Evo Morales cometeu 'uma grande traição', diz amigo de Cesare Battisti

Sindicalista Magno de Carvalho critica presidente boliviano, que enviou o terrorista à Itália

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São Paulo

Por essa a esquerda brasileira não esperava: que justo Evo Morales, um tradicional aliado progressista, tenha dado de bandeja o terrorista italiano Cesare Battisti ao governo de seu país natal.

Uma "grande traição": é o sentimento do dirigente sindical Magno de Carvalho, um dos últimos a falar com Battisti por telefone, ele e o vereador Eduardo Suplicy (PT), segundo rastreamento da polícia (o aparelho está na mão de investigadores italianos).

"Queria deixar bem claro: pra mim, e não só pra mim, o que Evo fez foi uma grande traição. Gostaria muito que isso fosse dito. No passado, em outros momentos, ele teve uma posição favorável [a Battisti]", disse à Folha.

A opinião ecoa o que sites esquerdistas vêm alardeando sobre o presidente boliviano, em artigos de títulos como "Evo Morales se comportou como um capacho do fascismo italiano e brasileiro" (Jornalistas Livres), "Governo Evo Morales passou recibo de subalternidade e covardia" (Diário do Centro do Mundo) e "Entregar Battisti foi uma traição à luta contra a direita fascista" (Diário da Causa Operária).

O italiano Cesare Battisti, preso na  Bolívia no sábado (12)
O italiano Cesare Battisti, preso na Bolívia no sábado (12) - Divulgação/Polizia di Stato

O boliviano, afirma Magno, é de "um governo considerado de esquerda, sabe que Cesare tem apoio da esquerda, é uma surpresa muito ruim o que aconteceu". 

Se a posição de Evo causou espanto, não se pode dizer o mesmo da captura e extradição do ex-militante do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) condenado em todas as instâncias judiciais pela morte de quatro pessoas, num julgamento que setores da esquerda veem como fraudulento.

Segundo Magno, nas últimas conversas que tiveram, Battisti apostava que "ele seria preso e extraditado". Jair Bolsonaro, afinal, acabara de ser eleito —e jamais escondeu a vontade de vê-lo em cana.

O plano de apostar todas as fichas no STF (Supremo Tribunal Federal) foi por água abaixo quando, no dia 13 de dezembro, o ministro Luiz Fux determinou sua prisão para fins de extradição. Na decisão, Fux afirmou que Battisti ter um filho brasileiro não bastava para segurá-lo no país. 

Magno diz que uma coisa o amigo dava como certa: se fosse enviado à prisão italiana, de lá não sairia vivo. "Ele mesmo dizia: 'Se volto pra Itália, os caras deixam passar uns meses, depois vão tentar me matar'. Não temos dúvida disso aí."

Ele estaria jurado de morte por uma associação de carcereiros, afirma o sindicalista. Uma das vítimas mortas por Battisti era motorista da Digos, uma divisão da polícia italiana de combate ao terrorismo. Segundo comunicado do PAC, Andrea Campagna, 24, foi executado em 1979 por "torturar os proletários". 

Outra: Antonio Santoro, um agente penitenciário de 51 anos morto em 1978.

Battisti tem um filho brasileiro, Raul, 6, e duas filhas que moram na França, Valentina e Charlene. A primogênita, segundo Magno, tem uma procuração do pai, que quer que a casa que construiu em Cananeia (SP) seja transferida para o nome do filho quando ele fizer 18 anos.

Próximo ao italiano, Eduardo Suplicy também foi procurado pela Folha. Por mensagem, direto da Inglaterra (onde participou da Conferência Sobre a História Intelectual da Renda Básica), o petista  respondeu: "Faz muitos meses que não falo com ele. Estou no exterior desde o dia 1º de janeiro, quando comecei a caminhada de Tui até Santiago de Compostela e não utilizei meu celular".

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