Relatora pede investigação da PGR sobre mentiras em CPMI no Congresso

Deputada Lídice da Mata diz que ex-funcionário de empresa de disparos de mensagens descumpriu a lei ao mentir à comissão

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Brasília

A relatora da CPMI das Fake News, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), acusa Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário de uma empresa de disparos de mensagens em massa, de ter mentido em seu depoimento à comissão parlamentar de inquérito e pede que a Procuradoria-Geral da República investigue o caso.

As informações estão em representação protocolada junto ao Ministério Público nesta quinta-feira (13). O documento é assinado também por outros parlamentares, como os deputados federais Alessandro Molon (PSB-RJ), Luizianne Lins (PT-CE), Tulio Gadelha (PDT-PE), Paulo Ramos (PDT-RJ), Natália Bonavides (PT-RN) e Rui Falcão (PT-SP).

No pedido, Lídice afirma que Hans “apresentou diversas informações que, posteriormente, viriam a se mostrar inconsistentes ou inverídicas”. Além disso, continua, a testemunha se recusou a prestar informações quando questionado pelos membros da comissão.

A deputada lembra que o Código Penal estabelece que é crime, punível com reclusão de dois a quatro anos e multa, “fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral”.

Hans River do Rio Nascimento (à esq.) durante depoimento à CPMI das Fake News no Congresso
Hans River do Rio Nascimento (à esq.) durante depoimento à CPMI das Fake News no Congresso - Jane de Araújo - 11.fev.20/Agência Senado

Hans, afirma Lídice, descumpriu a lei ao fazer afirmações falsas, negar e calar a verdade perante a comissão. “Isto posto, requeremos o recebimento da presente representação, para que, ao final, as medidas legais sejam devidamente tomadas", afirma ela.

Na peça, a deputada cita alguns exemplos de informações inverídicas prestadas por Hans durante o depoimento, como a afirmação de que não encaminhou qualquer documento à Folha.

O jornal publicou reportagem contestando ponto a ponto as mentiras ditas pelo ex-funcionário da agência de marketing digital Yacows aos membros da CPMI.

Lídice menciona ainda outras declarações, como uma em que Hans dizia ter trabalhado para a campanha de um político em 2018 —José Police Neto foi eleito vereador em São Paulo em 2016, conforme dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu nesta quarta-feira (12) que Hans seja punido por “difamação e sexismo”.

Outros parlamentares também repudiaram o falso testemunho prestado durante a CPMI. O presidente da comissão, senador Angelo Coronel (PSD-BA), apresentou um requerimento para reconvocá-lo. O pedido será votado na próxima semana pelo plenário da comissão.

Também nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro falou pela primeira vez sobre o tema. Em um evento com estudantes, disse a eles: "Vocês viram o cara [Hans] depondo na CPMI da Fake News, o que ele falou da repórter da Folha? Que vergonha. A Folha foi pra cima do cara. Quando falam de mim, qualquer coisa é verdade. A imprensa tem que vender a verdade, não pode dar opinião".

​Hans trabalhou para a Yacows durante a campanha eleitoral de 2018.

Em dezembro daquele ano, reportagem da Folha, baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos de Hans, mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.

Na ocasião, a Folha falou diversas vezes com Hans, que também era autor de uma ação trabalhista contra a Yacows.

Nas primeiras conversas, ocorridas a partir de 19 de novembro de 2018 e gravadas, ele disse que não sabia quais campanhas se valeram da fraude, mas reafirmou o conteúdo dos autos e respondeu a perguntas feitas pela reportagem.

Hans foi até a Redação da Folha para uma segunda entrevista com Campos Mello, desta vez acompanhada do repórter Artur Rodrigues. No dia 23 daquele mês, os dois jornalistas foram até a Yacows pedir um posicionamento da empresa.

Dois dias depois, Hans afirmou em troca de mensagens com a repórter que mudou de ideia e desiste de participar da reportagem. No dia 27, o advogado do ex-funcionário entra com petição de acordo trabalhista com a Yacows.

Em seu depoimento à CPMI,  dar informações falsas à CPI, Hans insultou Patrícia.

"Quando eu cheguei na Folha de S.Paulo, quando ela [repórter] escutou a negativa, o distrato que eu dei e deixei claro que não fazia parte do meu interesse, a pessoa querer um determinado tipo de matéria a troco de sexo, que não era a minha intenção, que a minha intenção era ser ouvido a respeito do meu livro, entendeu?", disse no Congresso.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, aproveitou a fala de Hans para difundir ofensas e fazer insinuações contra a repórter da Folha, tanto no Congresso como em suas redes sociais.

"Eu não duvido que a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, é o que a Dilma Rousseff falava: fazer o diabo pelo poder", afirmou Eduardo.

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