Ação pede inelegibilidade de Marinho por elogios pagos de influenciadores

Ministério Público Eleitoral aponta abuso no uso de meios de comunicação por candidato do PT

Carolina Linhares
São Paulo

O Ministério Público Eleitoral em São Paulo entrou com uma ação contra Luiz Marinho (PT), que concorreu ao governo do estado, sob acusação de abuso no uso de meios de comunicação. Se condenado, ele pode ficar inelegível por oito anos. 

Segundo a ação, Marinho se beneficiou de publicidade paga na internet, contratada pelas empresas do deputado Miguel Corrêa (PT-MG), que também é alvo de ação em Minas, e feita por meio de influenciadores digitais durante o período eleitoral neste ano. 

A investigação do Ministério Público Federal de Minas mostra que a empresa Fórmula, uma das firmas de Corrêa, contratou influenciadores digitais para elogiar petistas em suas redes sociais durante a eleição de 2018. As postagens não identificam terem sido pagas, o que é proibido pela legislação eleitoral.

Segundo o Ministério Público, houve "esquema de captação de votos mediante uso de publicações pagas na internet em perfis selecionados de redes sociais".

Além de Marinho e Corrêa, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), também teria se beneficiado. O Ministério Público ainda apresenta evidências contra Gleisi Hoffmann (PR), Lindberg Farias (RJ) e Décio Lima (SC). 

Uma das influenciadoras, Daniele Moreira, procurou o Ministério Público de São Paulo para entregar provas do esquema. Ela explicou que as empresas de Corrêa, por meio de uma agência, a Lajoy, arregimentaram influenciadores com o objetivo de promover pautas de esquerda.

Por email, produtores da Lajoy e das empresas de Corrêa pautavam os influenciadores com conteúdos para os posts do dia. Moreira disse que receberia R$ 2.000 por mês a partir de 17 de agosto para fazer as publicações em suas redes sociais. 

No entanto, o conteúdo sugerido aos influenciadores, que supostamente seria para promover temas progressistas, passou a ser de enaltecimento de candidatos petistas.

Em um dos emails apresentados por Moreira ao Ministério Público, em que uma funcionária de Corrêa pauta os influenciadores, o conteúdo era "evidenciar a relação entre Lula e Luiz Marinho". 

"Queremos produzir conteúdos leves e que humanizem a figura de Luiz Marinho", escreve a produtora no dia 20 de agosto. Ela sugere o seguinte post: "Primeiro a gente elege Lula em Brasília e Marinho em São Paulo, depois a gente faz o Brasil Feliz de Novo". 

O email anexa ainda perfil, fotos e propostas de Marinho para uso dos influenciadores. Moreira apresentou emails semelhantes, em que produtores de conteúdo ligados a Corrêa pautam publicações sobre Dias, Hoffmann, Lindberg e Lima. 

As empresas de Corrêa também desenvolveram o aplicativo Brasil Feliz de Novo, tema da campanha nacional do PT, que funcionava como uma espécie de site de notícias pró-esquerda que podiam ser compartilhadas pelos usuários em troca de pontos e remuneração. 

A ação afirma que o aplicativo automatizava o trabalho feito com os influenciadores. 

Para o Ministério Público, utilizar plataformas digitais de alto alcance e com baixo custo, monetizando posts com aparência de espontâneos, contraria a legislação sobre propaganda na internet e pode configurar uso indevido dos meios de comunicação social. 

Além de Marinho, são acusados sua candidata a vice, Ana Bock (PT), Corrêa e seus sócios nas empresas, como Lídia Corrêa, sua sobrinha, e Joyce Falete, sócia da Lajoy. 

Falete já afirmou à Folha que foi enganada por Corrêa para selecionar os influenciadores. A princípio ela acreditava se tratar de uma ação de esquerda e não de campanha eleitoral. 

A assessoria de Marinho informou que a empresa de Corrêa "ofereceu o serviço à campanha, que após teste optou por não contratá-lo". 

O advogado de Corrêa, Sérgio Santos Rodrigues, afirmou que ainda não foi intimado e que se manifestará quando tiver acesso ao teor da ação.

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