de “integrar para não entregar”. Atualmente, é um importante canal de escoamento da soja de Mato Grosso.

A região, no entanto, teve uma ocupação desordenada, marcada por grilagem de terras, invasão de áreas protegidas, garimpo, desmatamento e exploração de madeira ilegais.

A construção da rodovia voltou ao noticiário nesta semana após o provável ministro dos Transportes de um eventual governo Bolsonaro, o general Oswaldo Ferreira, ter elogiado a sua construção.

"Eu fui tenente feliz na vida. Quando eu construí estrada, não tinha nem Ministério Público nem o Ibama. A primeira árvore que nós derrubamos (na abertura da BR-163), eu estava ali... derrubei todas as árvores que tinha à frente, sem ninguém encher o saco. Hoje, o cara, para derrubar uma árvore, vem um punhado de gente para encher o saco”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, o lema durante a ditadura que promoveu projetos na Amazônia era “integrar para não entregar”, e não “integrar para não integrar”

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