Descrição de chapéu Lava Jato

Paulo Preto fez ameaças a tucanos e afirmava ter sócios na conta da Suíça

Acusado de ser o operador financeiro do PSDB, ex-diretor da Dersa foi preso novamente na terça (19)

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São Paulo

Quando foi preso pela segunda vez no ano passado e passou 36 dias na penitenciária, alguns deles numa solitária por ter discutido com um agente, o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, fez circular a informação de que cogitava fazer delação para se livrar do que considerava um período longo demais dentro de uma cela.

Acusado pela Lava Jato de ser operador financeiro do PSDB, ele, que foi preso novamente nesta terça (19), dizia ter uma informação bombástica para revelar: a de que a conta encontrada na Suíça com saldo de R$ 132 milhões, em valores atuais, não era só dele. Era o que ele chamava de "conta ônibus", ou seja, de vários titulares, todos cardeais tucanos, como Aloysio Nunes Ferreira e José Serra, e do próprio PSDB.

O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, acusado pela Lava Jato de ser operador financeiro do PSDB
O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, acusado pela Lava Jato de ser operador financeiro do PSDB - José Cruz - 29.ago.2012/Agência Brasil

A informação da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba de que Aloysio recebeu um cartão de crédito ligado à conta de Paulo Preto aponta, na visão de procuradores, que os recados do ex-diretor da Dersa podem não ser apenas ameaças.

O recado tinha um tom óbvio de chantagem, com um subtexto que dizia "ou vocês me salvam ou entrego todo mundo".

Após a pressão de Paulo Preto, ele trocou de advogado: saiu Daniel Bialski e entrou José Roberto Santoro, que também cuidava da defesa de Aloysio. Foi o novo advogado que conseguiu soltar Paulo Preto, com um habeas corpus do ministro Gilmar Mendes, do Supremo.

Não era a primeira vez que Paulo Preto mandava recados intimidatórios para a cúpula do PSDB.

Na campanha presidencial de 2010, quando ele se tornou uma figura central nos debates entre Dilma Rousseff e José Serra, Paulo Preto pronunciou aquela que se tornaria a sua frase mais famosa. "Não se abandona um líder ferido na beira da estrada", afirmou logo depois de o então candidato tucano à Presidência ter dito num evento de campanha em Goiânia (GO) que não conhecia o ex-diretor da Dersa.

Serra ainda acusou a imprensa no episódio: "Eu não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês [jornalistas] fiquem perguntando". O então candidato não concluiu a frase, mas aparentemente o que ele queria dizer era que a imprensa usava Paulo Preto para questioná-lo sobre corrupção durante a sua gestão.

Como não conhece?, dizia Paulo Preto, se o Serra estava comigo na inauguração do Rodoanel Sul? Foi nessa obra que o ex-diretor é acusado de ter formado o cartel de empreiteiras e cobrado propina para o partido e para Serra.

O Rodoanel Sul foi iniciado na administração de Serra no governo de São Paulo, em 2007.

Havia outro indício de que Serra conhecia bem Paulo Preto. Quem indicou o engenheiro para a diretoria de obras da Dersa, a que toca as obras mais caras, foi o principal aliado de Serra dentro do PSDB, o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira.

Aloysio ocupava a pasta mais importante durante a gestão de Serra no governo paulista: era o chefe da Casa Civil.

Foi ele também, segundo políticos tucanos, quem indicara Paulo Preto para a diretoria de obras da Dersa, a empresa de obras viárias do governo paulista.

No governo anterior, de Geraldo Alckmin, Paulo Preto ocupava desde 2005 um diretoria sem importância, de relações institucionais.

Quando a Lava Jato começou a investigar Paulo Preto, Aloysio tentou se dissociar do seu antigo aliado.

Havia outros laços entre Aloysio e Paulo Preto. Em 2007, uma filha de Paulo Preto, a advogada Priscila de Souza, e a então mulher do então diretor da Dersa fizeram um empréstimo para Aloysio comprar um apartamento no bairro de Higienópolis, em São Paulo, conforme a Folha revelou em 2010.

A filha entrou com a maior parte do empréstimo: R$ 250 mil. À época, ela trabalhava para empreiteiras que tinham contratos com a Dersa, como a Camargo Corrêa.

Aloysio disse que quitou o empréstimo em prestações, mas não houve pagamento de juros.

Em 2014, quando foi vice de Aécio Neves na corrida presidencial, Aloysio declarou ter um patrimônio de R$ 1,85 milhão.

Ao ser questionado pela Folha, Aloysio disse o seguinte sobre a ameaça de delação e a conta: "Isso é mentira. É apenas fofoca de cadeia. Isso seguramente não aconteceu". Serra não quis se pronunciar.

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