Grupos bolsonaristas negam autoritarismo, mas dizem não ter controle total sobre atos

Nas redes sociais, porém, seguidores falam em fim do Supremo e defendem novo AI-5

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São Paulo

​Em meio à repercussão negativa do endosso do presidente Jair Bolsonaro às manifestações contra o Congresso no próximo dia 15, movimentos que organizam os atos afirmam que não defendem pautas autoritárias, como o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal) ou intervenção militar.

No entanto, alegam que não têm como controlar as pessoas que se posicionam a favor desses temas em suas redes sociais ou nas ruas.

Apesar de não ser o posicionamento dos organizadores dos movimentos, nas redes a discussão avança entre os seguidores e chega a temas como o fim do Supremo e a defesa de um novo AI-5, ato que iniciou o período mais repressivo da ditadura militar.

A manifestação convocada para capitais de todo o país é capitaneada por movimentos bolsonaristas como o Nas Ruas, Avança Brasil, Do Povo Brasileiro e outros com nomes similares, como Brasil Conservador, São Paulo Conservador e Movimento Conservador.

Todos têm dito que a principal pauta é a defesa das bandeiras do governo Bolsonaro, que para eles vem sendo impedido de governar pelo Congresso. Pedem, por exemplo, "não ao parlamentarismo branco" e "não à chantagem do Congresso".

Movimentos menores que pregam abertamente o AI-5, como um chamado Patriotas Lobos nas Ruas, têm dito que não vão à manifestação porque acham que os grupos de direita só querem "levantar seus representantes para entrar na política".

Os atos estavam previstos desde o fim de janeiro com a bandeira da defesa da prisão após a condenação em segunda instância, mas acabou mudando de pauta para apoio a Bolsonaro e encorpando insinuações autoritárias.

A convocação foi reforçada após a fala do general Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), em que acusou o Legislativo de fazer chantagem.

"Não podemos aceitar esses caras [parlamentares] chantageando a gente", disse, em frase captada em transmissão ao vivo do Palácio do Planalto.

A fala de Heleno aconteceu em um momento em que o governo tinha dificuldade em chegar a um acordo sobre a divisão do dinheiro dentro do chamado Orçamento impositivo e vinha em atritos com o Congresso.

Um dos defensores de Bolsonaro na Câmara, deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), acredita que o Legislativo deve ser a entidade mais cobrada nos atos. 

Para ele, o objetivo da manifestação deve ser "mostrar para o Congresso que a população está de olho, que quer que o governo execute os seus planos e que o Congresso seja amigo do governo nesse processo".

"O Congresso surrupiou R$ 30 bilhões e removeu das contas do Executivo, que já estavam comprometidos com um volume de gastos. Não é um golpe ainda, mas uma tentativa de enquadrar o Executivo numa sinuca", afirma Luiz Philippe. 

Ele vê "uma mobilização no Congresso de partidos, deputados e senadores, que bolaram uma estratégia para enquadrar um possível pedido de impeachment".

Os líderes dos movimentos que irão às ruas no dia 15 também pretendem concentrar suas críticas nos entraves que o Congresso impõe para aprovar temas caros ao Executivo.

Edson Salomão, que coordena o Movimento Conservador, afirma que o atual presidente é o "que mais sofreu derrubada de vetos pelo Congresso" e cita episódios como a "retaliação ao pacote anticrime" e a perda de validade da medida provisória que criou a carteira de estudante digital.

Salomão ressalta que nunca foi a bandeira do seu movimento a defesa de medidas autoritárias. "Nós sempre repudiamos intervenção militar, nós somos contra a intervenção militar, nós somos contra qualquer tipo de atitude de invasão de Congresso, sempre repudiamos isso", afirma. 

"Agora, se você está nas redes sociais e faz uma publicação convocando o povo para ir às ruas para demonstrar apoio a Jair Bolsonaro, qualquer pessoa entra e comenta o que quiser. Eu não tenho controle sobre isso".

Ele também diz que os movimentos não devem ser responsabilizados pelos posicionamentos das pessoas que vão a manifestações defendendo esses temas, como vem ocorrendo nos últimos anos. 

"Eu vou colocar cabresto nas pessoas? Não queiram responsabilizar os movimentos pelos indivíduos que vão às ruas e falam qualquer besteira e aí [dizer que] 'é o movimento que está incitando isso'. Nós vamos com a nossa proposta nas ruas, mas ela é aberta e vai qualquer pessoa."

Ted Martins, integrante do Movimento São Paulo Conservador, lembra que as manifestações já estavam marcadas antes da fala do general Heleno e que a reivindicação inicial era a prisão após condenação em segunda instância.

"Como essa pauta não emplacou, e em virtude dos últimos acontecimentos, nós decidimos, principalmente pelos áudios vazados do general Heleno, entendemos que neste momento seria importante nós irmos para as ruas demonstrar o nosso apoio ao presidente Jair Bolsonaro", afirma ele.

Da forma que as instituições estão operando, diz Martins, elas estão disfuncionais. Para ele, a culpa não recai sobre o presidente, cujos "atos, que são republicanos, precisam ser respeitados", mas sobre os outros Poderes.

"Por anos, [o Congresso] está viciado em um modelo de governo, de Parlamento, de relacionamento com os demais Poderes. Há um vício, ele precisa tomar um choque de realidade. Afinal de contas, o Bolsonaro representa a ruptura de um sistema todo", diz.

Cargos de confiança a políticos do DEM e do MDB seriam as provas de que o presidente está disposto a dialogar.

"O DEM, partido do presidente da Câmara Rodrigo Maia, é o partido que tem os ministérios mais privilegiados. O líder do governo no Senado é do MDB. Então você vê que, por parte do governo, há uma disposição para sentar e dialogar."

Quando questionado sobre eventuais manifestações autoritárias durante o ato, diz que "não tem como controlar o comportamento dos indivíduos".

"Se alguém aparecer com esse tipo de comportamento e causar tumulto, nós chamaremos a polícia e pediremos, educadamente, para a pessoa se retirar", afirma ele.

Davy Albuquerque, fundador do Movimento Brasil Conservador, diz que é ativo nas redes sociais e viu poucas manifestações autoritárias na internet. Ele vê o Congresso como "um grande entrave para o presidente" e diz ser necessário dar legitimidade a Bolsonaro e pressionar os parlamentares que estariam "contra o povo".

"Legitimidade qualquer pessoa, qualquer político, precisa o tempo inteiro. Não é só no primeiro ano do mandato, no segundo, é o tempo inteiro. A partir do momento que ele perde a legitimidade, ele perde o real motivo de estar no cargo em que ele está", afirma.

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