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Filho passa recibo, aproxima crise de Bolsonaro e preocupa militares

Comportamento do senador eleito é de quem deve algo, gerando desconforto ético no governo

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São Paulo

O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) passou um enorme recibo político ao procurar no Supremo no episódio de seu cada vez mais nebuloso envolvimento com Fabrício Queiroz.

Da esquerda para a direita, os quatro em fila usando terno preto
Da esquerda para a direita, Eduardo, Jair, Flávio e Carlos Bolsonaro - Flickr Bolsonaro - 1.nov.2015

Até aqui, sua linha de defesa era a do não envolvimento: o problema era do motorista enrolado com transações suspeitas. Agora, Flávio trouxe o problema para si e mais: amplia o espectro de um agravamento da crise, que pode ter consequências imprevisíveis para o governo de seu pai, Jair Bolsonaro (PSL).

O apelo ao foro antes renegado parece, à primeira vista, estar amparado tecnicamente. É preciso esclarecer se o Ministério Público de fato quebrou ilegalmente o sigilo do parlamentar e se o investigou após sua diplomação.

Isso dito, politicamente o estrago está feito. Apenas se comprovar que é vítima de uma perseguição e enfim apresentar alguma explicação crível para o caso Flávio poderá reverter em alguma medida o dano.

O caso já gerava desconforto na ala militar do governo, cada dia mais influente e ocupando espaços. Afinal de contas, a presença maciça de oficiais da reserva e também da ativa no governo passava pela ideia defendida pelo grupo que Bolsonaro podia ser despreparado, mas não era corrupto como os proverbiais petistas e emedebistas que antes ocuparam o Palácio.

O pedido de Flávio ao Supremo elevou o desconforto para o nível de alarme. Os militares já viam o protagonismo dos três filhos mais velhos de Bolsonaro em assuntos de governo como algo inadequado, mas há um risco aparente de que um caso de corrupção na família se aproxime da figura presidencial.

Além da questão dos pagamentos à primeira-dama, já bastante estranha, há algo mais básico envolvido. Se algo for provado contra Flávio, mesmo não atingindo diretamente o pai, estará aberta uma fenda na imagem ética que o agora presidente vendeu durante toda a sua campanha. Se as eventuais provas colhidas no Rio existirem e forem anuladas, mesmo que legalmente isso for o certo, moralmente haverá a acusação de que “estão fazendo tudo como antes”. É um beco sem saída, nesse sentido.

Se Bolsonaro mantivesse os filhos a uma distância regulamentar, poderia até ter uma linha discursiva. Ele não o fez, como a movimentação de Eduardo Bolsonaro e a presença de um vereador do Rio, seu irmão Carlos, em reuniões ministeriais comprova.

Que as suspeitas recaiam sobre o mais discreto membro do clã não parece mera casualidade. Flávio sempre foi o filho com fama de ponderação da turma. Desde que o pai foi eleito, operou em quase silêncio, e virtualmente desapareceu depois da eclosão do caso Queiroz.

Na política, quando a família está em jogo numa crise, ou o governante toma medidas drásticas ou se verá em apuros em caso de adensamento da confusão. A situação atual pode até ser lateral ou driblada por sucessos econômicos e a popularidade alta de Bolsonaro. Mas é algo bastante diverso daquilo que os apoiadores mais importantes de Bolsonaro esperavam ver logo de saída, e nem se fala aqui da legião das redes sociais.

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