Em entrevista, Lula erra ao falar de seus governos e da eleição de 2018

Agência Lupa checou declarações do ex-presidente, que está preso em Curitiba

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São Paulo

Em sua primeira entrevista na prisão, concedida à Folha e ao El País na última sexta-feira (26), o ex-presidente Lula comentou ações de seu governo, a eleição de 2018 e falou sobre política na América Latina.

A Agência Lupa checou algumas das falas.

O Instituto Lula foi procurado para comentar as verificações e afirmou que não se manifestaria.

"A Previdência era superavitária no meu governo" - Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, em entrevista à Folha de S.Paulo e ao jornal El País no dia 26.abr.19
FALSO Em nenhum dos oito anos nos quais Lula governou o Brasil (2003-2010), a Previdência foi superavitária. No Regime Geral de Previdência Social, o déficit oscilou, em valores nominais, de R$ 28,2 bilhões a R$ 35,1 bilhões. Nos regimes próprios da União, incluindo os militares, o déficit foi de R$ 59,4 bilhões a R$ 86,1 bilhões. Os dados são dos Relatórios Resumidos de Execução Orçamentária do Tesouro Nacional.

"Esse cidadão aqui (...) juntou US$ 370 bilhões de reservas [internacionais]" Idem
EXAGERADO Segundo o Banco Central, em dezembro de 2010, último mês de Lula como presidente, as reservas internacionais do país estavam em US$ 288,5 bilhões. Quando Lula assumiu a Presidência, eram US$ 37,8 bilhões. O crescimento, portanto, foi de US$ 250,7 bilhões. As reservas atingiram o patamar citado por Lula no dia 19 de abril de 2012, já na gestão Dilma. 

"Eu cresci 16 pontos [em intenção de voto] aqui dentro [depois de preso, durante a campanha eleitoral]" Idem
EXAGERADO O crescimento da intenção de voto em Lula em 2018 não foi tão grande após sua prisão. A alta oscilou entre 2 e 14 pontos. Segundo o Datafolha, Lula tinha entre 34% e 37% das intenções de voto em 31 de janeiro de 2018. Em 16 de abril, nove dias após a prisão, o petista oscilava entre 30% e 31%. No dia 22 de agosto, na última pesquisa Datafolha com Lula entre os presidenciáveis, ele tinha 39% das intenções de voto. Nos levantamentos do Ibope, o petista tinha 35% das intenções de voto em outubro de 2017 —a última pesquisa antes de ele ser detido—, 33% em junho de 2018 e 37% em agosto do mesmo ano. Já o instituto Vox Populi indicava que Lula tinha 42% das intenções de voto em novembro de 2017, 56,1% em maio de 2018 e 41% em julho. 

"Em 2006, terminei meu mandato com 87% de bom e ótimo, 10% de regular e 3% de ruim e péssimo" Idem
FALSO Em 2006, quando o ex-presidente Lula encerrou o seu primeiro mandato, 52% dos brasileiros avaliaram seu governo como ótimo ou bom, 34%, como regular e 14%, como ruim ou péssimo. Os dados são do Datafolha, em 18 de dezembro de 2006. O Instituto Lula informou que o ex-presidente se referia ao fim de seu segundo mandato, em 2010. Naquele ano, o Datafolha mostrou que 83% dos brasileiros consideravam o governo Lula ótimo ou bom, 13%, regular e 4%, ruim ou péssimo. 

"O país [Peru] cresceu 5% ao ano na mão do [ex-presidente Alejandro] Toledo, do [ex-presidente] Alan García (...)" Idem
VERDADEIRO Alejandro Toledo governou o Peru entre 2001 e 2006, e Alan García o sucedeu, de 2006 a 2011. Neste período, o Peru cresceu, em média, 5,6% ao ano. No mandato de Toledo, o crescimento médio foi de 4,8%. No de García, foi de 6,6% ao ano. Os dados são do Fundo Monetário Internacional (FMI).

"(...) e eles [Toledo e Alan García] terminam o mandato com 10% de aprovação" Idem
FALSO As pesquisas do instituto Ipsos Perú de julho de 2006 e julho de 2011 mostram que Toledo (2001-2006) terminou o mandato com 33% de aprovação. García (2006-2011) teve um desempenho melhor e concluiu seu mandato com 42% de aprovação. Outro instituto de pesquisa, a Compañía Peruana de Estudios de Mercado y Opinión Pública SAC-CPI, mostra Toledo com 36,2% de aprovação e García com 46,2% de aprovação. Assim, o dado real é mais do que o dobro do citado pelo ex-presidente. 

"Em 2013, a Dilma tinha quase que 75% de preferência eleitoral neste país" Idem
EXAGERADO Em 2013, o Datafolha publicou cinco levantamentos de intenção de voto para a eleição de 2014. A ex-presidente Dilma Rousseff tinha, no máximo, 58% da preferência do eleitorado naquele ano, registrados na pesquisa feita de 20 a 21 de março. Já segundo o Ibope, o potencial máximo de votação de Dilma alcançou 60%, também em março. 

"Eu mostrei pra ele [Geraldo Alckmin] que quem tinha feito o acordo para financiar o metrô de Caracas [na Venezuela] foi o FHC" Idem
VERDADEIRO, MAS O BNDES financiou três operações para a construção do metrô de Caracas, na Venezuela —todas para a construtora Odebrecht, que executou as obras. O primeiro contrato, de fato, foi assinado durante o governo FHC, em 31 de julho de 2001, no valor de US$ 107,5 milhões. Mas os outros dois foram feitos durante a administração de Lula. Em 2004, o BNDES emprestou US$ 78 milhões ao país vizinho e, em 2009, celebrou o maior dos três contratos para a obra do metrô venezuelano, no valor de US$ 527,8 milhões. 

"[No meu governo] O Brasil quadruplicou as exportações" Idem
VERDADEIRO Em 2002, último ano do governo FHC, o Brasil exportou US$ 60,3 bilhões. Em 2011, quando Lula concluiu seu mandato, as exportações alcançaram US$ 260 bilhões. As vendas do Brasil para o exterior cresceram, portanto 4,3 vezes. Os dados são do Comex Stat, portal de estatísticas do Ministério da Economia.

"Eu tinha sido multado em R$ 32 milhões (...). O STJ diminuiu para R$ 2 milhões" Idem
VERDADEIRO, MAS Em agosto de 2018, a Justiça Federal determinou que Lula pagasse R$ 31.195.712,78 no caso do tríplex do Guarujá. O valor é dividido entre multa (R$ 1,2 milhão), reparação de danos (R$ 29,8 milhões) e custas processuais (R$ 99,32). No dia 23 de abril, o Superior Tribunal de Justiça reduziu o valor relativo à reparação para R$ 2,4 milhões. Assim, o valor total se aproxima de R$ 3,6 milhões.


Verdadeiro A informação está comprovadamente correta
Falso A informação está comprovadamente incorreta
Verdadeiro, mas A informação está correta, mas o leitor merece mais explicações
Exagerado A informação está no caminho correto, mas houve exagero

Chico Marés , Clara Becker , Maurício Moraes e Nathália Afonso
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