Descrição de chapéu

Vexame projetado marca fim de etapa para o PSDB

Fracasso de Alckmin e provável segundo turno entre Bolsonaro e Haddad desafiam novos líderes

Igor Gielow
São Paulo

Com a suavização da onda que se avolumava em favor de Jair Bolsonaro (PSL), um selvagem e polarizado segundo turno contra Fernando Haddad (PT) se desenha como a realidade para as próximas três semanas. É a hora de os derrotados se olharem no espelho.

 
Alckmin e Marina, fora do páreo segundo o Datafolha, no debate da Globo
Alckmin e Marina, fora do páreo segundo o Datafolha, no debate da Globo - Ricardo Moraes - 4.out.2018/Reuters

A política brasileira recomenda cautela com obituários de figuras públicas ou agremiações. Numa era mais distante, era Paulo Maluf ressurgindo de tempos em tempos, neste 2018 é o próprio PT.

Isso dito, o desmoronamento do PSDB nesta eleição é um fato maiúsculo —o encolhimento de Marina Silva como terceira via é notável, mas ela é uma nota de rodapé se comparada com o partido de Geraldo Alckmin na história do país.

O tucanato como o conhecíamos acaba com o fracasso retumbante à vista do ex-governador paulista nesta disputa pelo Planalto. Ele sempre foi um produto de difícil vendagem na feira livre desta eleição. A sucessão de erros que cometeu, contudo, ajudou a selar o vexame.

Escolhas políticas erradas, tentativa de comunicar-se com um centro que na realidade inexistia, demora e teimosia na definição de cursos. Claro, se um meteoro cair e um milagre tucano ocorrer neste domingo, tudo isso será lido com sinal trocado. Não é o que diz a realidade.

Alckmin já foi dado como morto após perder duas eleições seguidas em 2006 e 2008, só para ressurgir triunfante em 2010. Pode se reinventar, mas o cenário agora é bastante diverso.

No berço tucano, São Paulo, a velha guarda ruma ao ostracismo. A nova, encarnada pelo filho pródigo João Doria, já flerta abertamente com a nova ordem de Bolsonaro, em busca de carona no grande apoio que o deputado tem no conservador eleitorado paulista. A questão que fica é se ele conseguirá vencer a disputa do segundo turno, bem mais complexa do que prevista inicialmente.

Se sim, as batatas caberão a Doria. Desprezado pela antiga "intelligentsia" (sic) do partido, que também tachava Alckmin de provinciano, o empresário terá na mão um estado com saúde financeira boa para os padrões nacionais. Se não repetir o equívoco que protagonizou à frente da prefeitura da capital, é presidenciável no momento em que entrar no Palácio dos Bandeirantes.

Se perder, vai para casa e os escombros do PSDB cairão provavelmente nas mãos de Antonio Anastasia, muito bem colocado para tornar-se governador de Minas, o estado que resume o Brasil. O ponto aqui é mais de esperar uma conversão do cordato e comedido mineiro em líder político, o que nunca foi sua inclinação —paradoxalmente, uma virtude.

Outro nome a prestar atenção é o do jovem Bruno Covas, prefeito que herdou a cadeira de Doria em São Paulo e que tem todas as condições de ganhar musculatura política para voos mais altos.  

Com o extermínio político por motivos de rolos judiciais de outras lideranças regionais, é esse o cenário residual do partido que comandou um processo modernizante do Brasil e o presidiu por oito anos.

Se Bolsonaro acabar eleito presidente, as dificuldades se multiplicarão, já que haverá uma dispersão tucana entre apoiadores e opositores do disruptivo deputado. O PSDB deve eleger uma das maiores bancadas da Câmara, talvez 50 congressistas, mas é previsível a divisão entre as hostes nesta hipótese.

A união partidária é mais simples se Haddad for o eleito. O antipetismo abraçado com força por Doria e outros mostrou-se uma cola política bastante eficaz neste pleito. Continuará tendo serventia enquanto o partido reformula sua estratégia para tentar retomar o espaço que lhe foi roubado por Bolsonaro na esteira da queda em desgraça de Aécio Neves.

O problema maior, que dependerá de quem serão os atores a juntar os cacos do tucanato, é saber qual será a frequência do debate público quando a fumaça da batalha se dissipar.

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