Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Renan desiste, promete não judicializar eleição e despista sobre relação com governo

Desistência de alagoano representa vitória para o governo Bolsonaro

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Brasília

Renan Calheiros (MDB-AL) anuncia em discurso no plenário do Senado que retira sua candidatura à presidência do Senado.

O plenário do Senado vaiou quando Renan disse que o processo não era democrático e retirou a candidatura.

Segundo parlamentares, Renan retirou sua candidatura ao perceber que não teria votos suficientes para vencer neste sábado.

O estopim foi a decisão da bancada do PSDB de mostrar a cédula de votação na segunda votação. Renan alimentava a esperança de ter votos nessa bancada.

O processo de votação continua em curso, por ora, mas há pedidos de que haja uma terceira votação, já que senadores já haviam votado.

Renan saiu do plenário do meio da votação, sem falar com a imprensa.

"Não há mais objeto da eleição", disse o senador alagoano, no discurso em que acusou os adversários de fazer uma eleição antidemocrática.

Logo após desistir de sua candidatura à presidência do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL) negou que vá judicializar a eleição e deixou em aberto qual será sua relação com o governo Jair Bolsonaro, depois que um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) decidiu declarar voto em Davi Alcolumbre (DEM-AP), apoiado pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Renan fez críticas a Davi e insinuou que ele se volte contra o STF (Supremo Tribunal Federal).

"Eu retiro a postulação porque entendo que o Davi não é o Davi, é o Golias. Davi sou eu. Ele é o Golias, atropela o Congresso. O próximo passo é o Supremo Tribunal Federal sem o cabo e sem o sargento", afirmou Renan em entrevista, fazendo alusão a uma declaração de outro filho do presidente da República, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Renan criticou também o fato de Flávio Bolsonaro ter anunciado que votaria em Davi. Segundo o senador do MDB, Flávio foi pressionado a fazer isso.

"Estou saindo porque o voto foi declarado na forma do regimento como secreto. Eles abriram o voto. Na primeira votação, houve um equívoco, um voto a mais e, por conta disso, eles abriram o voto do PSDB para inibir quatro possibilidades de votos que tínhamos. Qual a lisura? E no final o filho do presidente fez questão de abrir o voto", afirmou.

Questionado se diante da operação favorável a um candidato apoiado pelo governo criaria alguma dificuldade para o Palácio do Planalto, Renan Calheiros foi evasivo.

"Não estou analisando o governo, os desdobramentos. Estou analisando o que está acontecendo contra o Senado Federal, contra a Constituição e, agora, contra o Supremo Tribunal Federal."

Indagado se havia renunciado por sentir que poderia perder, ele negou. 

Quem é Renan

Desgastado por uma trajetória política de 40 anos e marcada por polêmicas dentro e fora do plenário, Renan Calheiros (MDB-AL), 63, precisava encontrar uma maneira de se adequar ao discurso de renovação que trouxe 46 novos senadores às 54 cadeiras disponíveis.

Resiliente, criou dois personagens para ele mesmo no intuito de se reinventar depois de 24 anos de Senado e almejando presidir a Casa pela quinta vez.

Alagoano de Murici, ele define o "velho Renan", cujo mandato se encerra agora, como um "sobrevivente" e mais "estatizante", perfil que agradava os governos petistas de quem era aliado.

De olho nos novos ares e, principalmente, no apoio do governo Jair Bolsonaro, diz que o "novo Renan" é "mais liberal" e quer fazer as reformas. O discurso agrada o Palácio do Planalto, mas não passa 100% de confiança aos auxiliares de Bolsonaro.

Durante o governo de Michel Temer, com quem rompeu e depois reatou, trabalhou contra as reformas trabalhista e da Previdência —esta última prioridade também do novo governo e uma das primeiras pautas que serão discutidas pelo Legislativo neste ano.

No Senado desde 1995, Renan foi um dos oito que conseguiram renovar o mandato nas eleições que não aceitaram a volta de nomes como Eunício Oliveira (MDB-CE) e Romero Jucá (MDB-RR).

Político profissional, é conhecido por saber medir palavras e gestos. Até sair da reunião do partido que o ungiu candidato do MDB, Renan não admitia estar na disputa pela presidência do Senado.

Mas agia. Conversava por telefone e pessoalmente para conquistar votos internos contra Simone Tebet (MDB-MS), a quem derrotou, e para vencer resistências em outros partidos.

Se o movimento #foraRenan, os inquéritos que coleciona no STF (Supremo Tribunal Federal) e as constantes citações em delações da Lava Jato dificultam apoios públicos dentro e fora de seu partido, seu histórico de enfrentamento ao Judiciário em defesa dos pares funciona como ímã numa eleição em que pesa o corporativismo, por se tratar de senadores votando em senadores.

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