Miliciano ligado a Flávio Bolsonaro foi morto com dois tiros no tórax, aponta laudo

Adriano da Nóbrega morreu em operação policial na Bahia que contou com apoio de agentes do RJ

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Salvador

O miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, 43, ligado ao senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), foi morto com dois tiros na região do tórax, aponta laudo do Departamento de Polícia Técnica da Bahia.

Apontado como integrante de uma milícia do Rio de Janeiro, Adriano foi morto pela polícia em uma operação realizada no último domingo (9) na cidade de Esplanada (170 km de Salvador). Ele foi encontrado escondido em um sítio na zona rural da cidade.

O laudo necroscópico, divulgado na tarde desta quarta-feira (12) pela Secretaria de Segurança da Bahia, aponta que os tiros causaram lesões no tórax, no pescoço e na clavícula de Adriano, além de quebrar sete costelas.

 

Os tiros foram dados de frente. Um deles seguiu a trajetória de baixo para cima e o outro de cima para baixo. Um dos projéteis atravessou o corpo de Adriano. O outro ficou retido no corpo e foi encaminhado para um exame de balística.

O laudo ainda apontou que Adriano morreu de anemia aguda e politraumatismo causado por “instrumento de ação perfuro-contundente”, equivalente a uma arma de fogo.

O Departamento de Polícia Técnica também vai periciar o escudo à prova de balas utilizado pelos policiais na operação policial.

 
Escudo usado por policiais do Bope da Bahia na operação que matou miliciano Adriano da Nóbrega passa por perícia
Escudo usado por policiais do Bope da Bahia na operação que matou miliciano Adriano da Nóbrega - Alberto Maraux / SSP-BA

De acordo com o diretor do Departamento de Polícia Técnica da Bahia, Élson Jefferson, é possível identificar duas marcas “provenientes de impactos relevantes” no escudo. As equipes da Polícia Técnica vão analisar a existência de vestígios de chumbo ou cobre no equipamento.

Em depoimento, os policiais que participaram da ação relataram que o escudo evitou que dois disparos de arma de fogo os atingissem.

Nos próximos dias, a polícia deve aprofundar as investigações para a possível participação de outras pessoas na rede de apoio que teria ajudado o ex-policial em sua fuga. Até o momento, o único suspeito de ter ajudado o miliciano é o pecuarista Leandro Guimarães, que o hospedou em sua fazenda.

Guimarães foi preso por porte ilegal de armas durante a operação que resultou na morte de Adriano, mas teve a sua prisão relaxada pela Justiça nesta terça-feira (11) mediante fiança e uso de tornozeleira eletrônica. Ele também será investigado por associação criminosa e favorecimento pessoal.

Em depoimento à polícia, Guimarães afirmou que, na véspera da operação policial, foi ameaçado por Adriano para que o ajudasse a se esconder no sítio de Gilsinho de Dedé —este último, que é vereador de Esplanada pelo PSL, alega que não conhece Adriano e teve o seu sítio invadido pelo ex-policial.

Guimarães ainda disse que conhecia o ex-PM do circuito de vaquejadas na Bahia e Sergipe e afirmou não ter conhecimento do passado de crimes do miliciano.

Um documento obtido pela revista Crusoé, contudo, contradiz a versão do pecuarista. O documento aponta que, em outubro de 2019, Leandro foi arrolado como testemunha de defesa em uma ação penal na qual Adriano era réu sob acusação de comandar a milícia de Rio das Pedras, no Rio. O pecuarista chegou a ser notificado a depor no caso.

O secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, informou que haverá um inquérito da Corregedoria da Polícia Militar para apurar as circunstâncias da morte do miliciano.

Ele pediu respeito ao trabalho da polícia, “que se colocou em perigo para cumprir o mandado”. Para Barbosa, se o desfecho da operação não foi o esperado, “pelo menos, não se está lamentando a morte de nenhum policial”.

"Colocamos a investigação à disposição de quem quer que seja, para refutar, completamente, o aspecto político que estão querendo dar a uma ação típica de polícia", afirmou, em uma gravação.

Homenageado duas vezes na Assembleia Legislativa do Rio por Flávio Bolsonaro, Adriano é citado na investigação que apura a prática de um esquema de devolução de salários no gabinete do então deputado estadual. O miliciano teve duas parentes nomeadas por Flávio.

Nesta quarta, o senador falou pela primeira vez sobre a morte de Adriano em publicação nas redes sociais. 

"DENÚNCIA! Acaba de chegar a meu conhecimento que há pessoas acelerando a cremação de Adriano da Nóbrega para sumir com as evidências de que ele foi brutalmente assassinado na Bahia. Rogo às autoridades competentes que impeçam isso e elucidem o que de fato houve", escreveu. ​

A Justiça do Rio de Janeiro impediu na madrugada desta quarta a cremação, solicitada pela mãe e pelas irmãs do ex-policial. A cerimônia estava marcada para as 10h no Crematório do Memorial do Carmo, mas foi cancelada.

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