Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Após críticas a general, Bolsonaro diz que não regulamentará mídias sociais

Em entrevista, ministro da Secretaria de Governo criticou mau uso das redes sociais e defendeu disciplinar distorções

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Brasília

Em um novo capítulo das disputas dentro do governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou neste domingo (5) que não pretende regulamentar nem os veículos de comunicação nem as mídias sociais.

Em mensagem publicada em sua conta oficial no Twitter, ele escreveu que recomenda "um estágio na Coreia do Norte ou em Cuba" para quem defender uma espécie de controle do conteúdo divulgado.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL), que nega intenção de regulamentar mídias sociais no país
O presidente Jair Bolsonaro (PSL), que nega intenção de regulamentar mídias sociais no país - Lucio Távora - 3.mai.2019/Xinhua

"Em meu governo, a chama da democracia será mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluída as sociais. Quem achar o contrário recomendo um estágio na Coreia do Norte ou Cuba", afirmou.

A publicação, de acordo com assessores presidenciais, foi uma resposta a críticas feitas nas redes sociais a uma declaração do ministro da Secretaria de Governo, Carlos Santos Cruz.

O general é alvo de forte campanha de detração nas redes sociais, capitaneada pelo escritor Olavo de Carvalho há dias. A Secom (Secretaria de Comunicação Social) está subordinada à pasta dele. 

Santos Cruz concedeu entrevista no início de abril à rádio Jovem Pan na qual comentou sobre a necessidade de evitar distorções nas redes sociais.

Ele afirmou ainda que a influência das mídias sociais é benéfica, mas também pode "tumultuar". Para ele, é necessário ter cuidado com a sua utilização, evitando ataques e o seu uso como "arma de discórdia".

O ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, general Santos Cruz, que é alvo de críticas da família do presidente e seus aliados
O ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, general Santos Cruz, que é alvo de críticas da família do presidente e seus aliados - Pedro Ladeira - 10.jan.2019/Folhapress

"As distorções e os grupos radicais, sejam eles de uma ponta ou de outra, da ponta leste ou da ponta oeste, isso aí tem que ser tomado muito cuidado, tem que ser disciplinado. A própria legislação tem de ser melhorada", disse.

Um trecho da entrevista foi pinçado pelo humorista Danilo Gentili. Em um post também no Twitter, ele lançou dúvidas se a fala do ministro abriria caminho para a regulação das mídias sociais. 

O que se seguiu foi uma série de posts da família Bolsonaro sobre o assunto e de simpatizantes do presidente, que chegavam a pedir a saída do general do cargo.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) resgatou um discurso dele sobre o assunto e escreveu: "Mesmo ao falar de uma fake news contra Bolsonaro sempre defendemos a não regulamentação da internet ou da imprensa. A melhor pessoa para fazer esse filtro é você".

Cerca de uma hora depois, Carlos Bolsonaro, filho que acessa as redes do presidente, postou: "A internet 'livre' foi o que trouxe Bolsonaro até a Presidência e graças a ela podemos divulgar o trabalho que o governo vem fazendo! Numa democracia, respeitar as liberdades não significa ficar de quatro para a imprensa, mas sempre permitir que exista a liberdade das mídias!".

O escritor Olavo de Carvalho, um dos gurus do presidente, foi explícito ao endereçar as críticas. "Controlar a internet, Santos Cruz? Controlar a sua boca, seu merda", escreveu.

A comunicação do Palácio do Planalto tem sido palco desde o início do governo de uma disputa entre o núcleo militar e os chamados "olavistas", seguidores do escritor.

No mês passado, Santos Cruz desautorizou pedido feita pela Secom para que as empresas estatais enviassem para avaliação prévia propagandas de perfil mercadológico.

O gesto foi interpretado por assessores palacianos como a primeira crise entre o militar e o empresário Fábio Wajngarten, que assumiu recentemente a Secom na tentativa de melhorar a comunicação do governo.

Funeral

Mais cedo, durante a tarde, Bolsonaro compareceu ao enterro da mãe de um ex-assessor no cemitério Campo da Esperança, em Brasília. Antes, cumprimentou apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência.

O enterro foi da mãe do ex-assessor Eduardo Guimarães, Teresa Cristina. Guimarães assessorou Bolsonaro na Câmara dos Deputados até o ano passado. No enterro, o presidente se emocionou, ficou abraçado à família e não falou com jornalistas.

Em frente ao Alvorada, antes de ir para o cemitério, Bolsonaro foi questionado por jornalistas sobre se desistiu de ir a Nova York por causa das críticas feitas a ele pelo prefeito da cidade, Bill de Blasio.

O presidente respondeu apenas que vai aos Estados Unidos, mas não disse em qual data nem em quais circunstâncias.

Bolsonaro também disse a um apoiador, em frente ao palácio, que na próxima terça-feira (7) vai assinar um decreto sobre munição.

Ataques

Santos Cruz sofreu novos ataques de governistas e do próprio Olavo de Carvalho, e seus seguidores, neste domingo (5).

O ministro Sergio Moro (Justiça) fez críticas às declarações do ministro, sem mencioná-lo, em suas redes sociais e comparou o controle social sugerido à censura. 

"Bom lembrar que não fosse a vitória eleitoral do PR Jair Bolsonaro, estaríamos hoje sob 'controle social' da mídia e do Judiciário e que estava expresso no programa da oposição 'democrática'. Aliás, @jairbolsonaro reafirmou hoje o compromisso com a liberdade da palavra", escreveu. 

"Tal liberdade não abrange ameaças. Não significa também que concordo com excessos ou ofensas a quem quer que seja, mas apenas que, para essas, não acredito que o remédio seja a censura", concluiu o ministro.

Já Olavo de Carvalho publicou um vídeo, editado por um de seus seguidores, com parte de uma palestra feita pelo general quando ele era secretário nacional de segurança pública, no governo do ex-presidente Michel Temer. O vídeo termina pedindo a renúncia do ministro.

No trecho selecionado, Santos Cruz afirma que a política de segurança pública tem que ser feita consultando a sociedade por meio do Conasp (Conselho Nacional de Segurança Pública). Ele enumera alguns de seus membros, entre os quais movimentos sociais que defendem negros, homossexuais e ONGs que estudam o tema da violência urbana.

O vídeo foi editado para salientar a parte em que ele elenca a participação destes movimentos sociais, cuja atuação é alvo de crítica de Bolsonaro e seus aliados. 

"Tudo isso daí faz um bolo que tem que ser reunido ou de alguma outra forma consultado. Nós vamos fazer isso, vamos abrir um site, vamos fazer uma primeira reunião e [receber] contribuição através de outras colaborações para estabelecer a política nacional de segurança pública", diz Santos Cruz. 

As palavras receberam o fundo de uma música fúnebre e a legenda "tomara que Bolsonaro não permita isso".

No original, Santos Cruz mencionara ainda a participação de membros das forças de segurança da União, dos Estados e dos municípios, mas essa parte foi suprimida.

A palestra do ministro é verdadeira e ocorreu em maio de 2017, diferentemente da informação propalada por Olavo e seus seguidores, dando conta de que teria sido feita em fevereiro de 2018.

Santos Cruz falou em seminário organizado pela Escola de Comando e Estado Maior do Exército sobre a estrutura de governança da segurança pública no governo e as iniciativas para a implantação do Sistema Único de Segurança. 

O Conasp foi criado em 1997 e, em 2009, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ampliado para incorporar representantes da sociedade civil e adquirir caráter deliberativo, mas entrou em desuso. A última reunião do conselho registrada em ata, no site do Ministério da Justiça, ocorreu em 2015. 

Em meio à crise, Santos Cruz esteve no Palácio da Alvorada na noite deste domingo para uma reunião que entrou de última hora na agenda do presidente. 

O encontro durou cerca de uma hora e meia. Santos Cruz deixou o palácio sem falar com a imprensa.

Colaboraram Natália Cancian, Mariana Carneiro e Reynaldo Turollo Jr., de Brasília

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