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PT endossa tese de Lula por candidatos próprios e tenta evitar prévias em SP

Partido articula presença forte na campanha municipal de outubro para 'defender legado' e fortalecer novos quadros

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São Paulo

Assombrado pelo fantasma da derrota nas eleições de 2016 e 2018, o PT reforçou nesta sexta-feira (17) a orientação de lançar o maior número de candidaturas próprias nas eleições municipais deste ano. Em São Paulo, onde carece de nomes fortes, a sigla trabalha para evitar prévias e impedir rachas.

A legenda reuniu seus principais dirigentes e líderes em um hotel na região central de São Paulo para uma reunião a portas fechadas. O encontro marcou também a posse da deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) para mais um mandato na presidência do PT.

Lula e Dilma Rousseff compareceram, mas os discursos deles não puderam ser acompanhados pela imprensa. Segundo Gleisi, o ex-presidente reiterou a tese de que o partido tenha protagonismo nos pleitos municipais e intensifique a oposição ao governo Jair Bolsonaro (sem partido).

O ex-presidente Lula durante reunião do diretório nacional do PT em São Paulo nesta sexta (17)
O ex-presidente Lula durante reunião do diretório nacional do PT em São Paulo nesta sexta (17) - Zanone Fraissat/Folhapress

"O que nós reafirmamos é que o PT deve priorizar o lançamento de candidaturas na maioria dos municípios", disse Gleisi.

Segundo a deputada, o momento deve ser aproveitado para aproximar a sigla da sociedade. "Defender o nosso legado, falar o que está acontecendo no Brasil, disputar as nossas ideias."

Alianças, porém, não estão descartadas. A regra sobre candidatos da casa poderá ser flexibilizada de acordo com cenários locais, mas a ordem é privilegiar nomes petistas, principalmente em grandes cidades e capitais.

De acordo com Gleisi, as composições deverão ser fechadas com partidos que estejam na mesma trincheira do PT. "O que vai demarcar nosso campo de aliança é a posição contra o governo Bolsonaro, a extrema direita e o pacote liberal que tentam implantar no país."

Na capital paulista, o cenário está indefinido, sem nomes considerados competitivos. O ex-prefeito Fernando Haddad, que tentou a Presidência em 2018, tem dito que não quer concorrer novamente ao governo municipal.

Haddad é visto internamente como o representante natural para disputar a sucessão de Bolsonaro, que derrotou o petista no segundo turno.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e a ex-presidente Dilma durante reunião do diretório nacional do partido em São Paulo
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e a ex-presidente Dilma durante reunião do diretório nacional do partido em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

O PT tem seis pré-candidatos em São Paulo: os deputados federais Carlos Zarattini, Paulo Teixeira e Alexandre Padilha, o ex-deputado Jilmar Tatto, o vereador Eduardo Suplicy e o ex-vereador Nabil Bonduki.

Tatto é hoje o que mais se movimenta para ficar com a vaga. Ele goza de força nas instâncias partidárias, mas seu nome é visto com ressalvas por adversários internos e parte da militância. Há dúvidas sobre sua capacidade de enfrentar nas urnas apadrinhados de Bolsonaro e do governador João Doria (PSDB).

De acordo com Gleisi, a meta é buscar na cidade um nome de consenso. "O nosso esforço é para demover o diretório municipal de fazer prévias, e os pré-candidatos também. Nós queremos chegar a um nível de unidade."

Um acordo impediria, na visão de filiados, que eventual divisão no processo de escolha provoque atritos desnecessários e comprometa a coesão para a batalha de outubro.

"Pode ser que nesse trabalho, nessa conversa ou nas prévias surjam outros nomes", disse Gleisi, sem mencionar se há mais cotados. Há alguns dias, durante entrevista, Lula falou que ainda pode surgir uma novidade para a disputa, indicando que outras opções são avaliadas.

Uma ala da legenda trabalha pela reaproximação com a ex-petista Marta Suplicy, que tem a intenção de apoiar alguma candidatura no campo da centro-esquerda em outubro. Ela está sem filiação e dialoga com PDT e Solidariedade. O retorno ao PT é praticamente descartado.

Como informou o Painel, Lula está diretamente envolvido na definição do quadro em São Paulo e está atuando para que o candidato seja escolhido nas próximas semanas.

A decisão de priorizar nomes próprios incomoda alas de legendas como PC do B, PSB e PSOL, que veem na diretriz petista um conflito com a pauta de união da esquerda para o combate ao avanço da direita e do conservadorismo no Brasil.

Gleisi admitiu que o calendário do PT para as definições eleitorais está atrasado. A expectativa era que na reunião desta sexta a sigla avançasse em conversas sobre o quadro eleitoral pelo país.

O debate, porém, foi transferido para fevereiro, quando o partido fará no Rio um evento para comemorar seus 40 anos.

Para a ocasião está programada ainda uma mesa sobre a perspectiva das agremiações de esquerda no país. Segundo Gleisi, a discussão terá a presença de representantes de PT, PDT, PSB, PC do B e PSOL.

Nas eleições municipais de 2016, o PT perdeu mais de metade das cidades que administrava. Naquele ano, o partido foi o que mais encolheu, indo de para 630 prefeituras para 256.

Nesta sexta, a presidente do PT buscou se mostrar otimista e disse esperar que o número de eleitos aumente. "O quadro é diferente, a posição do partido já é diferente, recuperou muito a relação com a sociedade."

"Estamos num processo de renovação [de lideranças], de transição de quadros. Em muitos municípios, nós vamos ter candidaturas novas, que podem se eleger ou podem se fortalecer para as eleições seguintes."

Segundo a dirigente, Lula repetiu aos correligionários a orientação de fazer "oposição sistemática e contundente" a Bolsonaro, que faz, nas palavras dela, um "governo de desconstrução nacional".

"Nós não podemos nos esquecer de quem nós defendemos, que é a população pobre deste país. Temos que defender os direitos do povo", enfatizou Gleisi, ao ser questionada sobre o discurso do ex-presidente na reunião.

No encontro também foi empossado o novo diretório nacional, que tem Gleisi à frente e foi escolhido em novembro, e houve a eleição da nova executiva do partido.

As cinco cadeiras de vice-presidente serão ocupadas pelo deputado federal José Guimarães (CE), pelos ex-deputados Márcio Macedo (SE) e Zé Geraldo (PA), pelo ex-ministro Luiz Dulci e pelo ex- prefeito de Maricá (RJ) Washington Quaquá.

Para a secretaria de finanças foi escolhida Gleide Andrade (MG), até então secretária de organização. Os deputados federais Paulo Teixeira (SP) e Maria do Rosário (RS) também compõem a executiva, o primeiro como secretário-geral e a segunda como responsável pela formação política.

O PT, em nota, afirmou que os nomes dos dirigentes "confirmam o caráter amplo e plural da legenda" e que, com a definição, a sigla "encerra mais uma etapa de sua trajetória, já de olho nos próximos enfrentamentos que estarão por vir".

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